Marko está sentado em uma cadeira fria de metal, frente a uma porta fechada. Sem saber o que o espera, teme a morte. A porta se abre, e uma mulher vestida socialmente, com cabelos curtos e pretos que contrastam com sua pele incrivelmente pálida surge, o convidando a entrar.
Ele está assustado porque sabe que cometeu um erro muito grave, mas se levanta e acompanha a mulher por um corredor com várias portas e param frente a uma delas, abrindo-a. Para sua surpresa, os oficiais das mais altas patentes o aguardavam em um círculo em suas cadeiras brancas. Dentre eles seu mentor e amigo Orlam, que o ensinou tudo o que sabe e o tinha como filho. Então Marko caminha até o centro do círculo de cadeiras.
Orlam com sua voz poderosa, pede para que tragam a criança. Um soldado entra com um bebê em uma cápsula e entrega a ele. Uma lágrima discreta tenta escapar de seus olhos, após um longo suspiro diz:
- Marko você provavelmente estaria morto agora por seus atos se não fosse pelo seu histórico heroico. Então o conselho optou por não o punir tão severamente e iremos apenas envia-lo a brasil ll. O jovem fica catatônico. Este planeta já está em guerra com a federação há dezenas de anos. Sendo um homem que matou tantos rebeldes seria alvo fácil, ainda mais tendo a aparência tão diferente dos que viviam por lá.
- Elimine este bebê, esqueça aquela mulher e continuará sendo um de nossos homens – O silêncio se espalha pela sala e a tensão aumenta com todos os olhares voltados a Marko. Orlam parece assustado e apreensivo com a possível decisão do rapaz.
- Eu jamais mataria um bebê – Estas palavras foram as únicas do rapaz. Orlam solta um sorriso tímido e acena positivamente com a cabeça.
- Podem leva-lo, ele escolheu a morte! – exclama Toguri. Um dos oficiais mais sádicos de toda a ordem, com uma gargalhada desnecessariamente alta.
Dois soldados levam o jovem pelos braços e saem da sala, a mulher ainda está lá fora, e os guia até outra porta. Antes de ser aberta, Marko é golpeado pelo grandalhão que o levava e cai desacordado ao chão.
Ao abrir os olhos percebe que está sendo transportado por mercenários e olha ao redor por alguns segundos. Um homem magro com uns 3 metros de altura e pele alaranjada, o soca bem no nariz quebrando-o.
Marko cai na gargalhada, todos os tripulantes vêm em sua direção com andar ameaçador, um deles tem uma chave com um longo corpo de metal e começa a bate-la nas estruturas da nave fazendo o som ecoar por ela.
- Você tem um senso de humor estranho – diz o homem se aproximando e batendo com violência ao lado de sua cabeça, chegando ainda mais perto do ouvido dele diz:
– Você é muito corajoso para alguém que está acorrent... – O homem para a frase e cai ao chão, ninguém entende o que está acontecendo, até Marko soltar a garganta do valentão no chão.
- Ele matou o capitão com uma só mão e amarrado!? Todos congelam por uns instantes, mas ao perceberem que suas vidas dependem do fim da vida do passageiro, vão para cima dele e em instantes todos estão ao chão. O som do bebê chorando a todos os pulmões começa a ficar mais claro conforme a adrenalina diminui.
- Agora somos só nós dois contra o mundo – Diz Marko afagando a criança na tentativa de acalma-lo. Caminha com ela no colo até a cabine de controle para mudar sua rota, mas chegando lá, vê um homem tentando se esconder atrás de um painel de comando, tremendo e gemendo de medo.
- Por favor não me mate, por favor não me mate, por favor não me mate, eu sou apenas o piloto, essa é minha primeira viagem.
Ao perceber que se trata de um garoto, acaba sentindo pena, bom, ele também precisa de um copiloto.
- Então sente-se aqui e mude a trajetória para Copenhagen, não sei como eles ainda conseguem manter a paz, mas conseguem.
- Como você caiu nessa, rapaz? Pergunta Marko ao jovem tremulo.
- Eu sou piloto da federação senhor, recebi a ordem de pilotar essa nave. Me disseram que seria transporte de alto risco, mas que teriam homens capacitados para conter o problema, e aqui estou eu – ambos riem um pouco, quebrando o clima de tensão.
- Meu nome é Marko, não me chame de senhor, era assim que eu chamava os homens que me colocaram nessa.
- O meu é Hedrís sen... Marko. Agora vamos dar o salto. A nave já concluiu todos os cálculos, temos que entrar nas cápsulas.
- Você primeiro, e se chegarmos em qualquer lugar que não seja onde eu ordenei, seu futuro será o mesmo – Diz Marko, apontando para o local onde estavam os corpos dos mercenários.
A cápsula se abre e os dois saem. Árvores gigantescas quebradas em meio a uma floresta densa, é tudo o que podem ver do interior da nave.
- Vou avaliar o perímetro – Marko sai da nave e Hedrís vê a oportunidade da fuga.
O jovem sai correndo, desesperado entre as árvores por uns 30 minutos. Então para, frente a uma corrente d'água. Senta exausto, em uma grande rocha e começa a se refrescar. A pedra se move assustando o rapaz que se levanta. Da uns chutes nela e ouve um grunhido agudo tão alto que faz parecer que sua cabeça irá explodir. Cai no chão com as mãos nos ouvidos.
A pedra se levanta, mostrando ser um animal que lembra uma tartaruga com um pescoço longo e braços que pareciam de um urso com aproximadamente três metros de altura.
O Jovem dispara na corrida, mas o animal é mais rápido que ele e acerta uma patada violenta que o arremessa contra uma árvore. A criatura se aproxima de seu rosto soltando seu grunhido incomodo. Então sua cabeça explode e o jovem desmaia.
Os olhos se abrem e ele está em uma cabana, tudo que seus olhos conseguem identificar ainda embaçados é a presença de uma mulher baixa e robusta cozinhando algo. Suas costelas doem absurdamente então ele acaba gemendo de dor, a mulher se aproxima e fala com ele, mas não consegue entender nada. É outro idioma e ele só conhecia o seu.
Através de gestos tentam se comunicar, seus olhos já veem com nitidez uma arma de cano longo encostada na parede e a carcaça do animal pendurada do lado de fora.
Três dias se passam e o rapaz já se sente melhor. Decide sair para tentar encontrar uma solução para o seu problema. A gravidade é maior, fazendo-o se cansar mais rápido e dificultando a melhora das costelas quebradas.
Caminhando entre as ruas do pequeno vilarejo que situa a cabana de sua salvadora, sempre com o braço protegendo as costelas, encontra o que parece ser um bar. Ao entrar, nota que todos os olhares se voltam a ele, e nenhum deles parece ser amigável. Tudo ali é consideravelmente pequeno, inclusive as pessoas que não parecem ter mais que um metro e quarenta.
Com seu longo, grosso e grisalho bigode, o homem atrás do balcão demonstra uma enorme ira ao ver o jovem. Quando olha ao redor todos que estão a sua volta são pequenos, mas muito fortes. Sua estrutura muscular é absurda e Hedrís sabe que não tem chances. Começa a caminhar para trás e cai com a rasteira que um dos homens aplica. Todos começam a espanca-lo.
A mulher desconhecida que o havia salvo, entra pela porta gritando algo, mas o jovem já está quase inconsciente, sua visão começa a escurecer e vê que todos estão batendo na mulher também. Seus olhos piscam lentamente e a cada piscada ele vê sangue e mais sangue no chão. Corpos começam a cair e ele apaga.
Ao acordar percebe estar na nave novamente, na cápsula de regeneração, e a mulher está o observando através do vidro. Marko surge sem camisa tomando algo em uma caneca de metal.
- Tudo bem meu amigo? Não devia ter saído assim por aí, pousamos em um lugar perigoso. Que bom que encontrou uma amiga, ou já estaria morto.
Então Marko se vira, caminha até a porta da sala e ouve o jovem:
- Essa tatuagem... Você é um pacificador?
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Remanescentes
Science FictionUma historia de ficção cientifica em um futuro distópico, Marko não imagina a aventura épica que esta prestes a iniciar.