TUDO QUE O MESTRE MANDAR

Prólogo

Samara

Aquilo não era uma boa ideia.

Definitivamente não.

Gabriela era uma ótima amiga, mas tinha compulsão por moda e sempre que tinha oportunidade, ela fazia de mim uma boneca Suzie e por mais que eu fosse vaidosa, até pra mim é um tamanho exagero. Nunca gostei da boneca Barbie, embora eu ouça com frequência que eu pareça com uma, a Suzie sempre me pareceu mais...auto-suficiente. A Suzie viajava para o Hawai nos comerciais e era aeromoça, e a barbie ? Ah, a Barbie só tinha o Ken, e eu nunca gostei muito do Ken, sabe ? Porque todos os homens que passaram por mim, me deram motivos suficientes para acreditar que os melhores momentos da minha vida seria sem eles, e foi nisso que passei a acreditar, que homens eram apenas degraus, para seja lá o que eu quisesse, dinheiro, ascensão profissional ou reconhecimento.

— Cassete, Sam ! Você tá gostosa demais! — Embora amigas, o olhar de Gabriela em mim é totalmente masculino, e se ela não fosse tão feminina, eu diria que havia se tornado bissexual.

— Acho que você exagerou dessa vez! — Eu repeti novamente, mas dessa vez não foi mentalmente.

— Você fica tanto tempo vestida nesses pedaços de roupas velhas quando está trabalhando no jornal que sequer consegue me agradecer quando eu te visto como uma mulher de verdade.

— Gostaria que eu fosse trabalhar com "isso" ? — Eu aponto para a roupa que veste meu corpo, ou melhor, aperta meu corpo, não exageradamente, mas o suficiente pra que eu me sinta como um frango ensacado na sessão de congelados do supermercado. Talvez seja porque minhas roupas cotidianas são confortáveis o suficiente para sobrar muito espaço entre minha pele e o tecido.

Sem chance, Gabriela era louca, ou talvez a definição de louca fosse pouca coisa para ela. Gabriela era o tipo de amiga que toparia ir nadando da praia do leblon até o monte Everest mesmo sabendo que aquilo era "Impossível", era o tipo de mulher independente o suficiente para não depender de homem algum ou se importar com conotações sexuais que faziam sobre ela por andar no alto do vidigal com um salto alto rosa choque de vários centímetros durante as primeiras horas da manhã.

Gabriela não era só minha melhor amiga, Gabriela era meu passarinho, ou como titulavam no jornal onde eu trabalhava, era minha informante.

— Não pedi que trabalhasse assim, mas que se divertisse assim. — Observo seus olhos ainda sobre cada canto de mim e aproveito pra tentar ajeitar a roupa. Incomodada não é a palavra certa, só não estou acostumada. — Se tocar nesse fecho , arranco sua mão. — Ela fala e eu não me arrisco, mas tudo bem, seria só por uma noite não é mesmo ?

— E você vai assim ? — Eu pergunto fazendo menção ao seu estado pós-dormida-diurna. Gabriela se levanta de forma apressada e veste um sorriso de suspense no rosto.

— Porque a pressa ? Olha Sam, quero que você se divirta, você precisa espairecer cara, sério, Yuri acabou com contigo e agora você precisa se libertar disso.

Yuri.

O nome me dá asco.

E a pessoa me dá aquela sensação de azia interminável depois do almoço.

A definição de ex-namorado é algo que, classificando gramaticalmente e sentimentalmente, se encontra sempre no passado e é errado ortograficamente querer usar palavras do passado em frases conjugadas no presente. Voltar com um ex-namorado é exatamente a mesma coisa, não dá certo e muito menos faz sentido. O passado fica no passado, e eu só me ferrei com Yuri porque eu achei que ele ainda podia ser meu "presente" e Yuri era um passado, uma antiguidade, daquelas que nem em museu pré-histórico você encontra mais..