Antes do avião decolar postei uma foto da janela com a legenda “De volta ao jogo” e quando pousei já haviam páginas de fofoca postando sobre. Depois de tanto tempo eles finalmente tinham algo real para postar sobre mim.
Mas o que mais falavam, principalmente no twitter, era a coincidência de eu ter voltado no dia de uma das apresentações da C.D. As pessoas até falavam que eu estava voltando para reconquistá-la. Não olhei muito para saber quais outros absurdos estavam comentando.
Bom, já que eu estava aqui por que não vê-la de uma vez? Eu não preciso falar com ela agora, mas vê-la no nosso habitat natural talvez torne as coisas mais fáceis.
Entro em seu instagram e passo o stories até achar algum que marque a localização. Bingo. Ela vai se apresentar na pista House Of Ice.
Saio do aeroporto e sinalizo para o primeiro táxi que passa. Durante o caminho observo casais passeando pelas ruas dos românticos canais nessa noite congelante, uma ótima desculpa para andarem mais colados e abraçados.
Quando adentro a arena algumas pessoas na arquibancada apontam para mim, — não sei se por me reconhecerem ou por estar com uma mala enorme — mas sequer me importo quando a vejo.
Ela é mais linda do que eu me lembrava. Deslizado pelo gelo com sua roupa brilhante como se apenas o ar a impulsionasse e seu parceiro a lança no ar como se não pesasse nada — e provavelmente não, pois sempre teve um corpo magro, defino como se tivesse sido esculpido pelos deuses.
C.D. não é mais a garota que se apoiava em mim, que ficava atrás de mim mesmo quando a queria ao meu lado. Esse um ano sem mim a transformou, no fim algo bom foi tirado disso. Ela está onde deveria estar, embaixo dos holofotes
Quando fazem sua pose final o voz grave soa dos alto-falantes:
— Uma salva de palmas para Cara Delevingne e Timothée Chalamet por sua apresentação que é totalmente beneficente para a manutenção do Orfanato Romanov.
Observo-os até entrarem no vestiário e ando rapidamente até lá. Quando estou próximo ouço vozes animadas os parabenizando. Paro a porta e ignoro todos a volta, minha atenção foca em seu coque perfeito e o corpo já coberto por um sobretudo enorme cor pêssego.
Todos ficam em silêncio e ela se vira para onde toda atenção está voltada, eu.
— Harry Styles, seu porco nojento! — Ela sorri enorme e vem em minha direção com os braços estendidos — Não consegue mesmo chegar nos lugares sem chamar atenção, né. — Seu abraço é tão quente e reconfortante. Eu poderia ficar eternamente ali apenas inspirando o cheiro nostálgico de seu perfume misturado ao suor.
— Nem mesmo eu poderia apagar o brilho da estrela que você se tornou. — A aperto um pouco mais forte antes de soltá-la e esquadrinhar cada pedacinho de seu rosto para não perder um detalhe que mudou.
— É um prazer te conhecer, sou um grande fã. — Seu paceiro é uma rapaz magro, esguio, branco como papel e seus cabelos pretos e roupas escuras só o fazem parecer mais pálido — Sou Timothée, mas a maioria das pessoas me chama de Timmy ou Tim.
— Ah, é um prazer, Timmy. — Falo sem graça e aperto sua mão.
— Filho, vamos deixá-los conversar um pouco. — Sua mãe o chama e o homem a seu lado, provavelmente o pai, faz um sinal para porta.
Os pais dele são um casal fora dos padrões. Enquanto o pai é baixo, barrigudo, careca e exibe um bigode grosso e preto, a mãe é magra, alta e possuí um cabelo chanel com franja tingido de vermelho.
— Te espero lá fora, linda. — Seu namorado, sei por causa das fotos, deposita um beijo em sua bochecha e sorri brevemente para mim.
Ele tem um corpo musculoso, ombros largos, cabelos cor de mel e um olhar que faria qualquer mulher e até alguns homens cair a seus pés.
— Bom te ver, Hazzy. — Reprimo um revirar de olhos quando a mãe dela me chama pelo apelido na frente de todos. A mulher não envelheceu nada, poderia dizer que ela e Cara são irmãs.
Quando enfim ficamos a sós um silêncio desconfortável recai sobre nós. Ela se vira para bolsa e começa a arrumar as coisas.
— Essa mala aí significa que você acabou de chegar? — Mesmo a pergunta sendo idiota respondo que sim — E veio para ficar de vez?
— Bem, você vai ser minha parceira? — Sorrio ladino, o mesmo sorriso que a fazia se render quando namorávamos.
— Não posso fazer isso com Timmy. — Pelo visto minhas técnicas não vão funcionar mais por aqui.
— Timmy. — Cuspo o nome com deboche — Você é maravilhosa no rinque, — Me aproximo deixando nossos torços a milímetros de distância — mas ele... Falta paixão nele. A paixão que nós dois temos.
— Harry, eu namoro e o amo mais do que fui capaz de te amar. — Solta um bufo ao fechar o zíper da bolsa.
— Eu sei, pequena Cady. — Dou um passo para trás e a puxo pela mão a fazendo rodopiar até meus braços — Mas você sabe que para colocar aquele rinque em chamas é preciso fogo e gasolina e eu tenho certeza que ele não é nenhum dos dois. — Nós encaramos profundamente e ali está. A linda garotinha que encantava nossos treinadores, familiares e jurados, mas que quando ensaiávamos sozinhos ela acabava com a minha raça corrigindo todas as minhas falhas.
Seus ombros se remexem e eu a deixo se desvencilhar com facilidade, mas não sem antes eu capitar o pequeno sorriso surgindo em seus lábios.
— Já chegou querendo fazer inimizades, sempre tão superior. — É isso que ela odeia em mim, quando esnobo meus rivais e Timothée é um à altura.
— Só quando eu sei que posso. O cara é bom, mas não se entrega. — Me recosto na parede enquanto a observo soltar os cabelos que caem formando ondulações e embaraços.
— Vai ficar aonde? — Corta o assunto.
— Vou para um hotel e procurar um apartamento perto do nosso rinque. — Ela se vira para mim e me encara segurando um grampo entre os lábios. Agora tenho sua atenção. — Não me culpe, minha mãe disse que o seu treinador me queria muito.
— Não acredito. Amo sua mãe, mas que filha da puta. — Tanto ela quanto eu sabemos que ela não me colocou nesse rinque só porque o treinador apostava em mim, mas porque viu uma chance de nos juntar novamente — Mas é ... Ele é o único com coragem suficiente para te aceitar na equipe e até convencer alguns patrocinadores apostar em você.
— Relaxa, Cara. — Falo sério — O que aconteceu entre nós é passado. Só quero minha melhor amiga de volta. — Estendo a mão e ela a segura. Faço um pequeno carinho com o polegar nas costas de sua mão — Parceiros nos rinque.
— Amigos na vida. — E então eu ganho aquele sorriso radiante que sentia tanta falta — Abriu uma boate nova na cidade, se quiser...
— E por acaso seu lindo parceiro vai junto? — Estendo o braço em direção a saída para que vá primeiro e eu sigo logo atrás.
— Ele vai ser tornar insignificante com tantos homens e mulheres bonitas que St. Peter tem a oferecer. — As arquibancadas agora estão vazias, então não é um problema falar sobre isso.
Quer dizer, eu nunca omiti minha sexualidade, ter estado com ela por anos fez com que eu ganhasse um armário de vidro. Tenho certeza que esse armário não vai se manter intacto com o primeiro flagra que vier e não estou fazendo muita questão de esconder as coisas. Não me importo com nada além de voltar para o lugar que é meu por direito.
— Estou ansioso por isso. — Estamos a um passo a da porta de entrada e já ouço o burburinho a aguardando do lado de fora.
— Pode apostar que eu e Niall também estamos ansiosos, ele sabe como curtir uma balda como você. — Um sorriso sapeca surgi em seus lábios com a menção ao namorado.
Somos engolidos por uma avalanche de flashs, parabenizações a ela e pessoas pedindo autógrafos. Seguro sua mão e a levo de encontro a Thimothée. Mais flashs surgem e mesmo que não sejam direcionados a mim percebo como senti falta disso.
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O Medo É Feito De Gelo | l.s.
FanficApós um ano em Londres, longe dos holofotes e competições, é hora de voltar para São Petersburgo, para casa - os rinques. Chegou o momento de enfrentar seu medo da plateia, multidões e principalmente de falhar mais uma vez. Acabou os flashes de gel...