Run or Die - Hualian

Prólogo

Noite fria e nublada de algum dia na semana que não importa mais nesse mundo, aqui você apenas sobrevive.

- CORRE, ELES ESTÃO VINDO!!!

- QUEM? - gritou para que o desconhecido ouvisse através do barulho dos tiros.

- EU NÃO SEI, MAS ELES QUEREM NOSSAS CABEÇAS!

Assustado e perdido, He Xuan corre ao lado de seu aliado. Estava atordoado por ter acabado de abrir os olhos e apenas seguiu as ordens.

Corra.

- Vem sobe aqui! - disse o outro em um tom mais baixo e cauteloso.

- O QUE É ISSO?

- Cala a boca porra, eles vão nos ouvir!

- Desculpa, desculpa...

Eles subiram em algo semelhante a uma motocicleta - só que feita de madeira. O desconhecido guiou Xuan até um local estranho e deserto onde só havia uma plantação de milho tão grande que iam além dos limites do horizonte.

"Esse é um dos sonhos mais realistas que eu já tive" pensou He Xuan.

Naquele local eles poderiam tentar despistar os perseguidores com mais sucesso e também era a melhor passagem para o esconderijo em que Shi WuDu estava tentando levar He Xuan. Tinha bastante lixo pelo caminho e destroços que impediam que eles se locomovessem mais rápido.

He Xuan sentia seu corpo todo tremer, não sabia se era pelo chão desnivelado que fazia essa maluquice em que estava sentado tremer enquanto corria ou se era medo de estar sendo perseguido sem entender o porquê.

De repente, um som abafado surgiu e a 'moto' se descontrolou, Xuan sentiu um respingo quente em seu rosto antes de cair em cima de alguns destroços já no final do milharal. O motorista foi atingido com um tiro na cabeça, foi certeiro e sem direito às últimas palavras.

Ele estava ali jogado, abandonado, perdido e além de tudo machucado no meio do nada e sem conhecer ninguém. De fato, só pode ser um sonho... MAS QUE PORRA DE SONHO!

- ONDE O OUTRO ESTÁ? PROCUREM ELE! - gritou um dos perseguidores.

- Sim, Senhor!

Mesmo podendo ser um sonho, ele não gostaria de arriscar, portanto, se esgueirou tentando chegar nas construções perto de onde estava. Quando estava próximo de um beco escuro, uma mão o puxa pra dentro de forma rápida e silenciosa. Estava escuro, frio e uma mão tampava a sua boca com força e o fazia sentir o cheiro forte de ferrugem vindo da outra pessoa.

- Shhhhhhhh!

"É agora que vou partir dessa pra uma melhor e acordar desse sonho maluco..." pensou He Xuan rindo da situação.

- Vem seu imbecil, tá esperando eles atirarem em você também? - sussurrou a pessoa em um tom profundo.

- Que porra ta acontecendo?

- Fala mais baixo, depois explico. Mas, pra te acalmar só um pouco, sou o Hua Cheng ok? Aquele que você conhece desde a sua infância e tem uma empresa de tecnologia junto com você. Calça isso. - mandou enquanto jogava um par de sapatos feios na direção do outro.

- Hua Cheng??? O que você tá aprontando? - disse obedecendo e calçando o sapato esquisito.

- shhhhh!

- ...

Os homens que queriam lhes capturar foram embora, felizmente, sem achar mais ninguém e, infelizmente, levando um deles. Hua Cheng explicou que eles estavam sendo procurados e ele tinha uma hipótese para que isso estivesse acontecendo, mas como ainda era uma suposição sem provas ele preferia não falar muito além disso.

Eles caminharam até o esconderijo que Hua Cheng estava construindo e fortalecendo aos poucos.

Era preciso subir várias escadas de madeira por trás de um armazém grande e alto para chegar nas cabanas de refugiados, He Xuan já estava extremamente cansado de fazer tanto esforço físico e esse sonho inútil nunca acabava.

Chegando no telhado viu as cabanas uma do lado da outra, compostas apenas por um espaço que cabia um colchão e uma cômoda pequena, para as pessoas não ficarem à céu aberto e ter um pouco de privacidade, nada muito elaborado, e havia também dois banheiros compartilhados ao fundo de um corredor de cabanas.

He Xuan observou a vista noturna lá embaixo e percebeu que estavam no telhado de alguns prédios comerciais e não apenas de um, os donos ainda resistiam duramente a essa loucura que ninguém conseguia explicar. Haviam algumas pessoas entrando e saindo como se nada tivesse acontecendo em volta delas e também viu mais daquelas motos esquisitas.

Tudo aqui era bem esquisito...

- Eles ajudam a nos esconder, várias pessoas acabaram acordando aqui no corpo de outras pessoas e ninguém sabe o por quê. - Hua Cheng diz quebrando o silêncio.

- Então quer dizer que isso não é um sonho ou uma pegadinha de simulação virtual que você sempre faz? - He Xuan se vira em direção ao outro sentindo uma leve pontada de dor no braço machucado.

- Dessa vez, infelizmente, não é... - ele suspirou. - Deixe eu examinar seu braço, parece que está ferido.

- Como você sabia que era eu quem tava naquele matagal e não algum inimigo ou, sei lá, uma pessoa aleatória?- disse desconfiado.

- Eu achei um jeito de te localizar e mandei pegarem você. Já estou aqui há alguns anos e aprendi como me virar...

- Como? Que? Anos? Eu vi você semana passada! E outra coisa: aqui só tem tranqueira!

- Não éramos empresários bilionários desde sempre, eu sei me virar no lixo. E, bem, aqui o tempo passa de uma forma diferente do outro lado, estou tentando achar uma forma de voltar e descobrir quem nos jogou aqui.

- Entendo... - Xuan suspirou. Aí! Vai com calma! - reclamou quando sentiu o aperto do nó do curativo.

- Desculpa. O curativo tá pronto, agora descansa um pouco. - levantou de maneira cansada.

- ESPERA!

- O que?

- Se isso é tudo real... Aquele cara, ele... - estava muito assustado pra terminar a frase.

- Olha, se fosse um sonho você não estaria fazendo uma careta tão feia pela dor no braço... E outra, não sei - disse encostando o ombro na guarnição da porta -. Aqueles que morrem aqui nunca mais vimos outra vez, mas não sabemos se realmente morreram, sabe? Em resumo, agimos como se estivessem morrido, não muda muito a dinâmica da nossa vida comum do outro lado. - deu de ombros.

- Puta merda, eu causei a morte de um cara! Eu matei um cara! - batia freneticamente com a mão na sua própria testa.

- Você não fez isso - suspiro -, a culpa não é sua é de quem nos jogou aqui! Estamos apenas sobrevivendo. - falou pondo a mão no ombro do amigo - Agora descanse e amanhã conversamos melhor.

- Como você quer que eu descanse com esse tanto de informação?

- Já não é mais algo em que possa ajudar. Toma esse cobertor, aqui é frio. Qualquer coisa me chama ou vai até minha cabana. - disse saindo e fechando a porta à frente de He Xuan.

He Xuan de fato estava com o braço machucado, ele quebrou quando caiu da 'moto'. Estava confuso e se sentia muito culpado pela morte de alguém que nem sabia o nome. Mas, sua cabeça estava doendo e ele logo adormeceu.

▪︎▪︎▪︎

Obrigada pela leitura, não esqueça de votar!
Até a próxima atualização!♡.