Capítulo 3

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10 de janeiro de 2019

Hoje é dia de plantão da Rose, contarei-lhe sobre a minha data limite aqui dentro, já imagino o que ela irá falar, mas estou bem com minha consciência.

Sete da manhã, luzes acesas, levanto, vou para o canto, cumprimento Rose e John, ela avisa que no almoço volta para me buscar. Achei estranho, mas apenas assenti.

Conforme programado, na hora do almoço ela volta e me conduz até o refeitório, já penso em comunicá-la sobre a decisão, mas ela me surpreende:

— Aceitou a data né?

— Como você sabe?

— As notícias correm aqui dentro, pequena...

— Tudo bem, sim, aceitei. Tomei a última decisão da minha vida de forma egoísta, vai me julgar?

— Claro que não, só queria ouvir de você. Só temos mais treze dias juntas, não sei como conseguirei... descobri que estou escalada para o dia vinte e três, mas pedirei para trocar.

Em um impulso proibido pela instituição segurei a sua mão como uma súplica:

— Por favor, esteja aqui, eu preciso ver um rosto conhecido antes de ir.

Rose arregala os olhos para mim, pois ela sabe como são os preparativos para o último dia, sempre designam uma policial penal para acompanhar a "morte do dia".

— Eu não consigo, Noeli, sou muito próxima a você! Estou criando seu filho como se fosse meu! Não me peça para assistir a sua morte!

— Não exigirei isso de você, — o desconforto dela é latente, realmente não deve ser fácil ver alguém que você ama morrendo, mas eu não tenho mais a quem pedir, minha família é meu filho, não o faria passar por isso. Realmente esperava que ela me entendesse, até porque ela sabe a verdade de tudo — é um pedido, pense com carinho... pode me levar de volta?

Retornamos ao meu quarto, e lá permaneço por algumas horas apenas pensando...

"Em apenas treze dias não existirei mais nesse planeta, será que meu filho algum dia entenderá tudo o que fiz? Será que irá me perdoar?"

É tão difícil para as pessoas entenderem, matei aquele homem, mas ele mereceu, era policial, mas não era uma boa pessoa, ele machucou muitas pessoas do nosso bairro, agora ele não faria aquilo com mais ninguém, eu não me sentiria em paz em deixar ele fazer aquilo com mais alguém.

15 de janeiro de 2019

Meu único arrependimento é estar longe do meu filho, apenas esse, porém, agora com a proximidade da minha data, começo a repensar todas as minhas decisões.

Rose vem sempre gravando os meus sentimentos, Sarah disse que fará um livro somente sobre isso, e não ficará com o dinheiro, será tudo para o meu pequeno.

Agora ele ocupa constantemente meus pensamentos, fiz o que fiz por ele, e faria de novo, tudo para proteger o maior amor que já senti na vida.

"Mas a que preço? Estar presa aqui quase dois anos, longe dele, sem o ver crescer, em compensação agora sei que está protegido, e aquele homem não mais ronda a sua vida."

Veio outra policial penal hoje, Rose está de folga, ela vai me levar para fazer minhas últimas escolhas: roupa, comida, desejos, vontades.

Muito estranho isso, escolher meus últimos desejos, é até engraçado, pois me lembrei de um desenho do pica-pau em que ele fala isso para o seu adversário, atira e logo depois estão todos bem, mas isso não acontecerá comigo, uma vez morta, não tem volta.

Preencho um formulário e posso escolher tudo o que farei no meu último dia, poderia pedir para trazer meu filho, mas seria muito injusto, fazê-lo vir aqui, ainda mais no dia que destinaram para meu fim.

Escolhi meu café da manhã, meu almoço e até lanche da tarde, já que estou agendada para as 17 horas do dia 23 de janeiro. Pude escolher até música para o momento.

Após finalizar, retorno para o meu quarto e hoje a vizinha do lado está impossível. Falante. Fica me chamando toda hora, agradeço por sermos separadas por uma parece de tijolo e concreto, não sei como ela descobriu meu nome, mas não poderia ser em pior momento.

Ela é insistente, até o momento que me irrito, me levanto ficando próxima a sua cela e grito com ela para que cale a boca e pare de me chamar, nesse momento posso ouvir a outra detenta da cela mais a frente:

— Acho melhor você deixar ela quieta, essa aí matou um policial com as próprias mãos, sem usar uma arma e ainda arrancou o seu coração.

Escuto aquilo e me dá vontade de rir, realmente não usei artifícios, apenas o ódio em meu coração, e claro um 38.

"Mas arrancar seu coração?"

Aquilo soava tão absurdo que acabei gargalhando, o que acabou causando um efeito até bom na minha vizinha, que finalmente calou a boca, e pude agora retornar para meus devaneios.

***

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Como será que acaba essa história? São 6 capítulos, rápidos e intensos. Espero vocês lá! 

Ah! O link do livro ta na bio! Beijos! <3

O último suspiro (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora