Capítulo único

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"I'd end my days with you, in a hail of bullets"


O som de botas batendo no concreto gelado era o único som peculiar que se ouvia nas prisões de Ever After. Todo o resto — o som de metal de armaduras dos soldados e de gritos de súplica dos detentos — era rotineiro.

Por isso, quando Dexter Charming entrou nos corredores, toda a prisão decidiu se calar, como se soubesse que havia algo de estranho para acontecer.

E havia.

O silêncio arrepiou a espinha dos guardas (nunca era um bom sinal) ao mesmo tempo que acompanhavam o príncipe para a cela no corredor 8 da ala 5 do andar subterrâneo, ou como costumavam chamar: o setor dos condenados. Não que Dexter precisasse de ajuda para encontrá-la, claro, pois ele a sentia mesmo estando separados por metros (talvez quilômetros) de mármore. Sentia tanto, que virou à esquerda antes mesmo que seus próprios guias.

Na primeira vez ele jurava que tinha sido uma simples intuição, mas isso havia se repetido muito frequentemente para ser coincidência. 

Quando chegou à cela, percebeu que a segurança havia dobrado e não tinha apenas uma porta, e sim três, todas elas de metal pesado e puro. As portas perfeitas para uma assassina perfeita.

Os soldados abriram a última porta com suas armas apontadas e engatilhadas para a bela face da bruxa que os encarava com um sorriso de escárnio. Então, com uma voz rouca de quem não falava há dias, disse:

— Eu estava te esperando — olhou para Dexter, curiosa, analisando cada detalhe do rosto dele

O príncipe sorriu. É claro que ela sabia que ele estava lá, era uma bruxa poderosa e não havia magia bloqueadora no mundo que fosse mudar esse fato.

Reprimiu o sorriso em seguida, se lembrando o motivo pelo qual Raven Queen estava cercada de soldados armados até os dentes e portas com metros de espessura.

Courtly Jester, Apple White e a guarda da Rainha de Copas. Todos mortos.

O primeiro, tão brutal que ninguém sequer teve coragem de juntar os pedaços para poder enterrá-la com o mínimo de dignidade. Seus restos mortais estavam em algum lugar do País das Maravilhas apodrecendo à luz do dia como um recado muito claro de que a filha da Rainha Má era perversa e não tinha piedade.

O segundo não houve sangue, mas não deixou de ser pavorosa a visão dos olhos saltados e o pescoço roxo com marcas de unhas por todo seu redor. Outro recado: A filha da Rainha Má não gostava de quem entrasse em seu caminho.

O terceiro, ou os terceiros, era toda a guarda do baralho da Rainha de Copas, um amontoado de cartas rasgadas que pareciam ter sido varridas por tesouras muito afiadas. Um terceiro recado: a filha da Rainha Má não pode ser contida.

Como conseguiu ser capturada, isso ninguém sabia com certeza. Dexter sabia que era proposital porque não havia outra resposta a não ser aquilo. E talvez, lá no fundo, ele desejasse que fosse essa a razão

Ele tinha esperança nela, e era por isso que estava ali hoje. Ele não deveria ter nenhuma simpatia por aquela assassina. Pelo contrário, deveria desprezá-la e cuspir no chão toda vez que sequer citassem o seu nome como todos os outros faziam. Como sua mãe fazia, como seu pai fazia, como sua irmã fazia e como os royals faziam.

Mas eles não viam o que ele via.

Não sonhavam com o que ele sonhava.

Não sentiam o que ele sentia.

Não tinham visões que sempre mostravam a mesma coisa: Ever After em chamas, os dedos grudentos cheirando a sangue e segurando as mãos de quem traria a ruína de reinos inteiros. Ele não estava a segurando para pará-la, e sim para apoiá-la. Como seu parceiro.

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