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— Eu não acredito que você fez isso! — Marcus, um alemão de quase dois metros de altura e cabelos loiros compridos, olhou para mim atônico. — Cara, você é muito desastrado! — Falou em seu short esportivo e sua camiseta sem mangas que pareciam rir das minhas várias camadas de casacos e calças. Eu ainda não conseguia sentir minhas mãos, mesmo que o aquecedor estivesse ligado.
— E agora? — Josh, norte-americano na casa dos quarenta anos, me fitou, interessado em saber como tudo terminou. Sua boca trabalhava muito rápido com cada pedaço de maçã que ele jogava nela. Diferentemente de Marcus, Josh estava mais sério em relação ao que aconteceu naquela manhã.
— Tive que deixar com o taxista quase três meses de aluguel que a bolsa iria cobrir. — Ambos fizeram um barulho de dor. Olhei para o chão, constatando, mais uma vez, que meus dois anos de mestrado seriam mais apertados.
— Cara, você se ferrou bonito! — Marcus se levantou de um dos sofás caramelos e bateu no meu ombro como se dissesse "boa sorte". Escutei a porta da entrada bater antes de voltar minha atenção para Josh.
— As coisas ficarão ainda mais sérias para você agora. — Sorri, concordando.
— Se tiver que trabalhar, eu farei isso.
— Mas tome cuidado! A universidade não pode saber, se não... — Ele me avisou.
— Eles cortam a minha bolsa — completei — Vai dar tudo certo, tenho certeza disso. — Sorri desanimado, me levantando da única cadeira que havíamos em casa e indo em direção às minhas malas que ainda estavam perto da porta. Eles sabiam que eu teria aula logo em seguida, então concordaram que eu poderia arrumar todas as coisas quando voltasse para casa.
— Boa sorte na sua primeira aula — Josh falou atrás de mim, enquanto brincava com a faca que antes despedaçava uma maçã. Balancei a cabeça dizendo tchau e recebi como "boas-vindas" o ar congelante da cidade de Oxford.
Enquanto caminhava pelas ruas até a universidade, criei na minha cabeça um plano. Havia visto duas cafeterias da universidade até minha nova casa, havia também três restaurantes, dois bares, e uma lojinha de bugigangas. Caso faltasse dinheiro, eu poderia tentar encontrar trabalho nesses lugares nem que fosse nos finais de semana para conseguir algum dinheiro. Isso poderia me ajudar a pagar alimentação, pelo menos assim eu esperava.
Como meu curso era integral, era difícil conseguir trabalho em um único horário, já que minhas disciplinas eram ministradas sem uma programação fixa.
Conforme atravessava a rua para a primeira esquina que viraria, observei duas senhoras mais velhas se aproximando de mim. Elas sorriram e me cumprimentaram. Acho que foi a primeira vez que dei um sorriso genuíno desde o desastroso acidente.
Meus passos pararam ao sentir meu celular vibrando na minha mão que tentava se esconder de todo esse sofrimento congelante.
Vi, pelo identificador de chamadas, que a minha mãe havia me enviado uma mensagem perguntando como eu estava e se tudo havia ocorrido como esperado.
Sabia que não poderia contar sobre o que aconteceu naquela manhã. Ela ficaria preocupada e começaria a dizer "eu disse que esse não era seu lugar. Nossa realidade é diferente". Ela também falaria com meu pai que ficaria preocupado com dinheiro.
Sem chance.
Voltei a andar pela calçada mais rapidamente querendo chegar no campus e me esconder do frio.
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Me Deixe Ir (DEGUSTAÇÃO)
RomanceO quão difícil é a perda do seu amor? O quão complicado é acordar todos os dias com a cama vazia, a casa silenciosa e a solidão enchendo seu peito? Para Jeremias, esses sentimentos foram seus grandes amigos por sete anos, pelo menos enquanto sua fil...