Paulo congelou, mão a centímetros da porta de entrada de sua casa e boca meio aberta, surpreso.
"O que disse?"
"Gosto de beijar homens bonitos." São Paulo capital resmungou, abraçado aos seus ombros e olhos fechados, completamente bêbado.
"Oh." Foi a única coisa que conseguiu responder.
Foi quase uma batalha subir as escadas (São Paulo cogitou muito seriamente deixá-lo dormir no sofá, mas sua consciência não o perdoaria por isso), a cidade entre um estado de sonolência e risadas ébrias que se intensificaram ao pular na cama do quarto de hóspedes.
"Se me acordar mais uma vez, vou te dar uma pancada para dormir o resto do dia." Tirou os sapatos de Paulo Júnior, ainda meio zangado por ter que retirar o filho bêbado da delegacia às duas da manhã (tentando invadir o Museu da Independência, de novo). O mais novo abriu um sorriso brilhante e meigo, mãos tentando alcançá-lo.
"Não vá! Fique comigo, papai!" São Paulo Estado riu, um calor no peito ao puxar a coberta para cobri-lo.
"Não."
"Pai!"
"Shh, já não aprontou o suficiente pelo resto ano?" Da vida seria pedir muito, pensou com graça, sentando ao lado dele.
"Está decepcionado comigo." São Paulo capital fez um bico (exagerado) com os lábios, voltando a se sentar com dificuldade no colchão, balançando de um lado para outro. "Como os outros."
"Que outros?"
"Eles também não gostaram de saber que beijo homens bonitos." O sorriso que tinha antes desapareceu, segurando nos braços cobertos pela camisa social da capital para estabilizá-lo. "Ninguém nunca gosta!"
"De quem está falando, Júnior? Pra quem contou isso?" O obrigou a deitar novamente, pensando em todo tipo de implicações que aquela frase sugere, dando voz às suas preocupações sobre o bem estar de seu filho (indiscreto e desmiolado).
A cidade gemeu com desânimo, como se quisesse continuar as lamúrias, porém seus olhos nem mesmo se abriam mais, membros se relaxando com sono. Paulo suspirou pesadamente, olhando o abajur criar a única luz no cômodo absorto em pensamentos. São Paulo capital finalmente relaxou, o cheiro de álcool ainda forte entre as respirações calmas. Sua mão alcançou e fez um carinho leve no rosto da cidade, a descansando em seu ombro com um aperto, um sorriso condescendente na face do Estado.
"Como poderia ficar decepcionado com você." Sussurrou, voltando a puxar a coberta para cobri-lo. "Se também gosto de beijar homens bonitos?" Riu baixo, afinal, sempre desconfiou de certos comportamentos do paulistano. "Boa noite, filho. Durma com Deus."
E quando fechou a porta, arrastando os pés com sono até seu quarto desejando urgentemente suas cobertas quentes, a imagem de um certo alguém passou por sua mente. Alguém de braços fortes, cabelos castanhos compridos e macios, olhos acolhedores e beijos doces...
+++
A cena anterior a isso: SPcity tentando invadir o Museu dizendo que era seu palácio, guardas chamam a polícia, Júnior dá em cima do delegado até o Paulo chegar e o pobre homem diz "é a segunda vez esse mês, senhor Paulo"
SPcity tmb: nossa como vc descobriu que eu tmb gosto de caras :O
SP: -_-'
VOCÊ ESTÁ LENDO
Kiss a Handsome Man
Historical FictionSão Paulo capital admite pela primeira vez em voz alta que gosta de beijar homens bonitos - e mal sabia ele que São Paulo também. O estado apenas torcia para que sua cidade tivesse mais cuidado com seus segredos. SPcity e SP | Década de 1910 | Mais...