Capítulo 1

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Eles desceram sobre o vale como uma onda negra e letal. Suas flechas perfuraram a carne. Suas rochas esmagaram ossos e muralhas. Em seguida, suas espadas cortaram aqueles que se atreveram a resistir. A lutar por seus ideais. Suas montarias atropelaram aqueles que se recusaram a morrer. E, por fim, qualquer um tolo o suficiente para permanecer vivo teve suas mãos decepadas.

 Por que então Rais Kasim permanecia lá, lança em uma mão, escudo na outra, a espada e adaga presas ao cinturão, de pé, lado a lado com centenas de outros mercenários e milicianos? Estavam todos prestes a morrer diante das hordas sem fim do Imperador de Diamante.

Abutres voavam sobre as colinas, aguardando o banquete que seria servido muito em breve.

O papel daqueles últimos desesperados não era uma vitória. Isso seria impossível, e todos eles sabiam bem disso. Seu papel era tão somente segurar os invasores tempo o suficiente para que os últimos habitantes de Mahrus pudessem fugir através das montanhas, na direção da Costa Livre e, quem sabe, um navio para outras terras. Última esperança para aqueles que se recusavam a aceitar o Imperador como seu deus. Última chance em um continente onde cada um dos portos, navios de grande porte e os homens capazes de construí-los foram queimados. Todos menos aqueles na Costa Livre.

O som dos tambores ecoou ao longe, fazendo Kasim estremecer. Recusando-se a deixar passar seu temor pela morte iminente, os olhos deslizaram de um lado para o outro sob o elmo de couro e placas de ferro. Por incrível que pareça ninguém havia recuado e fugido diante do som tenebroso que anunciava o ataque do inimigo.

Fugir para onde? Os últimos marid estavam entre eles e a rota de fuga. Mais do que comandantes daquele exército de sobreviventes, eram executores à cavalo que tinham ordens de abater qualquer soldado que tentasse fugir. Nem mesmo os mercenários como Kasim tinham o direito de fuga. “Está em seu contrato,” disse o comandante dos guerreiros sagrados quando foi questionado por Kasim e os poucos sobreviventes de sua companhia. Certo. Um contrato assinado por um homem morto havia três semanas centenas de quilômetros nordeste dali. Contrato esse que Rais Kasim, hoje o mais velho oficial da companhia, era obrigado a honrar. Mesmo que instintivamente preferisse largar as armas e fugir com os civis.

O chão começou a tremer. Era o som conhecido de cavalos listrados do imperador. Não poucos, mas um batalhão inteiro. Centenas deles, protegidos em couro e anéis de metal, montados por guerreiros nobres movidos pela fé em seu deus-vivo. Eles nem se deram ao trabalho de trazer as caras bigas de guerra.

Kasim engoliu em seco e lambeu os lábios ásperos. Estava quente. Parecia que estava quente desde que começaram sua marcha de fuga dias antes, após perderem Khalidah. O suor onipresente escorria para os olhos, fazendo-os arder. Coçava irritante sob o elmo onde o cabelo que começara a crescer no escalpo raspado roçava na pele. O amuleto sob sua armadura parecia colar na pele e Kasim se questionava se não iria deixar um ferimento na forma da Estrela da Manhã.

Então, eles surgiram.

Primeiro era apenas uma nuvem de poeira crescendo na curva da colina. Em seguida vieram os vultos gigantescos. Poderosas, as zebras que eram marca da Ordem de Diamante passaram sua própria infantaria, ignorando o risco de enfrentarem os últimos defensores do Vale em um local estreito, lanças em riste. Primogênitos do Imperador, eram chamados. E o quão poderosos eram os filhos de um imperador imortal? Diziam que esses guerreiros não temiam a morte. Que seus corpos estavam fechados contra ferimentos e encantamentos. Possuídos por espíritos, afirmavam outros. Seus rostos estavam ocultos por trás de máscaras idênticas feitas de contas coloridas, longas cabeleiras feitas de palha seca esvoaçando atrás deles. Usavam alguma armadura por baixo da túnica negra esvoaçante? Eram sequer humanos?

Kasim tocou com a mesma mão que segurava a lança o lugar onde o amuleto da sorte se escondia sob a armadura. Sorte ou bênção divina, achava pouco provável que qualquer uma das duas fosse capaz de ajudá-lo naquele dia.

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⏰ Última atualização: Mar 26, 2015 ⏰

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