capitulo 16

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Ashley*

A viagem do hospital ate a casa dos meus pais foi um pouco longa, mas desde que cheguei me enfiei no quarto e permaneci deitada, não queria ver e nem falar com ninguém, Rafael me ligou várias vezes, mas não atendi.

Alice também me ligou, mas eu queria mesmo um tempo só pra mim, queria absorver tudo que aconteceu.

Sei que ninguém teve culpa do que aconteceu, mas havia um buraco no meu peito, uma sensação de perda que a muito não sentia, tudo me levava a Andrew, e meu peito doía sem parar.

Meus pais estavam respeitando meu espaço, mas minha mãe uma hora ou outra aparecia para perguntar se estava tudo bem, ou se eu precisava de algo.

Estou muito agradecida por ela estar me dando espaço, mas decido me levantar e dar uma caminhada.

Sai porta a fora para uma caminhada, precisava de ar puro nos meus pulmões, então fui correndo até o parque, o ar entrava e saia dos meus pulmões com facilidade, o cheiro das árvores era bom.

Sentei em baixo de uma árvore grande no parque, era uma árvore mais recantiada, mau conseguia prestar atenção a música que estava tocando, estava apenas observando as pessoas que estavam andando pelo parque.

Ao entardecer, voltei para casa, queria apenas tomar um banho e me afundar na minha cama novamente.

Assim que entrei pela porta, minha mãe veio da cozinha secando as mãos em um pano de prato, o cabelo preso em um coque.

- filha acho que deveria falar com Rafael, afinal você não foi a unica que perdeu algo

Ela não conseguia falar a palavra, não conseguia dizer que tive um aborto espontâneo, mas me casar com Rafael era loucura, mau nos conhecemos e eu o estava puxando para isso só por que estava grávida.

- mãe eu sei que só quer o melhor, mas não quero mesmo falar com ele

- mas não esta sendo justa com ele, sabe disso

Dei de ombros, sabia que de certa forma ela estava certa, mas não queria falar com ele, nem com ninguém.

Viro as costas e volto para o meu quarto, queria tomar banho e me afunda na minha cama.

Os dias que se seguiram passei fazendo as mesmas coisas, o dia todo na cama e a tarde fazendo uma corrida até o parque.

Ao chegar ao parque fui direto para a árvore que costumo sentar, assim que me sentei uma senhora se aproximou e sentou em um banco que tinha perto da árvore onde eu estava escorada

- você tem vindo todos os dias ao parque, e sentado embaixo dessa mesma árvore, parece em busca de algo

Sua voz era suave, ela tinha uma expressão calma, como se estivesse cansada, cabelos grisalhos até o ombro, olhos meio puxados.

- estou apenas buscando paz

- mas parece que esta se torturando e não buscando paz

- as vezes a vida parece muito injusta!

Queria tanto que essa dor no meu peito passasse, queria que esse vazio fosse preenchido, mas ninguém poderia fazê-lo.

- o que aconteceu com você?

Fiquei pensando se deveria me abrir com uma completa desconhecida, ela parecia uma pessoa que nunca mais fosse ver na vida, então talvez fosse bom por pra fora o que estou sentido.

- recentemente tive um aborto espontâneo, e tinha acabado de ficar noiva, mas acho que ele só me pediu por que eu estava grávida, e agora descobri que talvez eu não possa ter filhos.

Parei por um momento, olhei para a aliança em meu dedo, parecia tão pesada, mas não tirei.

- e alguns anos atrás perdi meu marido em um acidente, sinto como se a vida não estivesse sendo justa comigo, tenho visto as coisas que queria escorrendo pelos meus dedos

- e esse cara que te pediu em casamento, me fala sobre ele

Ri por um momento, ela ignorou tudo que estive a falar, apenas focou na parte que falei sobre meu noivado.

- o nome dele é Rafael, ele me salvou no dia do acidente de carro com meu marido, depois de 5 anos o encontrei no meu trabalho, e mais uma vez ele estava lá me salvando, mas da minha solidão, sem contar que seu filho tem sido uma benção na minha vida

Acabei rindo lembrando deles, era muito bom ter eles em minha vida e sinceramente era muito grata por eles.

- Rafael faz o que da vida?

- ele é policial, fica lindo de farda, é um homem bonito de qualquer jeito na verdade, é inteligente e muito bom pai, ele teve que criar o filho com a ajuda da mãe dele e da irmã, pois a mulher o abandonou

- parece que ele também não teve uma vida muito fácil, mas me fale mais dele e do filho

Essa senhora era sagaz, mas estava sendo bom conversar com ela, não queria conversar com ninguém, mas decidi me abrir com essa estranha por que não a veria mais depois.

- Eric é como um raio de sol, vive me chamando de mamãe, e me sinto mesmo mãe dele, aqueles olhinhos estão sempre brilhantes, mas quando ele quer algo fica todo envergonhado, adora sorvete e sempre que a tia Alice dele está presente ele pede pra eles saírem para tomar sorvete, ele é uma criança muito amorosa, quanto a Rafael, diria que ele é uma brisa fresca de verão, amo seu sorriso despreocupado e confiante, o jeito que me olha como se eu fosse a coisa mais linda que já viu, o carinho que me trata, adoro quando me abraça e tenta me acalmar, estar ao seu lado deixa a vida mais leve, mais alegre, acho que o amo.

Eu realmente o amo, estou tentando negar isso, me sufocando na culpa, como se pudesse ter feito algo para evitar qualquer coisa.

- você tem mais coisas pelo que ser grata do que imagina, não permita que mais coisas sejam tiradas de você, determine que tudo será como você deseja, e creia nisso

- só quero ficar ao lado deles, quero muito.

Meu peito se apertou, passei a semana toda os ignorando, fui muito egoísta, achando que só eu estava magoada, como pude ser tão tola?

Ele respeitou meu espaço, mas não quis nem ao menos atende-lo para falar que estava tudo bem, sem ao menos pensar que ele também não estava bem.

Me levanto e decido voltar para casa, queria ligar pra ele, e dizer que quero ficar em sua vida pra sempre, que o amo muito.

Estava realmente muito grata a senhora, mas assim que me levantei e limpei minha bunda caçei a senhora e não a achei, senti um frio na espinha, ela estava ainda agora sentada conversando comigo e do nada sumiu.

Apesar de sua aparição e sumiço repentino, sou grata pela conversa, afinal foi muito eficaz.

***

Liguei diversas vezes, mas só dá caixa postal, acho que ele deve ter desistido de mim, por eu ser uma egoísta.

A dor da perda me assusta, e ter passado por tudo isso me deixou frustrada, sinto como se as coisas que desejo escorressem pelos meus dedos, mas Rafael e Eric foram presentes que a vida me deu para recomeçar e parece que joguei tudo fora.

Minhas lágrimas não param, parece que está saindo até involuntariamente, são tão quentes que as deixo sair para ver se alivia a pressão no meu peito.

Rafael já passou por tanta coisa ruim também, e o Eric mesmo sendo tão pequeno não teve o amor de sua mãe, e eu só me importei comigo mesma e com minha dor, deixei eles para trás como se não fossem minha família.

Rafael quero te ver!!! Preciso tanto ouvir sua voz, estou com saudades!!!

Choro mais ainda por que não quero perder as pessoas que amo por ter tido atitudes tão egoístas.

Mil Acasos Me Levam A Você (Concluido)Onde histórias criam vida. Descubra agora