Catarina de Albuquerque
Meus almejados dezoito anos haviam chegado. E com eles, oito anos de saudades. Eu não gostava muito de comemorar meu aniversário, porque junto com ele eu perdi os meus pais. Apesar disso, meus avós sempre faziam de tudo para me ver sorrir nesse dia.
E nesse ano não foi diferente, com exceção da ausência de vovô. Dona Leonor acordou antes de mim e preparou um super café da manhã, com direito até ao seu delicioso pastel de nata, meu doce preferido.
Hoje seria meu primeiro dia como funcionária efetiva na Indústria Bragança, e graças a ansiedade que eu estava sentindo, não pensei muito na saudade sufocante. Eu não tinha tempo para nostalgias.
Após um início de manhã preparado com todo amor e carinho pela minha avó, tomamos café, recebi sua benção e segui para o trabalho. Em minhas mãos, levava uma caixinha de docinhos para dar para a senhora Carmen, como forma de agradecimento pela oportunidade que me deu.
Cheguei à empresa com meia hora de antecedência, como de costume, e fui direto para o terceiro andar. Já estava bem familiarizada, e conhecia todos os setores. O único lugar que eu não havia conhecido e tinha o acesso restrito, era a área operacional, onde fabricavam e tratavam os aços e ferros fundidos. Por segurança, devido ao alto risco essa área ficava em um galpão bem afastado do prédio administrativo.
Enquanto aguardava a chegada da senhora Carmen, me sentei e peguei uma das revistas dispostas sobre a mesa de centro próxima à sua sala. Folheei as páginas dando uma breve olhada nas notícias, quando avistei uma foto dela ao lado de três homens.
"A executiva Carmen Bragança recebe mais uma vez o prêmio de mulher empreendedora ao lado de seus sócios..."
Carmen Bragança?
Então ela era... a dona da empresa! Eu suspeitava que sua função fosse importante e sabia que ela tinha muita autoridade, mas não imaginei que fosse a dona. Embora tivesse toda a postura e elegância, a sua simplicidade e a forma como falava com todo mundo de igual para igual como se fosse uma mera funcionária era surpreendente.
Por não ter experiência, eu não sabia quase nada do mundo corporativo. Mas, a visão que eu tinha dos patrões era completamente diferente... distante. Ou talvez a senhora Carmen fosse uma rara exceção.
Fiquei aturdida e percebi que falhei totalmente em não saber quem eram os meus chefes. Foquei tanto em aprender sobre a empresa e como funcionava uma indústria siderúrgica que esqueci desse pequeno detalhe. Precisava me atentar mais, afinal, eram eles que pagavam o meu salário. E antes que eu pudesse voltar minha atenção para a foto, ouvi a voz dela e fechei a revista, levantando-me.
— Olá, Catarina — disse, caminhando na direção da sua sala. — Me acompanhe.
— Bom dia, senhora Carmen! — falei, seguindo-a. — Trouxe alguns docinhos para você, espero que goste. — Estendi a caixinha.
— Ah, querida! — Segurou a caixinha e a abriu, sorridente. — Quanto capricho... ainda é cedo, mas sou obrigada a experimentar um — concluiu.
— Por favor.
Em seguida, ela pegou o brigadeiro branco recheado com uva e o colocou na boca. Apreensiva, aguardei até que terminasse de comer.
— Catarina, esse é o doce mais gostoso que eu já comi.
— Fico feliz que tenha gostado. Espero que goste dos outros sabores também — respondi, aliviada.
— Tenho certeza de que irei amar. E digo mais, essa caixinha não durará até o final do dia, principalmente se o meu filho descobrir a existência dela. — Pareceu nostálgica ao comentar.
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[DEGUSTAÇÃO] Protegida pelo CEO
Roman d'amourSolidão. Esse é o maior medo de Catarina de Albuquerque, de viver eternamente na solidão. Uma jovem que, ainda criança, teve que aprender a lidar com a dor da perda, do luto e da saudade. Ela tinha sonhos. Os mais belos. No entanto, todos eles tiver...