Capítulo 25 - eu sou um coração ferido

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Changkyun

Tiro a manhã de folga para ficar com Minhyuk e, mesmo que ele durma até as onze, me certifico de não deixá-lo sozinho, não depois da crise que teve ontem à noite. Escutar seus gritos e o encontrar no chão com o nariz sangrando e as mãos tremendo muito é uma cena que ainda consigo enxergar com clareza na memória. Seu corpo parecia frágil, as cicatrizes sendo destacadas no banho... Eu sabia que sua mente estava uma bagunça e podia ver isso com meus próprios olhos.

Dormi aos picados a noite toda, despertando sempre que Minhyuk se movia. Vez ou outra ele murmurava alguma coisa desconexa e meu coração acelerava ao imaginar que um novo flashback poderia tomá-lo de repente. Tem sido assim há alguns dias, nos quais me preocupo com todas as suas personalidades por igual, até mesmo Kihyun, com quem meus instintos dizem que é preciso ter cuidado.

Minhyuk acorda e pergunta o que estou fazendo aqui quando deveria estar no trabalho. Aviso que irei apenas na parte da tarde e então o acompanho em todas as tarefas, deixando-o apenas para esquentar algo para o almoço. Ele parece muito bem, apesar das olheiras no rosto, e pede desculpas por ter me assustado. Conta o que viu e diz estar preocupado com Shownu, o real portador das memórias que vêm lhe invadindo.

— Você vai ficar bem? — ele concorda, sentando-se na frente do computador para trabalhar enquanto saio, a preocupação me atingindo com ainda mais força assim que coloco os pés na calçada.

Não está sendo fácil lidar com as crises, mesmo já tendo passado por momentos complicados antes. Cada personalidade já me ofereceu algum tipo de obstáculo, em variadas formas e intensidades, mas sei que é diferente dessa vez. Dou o meu melhor para não deixar os problemas interferirem em meu trabalho, mas sei que meus colegas percebem - e tenho sorte de eles serem bastante compreensivos, além de discretos.

É Youngjae quem pergunta sobre Minhyuk e aproveitamos o intervalo para subir até a cobertura para conversar. Alguns colegas estão ali fumando e outros apenas tomam café observando os topos dos edifícios, cada um com suas frustrações próprias. Nos sentamos num dos bancos próximos da platibanda e respondo que está tudo bem, mas meu amigo sabe que estou mentindo.

Por essa razão e, dada a sua insistência, conto-lhe que Minhyuk está tendo flashbacks com mais frequência e que as personalidades estão se fundindo de forma inesperada e rápida. Nenhum de nós entende muito bem sobre o distúrbio, tendo pesquisado sobre ele na internet, onde conseguimos apenas uma base de como tudo funciona, mas é fácil para Youngjae entender que traumas são capazes de trazer o sofrimento de volta quando menos se espera.

— Ele continua se tratando com a doutora Kang? — ele indaga e respondo que sim, ao que ele elogia o trabalho dela, com quem também se consultou quando era preciso.

Sem o acompanhamento psicológico, talvez Minhyuk já tivesse sucumbido a todo o sofrimento. Youngjae confessa que notou a diferença quando estivemos em sua casa na última vez e que esteve preocupado comigo desde então. As minhas faltas também alertaram a todos no escritório e sei que não tocam no assunto por receio de me deixarem chateado. Repito que é só uma fase e que logo Minhyuk vai estar recuperado, o que o faz sorrir em concordância.

— Não conte isso pro Yugyeom porque ele vai se achar, mas ter alguém ao nosso lado sempre ajuda nessas horas — Youngjae diz, dando um gole em seu café antes de continuar. — Ele é meu melhor amigo e se eu não o tivesse do meu lado, talvez... Você sabe, foi difícil me livrar do passado, mas eu consegui... Eu sei que são situações diferentes, mas tenho certeza de que Minhyuk também vai sair dessa.

— Obrigado — agradeço com sinceridade e ele me dá dois tapinhas nas costas.

Voltamos às nossas mesas e tento focar nas tarefas, vez ou outra enviando mensagens que são respondidas com a forma divertida de Minhyuk, o que me faz acreditar que hoje ele está realmente bem. Penso no que Youngjae me disse e coloco fé em suas palavras, afinal, consigo me lembrar de como era quando ele estava saindo do relacionamento abusivo e tendo dificuldades que ele achava que nunca seria capaz de superar. Yugyeom esteve com ele o tempo todo, acolhendo-o em sua casa e cuidando dele como podia, dois amigos que se tornaram inseparáveis.

All The Demons Of My Soul | ChangHyukOnde histórias criam vida. Descubra agora