Escrita por Caroolx
Harry abriu os olhos e, como sempre fazia, todas as manhãs, consultou o relógio de cabeceira. Com um sobressalto, concluiu que eram quase sete horas, e em geral ele acordava antes das seis.
A primeira coisa que lhe ocorreu foi que o relógio devia estar com problemas.
Por isso, pegou o relógio de pulso de dentro da gaveta do criado mudo... Que marcava seis horas e cinquenta minutos.
- Minha nossa!- Harry exclamou, erguendo-se de um salto.- Como pude dormir tanto?
Na verdade, ele passara boa parte da noite acordado... e quando por fim conseguira adormecer, fora assaltado por estranhos sonhos.
Talvez por isso, seu relógio biológico ressentira a quebra do ritmo. E o resultado ali estava: pela primeira vez, em muitos anos, Harry perdera a hora de se levantar.
Dirigindo-se ao banheiro, lavou o rosto com água fria, para afastar de vez os últimos resquícios de sonho. Em seguida despiu-se, ligou o chuveiro e entrou sob o forte jato de água. Não havia tempo a perder.
Naquela manhã, ele teria de receber um importante comprador, que viria especialmente de Ontário, conhecer de perto seus cavalos de raça.
Isso, sem contar as tarefas corriqueiras da fazenda, que lhe tomariam o dia todo. Felizmente, Harry contava com um administrador competente e leal, além de uma boa equipe de trabalhadores.
Mesmo assim, ele fazia questão de estar à frente de todas as funções necessárias ao bom andamento da propriedade. Esse era o segredo, que mantinha a Fazenda Rocky Ridge no topo da lista das mais bem-sucedidas da região.
Harry não gostava de admitir, mas no fundo sentia-se orgulhoso pelo trabalho que desenvolvia na Rock Ridge. Quando herdara a fazenda, após a morte do pai, tivera muito trabalho para reestruturá-la e torná-la produtiva. Durante anos, o velho James Potter havia abandonado a administração da fazenda ao encargo de um capataz bastante desonesto. Esse fato, somado à grande paixão de James pelos cassinos, havia sido decisivo para a falência da propriedade.
Assim, quando Harry finalmente se tronara dono da Rock Ridge, encontrara o local praticamente em ruínas. E tivera de lutar muito, para recuperá-lo.
Felizmente, contara com o apoio total da mãe.
Mas, aquele tempo, Harry não sabia o quando isso significava. Era jovem, arrojado e decidido a vencer na vida, a qualquer preço. Achava, portanto, natural que a mãe e o resto do mundo o apoiassem incondicionalmente.
Somente alguns anos depois, quando um terrível golpe do destino o abatera, apressando seu processo de amadurecimento, Harry aprendera a valorizar o amor, e solidariedade e outras riquezas impalpáveis que afinal, consistiam no verdadeiro sentido da vida. Depois de uma ducha rápida, Harry vestiu-se para mais um dia de trabalho.
A temperatura cairá visivelmente, durante a noite. E Harry pensou em como estaria se sentindo Hermione, na velha cabana... Teria cuidado para que o aquecedor não se apagasse? Teria conseguido manter aceso o fogão a lenha? E quanto aos lampiões?
Essas perguntas haviam se repetido, muitas vezes, na mente de Harry, durante as horas em que ficara acordado na noite anterior.
De nada adiantara dizer a si mesmo que o conforto de Hermione não era problema seu. Afinal, ela esolvera ficar na cabana, de livre e espontânea vontade. E ele fizera de tudo para instruí-la devidamente, para que sua estada ali fosse agradável. Agora não havia mais nada que pudesse fazer.
Com esse pensamento em mente, Harry deixou sua suíte, que ficava no andar superior da grande casa onde morava. Caminhando pelo corredor a passos largos, desceu a escada que conduzia ao andar térreo.
Da cozinha, vinha o aroma tentador de café recém coado e pão fresquinho. E Harry para lá se dirigia.
- Bom dia, Maggie- ele cumprimentou a velha governanta, a quem conhecia desde criança. Considerava-a como uma pessoa da família e tinha um afeto especial por ela.
Maggie Kurt era uma mulher alta e magra, de sessenta e cinco anos. Seu rosto, já vivado pelo tempo, ainda mantinha um certo vigor... Sobretudo nos olhos castanhos e luminoso. O senso prático de Maggie era sua marca registada.
Mas isso não significava que não possuísse um grande coração. Entretanto, à primeira vista, suas maneiras severa, quase ríspidas, poderiam enganar uma pessoa desavisada. Não era raro que a julgassem uma mulher fria e insensível, devido a essa característica. Entretanto, esse erro de julgamento ocorria apenas com quem a conhecesse superficialmente. Pois todos na Fazenda Rock Ridge, sem exceção, admiravam e gostavam de Maggie.
- Você demorou para acordar, hoje - ela comentou, depois de responder ao cumprimento de Harry. Apontando-lhe um lugar à mesa, acrescentou - Roberto já veio procurá-lo, por duas vezes.
Ela se referia ao administrador, que em geral tomava o café da manhã junto com Harry.
- Algum recado importante?- Harry perguntou, acomodando-se à mesa.
- Não. Mas Robert pediu para avisá-lo que estará no haras a sua espera.
- Certo - Harry assentiu, servindo-se de uma xícara de café - Receberemos um comprador importante, hoje.
- A que horas ele vai chegar?
- Por volta das oito.
- Então, você terá tempo de se alimentar devidamente, até lá. E pode começar com um bom copo de água...- sem perguntar se Harry estava com sede, ou não. Maggie encheu um grande copo com água cristalina e colocou-o diante dele, enquanto recomendava:- tome antes do café, para limpar as paredes do estômago. Este é o segredo para uma vida saudável, sabia?
- Como poderia me esquecer, se você repete essa ladainha todas as manhãs, minha cara Maggie?
- E isso não adianta nada, pois você sempre se esquece de minhas recomendações- Maggie retrucou.
Sorrindo, Harry sorveu a água em pequenos goles.
- Bem, será que agora posso tomar meu café em paz?
Maggie sorriu de volta e, dirigiu-se ao fogão, abriu a porta do forno e retirou uma forma com pães caseiros, quentinhos...
- Parecem deliciosos...- Harry comentou.- Como tudo o que você faz.
-Ora, pare de me adular e trate de comer, sim?
-Você nunca aprendeu a receber um bom elogio, não é mesmo?
- Já chega de tagarelar, menino- Maggie protestou, sem conseguir disfarçar o embaraço.- Tome seu café, vamos.
- Você às vezes se esquece de que tenho trinta e dois anos- disse Harry, escolhendo um pão.- Portanto, estou mais perto da velhice do que da infância... Já pensou nisso, Maggie.
- Não. E nem quero pensar. Deus não me concedeu a graça de ter meus próprios filhos. Mas me deu você, a quem ajudei a criar. Para mim, você sempre será um garoto teimoso, tagarela e...
- Adorável?- ele provocou.
- Convencido!- ela rebateu, com uma expressão de ternura nos olhos castanhos.
Levantando-se, Harry beijou-a em ambas as faces. Era com Maggie, apenas com Maggie, e as vezes com Lilian Potter, que ele se permitia esse tipo de derramamento. As duas eram as mulheres de sua vida, como Harry costumava dizer.
Quanto aos outros seres humanos... Ele preferia mantê-las a uma distância prudente. E quando esses seres eram sensíveis e encantadores como Hermione Granger e seu sobrinho Jamie... Essa distância deveria ser ainda maior. De preferência, um abismo intransponível, para evitar riscos.
Em outras palavras, o coração de Harry estava fechado para balanço, havia cinco anos. E a perspectiva de reabri-lo parecia tão remota quanto os picos das mais altas montanhas de Kananaskis. Já com respeito às mulheres...
Bem, Harry havia encontrado um modo de relacionar-se com elas, sem se expor a sofrimentos desnecessários. Mantinha seus namoros passageiros num plano meramente superficial. Tratava as mulheres com respeito e até com carinho. Mas não deixava, nunca, que seus sentimentos se transformasse em paixão, e muito menos em amor. Esses dois termos estavam riscados de sua vida, para sempre. Já a felicidade... Essa palavra fictícia e enganosa, Harry a excluíra de seu dicionário havia muito tempo.
- Que bicho o mordeu?- Maggie indagou, enquanto ele terminava o café.
- Nenhum... Por que pergunta?
- Porque você está diferente, nesta manhã.
- Impressão sua, Maggie - Harry desconversou.
-Sei...- a governanta retrucou, incrédula.- Desde quando você pensa que me engana, garoto?
Harry sorriu, mas nada disse.
- Coma mais um pãozinho. – Maggie sugeriu.
-Não, obrigado, já estou satisfeito.- Harry levantou-se.- Bem, até logo.
- Não vai me contar como foram as coisas, ontem?
- Que coisas, Maggie?- ele indagou, pacientemente.
- Ora, você foi buscar os hospedes de Lily, lá no aeroporto, lembra-se? Depois ligou para cá, avisando que o avião ia se atrasar. E quando finalmente chegou aqui, no final do dia, estava com um ar de poucos amigos que nem lhe conto...
- Tudo correu muito bem. Os hóspedes já estão na cabana, devidamente instalados. E agora, se não se importa, vou cuidar de minha vida.
- Mas é claro que me importo- Maggie protestou.- Ao menos me conte um pouco sobre eles.
- Depois, Maggie- Harry a interrompeu.- No momento, estou muito atrasado.- E sem dar-lhe chance de insistir, Harry saiu da cozinha. Atravessou o corredor e estava chegando à sala, quando o telefone tocou.- Eu atendo!- anunciou, apressando-se para alcançar o aparelho, que ficava sobre um móvel - Alô?
- Filho!- Lilian Potter exclamou, alegremente, do outro lado da linha.- Que adorável surpresa encontrá-lo em casa. Achei que você já tinha saído para trabalhar...
- De fato, eu deveria estar lá fora, cuidando dos preparativos para receber um comprador importante, que chegaria de Ontário nesta manhã- Harry explicou.- Mas acabei me atrasando.
- Algum problema, querido?
- Não, está tudo sobre controle. E a senhora, como vai? Chegou bem às Bahamas?
- Sim, fiz uma viagem ótima, graças a Deus.
- Fico feliz em saber, mamãe. E agora me conte quais são as novidades.
- Eu é que pergunto, querido: como vão as coisas por aí? Hermione Granger e o sobrinho chegaram?
- Sim, depois de horas de atraso. Esperei uma eternidade no aeroporto. Mas, enfim, levei-os para a cabana.
- Quer dizer então que as coisas estão correndo às mil maravilhas?
- Pode-se dizer que sim, mamãe... Exceto por um pequeno detalhe, que quase pôs tudo a perder.
- Como assim, filho?
- Bem, a senhora se esqueceu de contar a Hermione que a cabana não possui energia elétrica. E isso a deixou terrivelmente desconcertada... Ao menos a princípio.
- Não diga!- a mãe elevou a voz, num tom dramático.- Oh, como pude me esquecer disso?- Antes que Harry respondesse, ela indagou:- Mas conte-me, querido como Hermione reagiu?
- Ficou desconcertada, como já disse. Cheguei a pensar que ela desistiria das férias. Mas, depois, resolveu ficar.
- E o que ela achou da decoração que fiz na cabana, para o Natal?
- Acho que Hermione não teve tempo de reparar nisso. Estava preocupada demais com a perspectiva de passar os próximos dias sem eletricidade. Além do mais, precisava de toda a sua energia para aprender, rapidamente, a lidar com o fogão a lenha, o aquecedor...
- Essas coisas são meros detalhes- Lilian aparteou.
- Detalhes? - Harry repetiu, incrédulo.- São essenciais à sobrevivência de Hermione e do pequeno Jamie, nos próximos dias!
- Bem, que sejam.- E a mãe, que jamais desistia de um argumento ou de uma pergunta, indagou:- Mas, diga-me, o que o garotinho achou da decoração que fiz na cabana para o Natal?
- Acho que ele também não teve tempo de vê-la, mamãe. Ao menos não enquanto eu estive lá. Mas a essa altura, tanto Hermione quando o sobrinho já devem estar apreciando sua decoração.- Harry sorriu.- Está satisfeita, agora?
- Não muito, querido. Quero que você pergunte isso a ambos, pessoalmente. A propósito, quando você pretende visitá-los?
- Não pretendo- Harry respondeu, colocando-se na defensiva depressa demais.
- Não?!- Lílian repetiu, chocada, como se ele houvesse proferido uma blasfêmia.- Meu filho, como pode ser tão insensível? Como pode abandonar duas pessoas indefesas, vindas da cidade grande, naquela cabana na montanha?
- Espere um momento, mamãe- Harry reagiu, com firmeza.- A ideia de levá-los lá não foi minha, lembra-se? Aliás, e nem teria me envolvido nessa história, se dependesse de minha vontade.
- Isso agora não vem ao caso. O que realmente importa é que você deve prestar uma assistência aos nossos hóspedes.
- Seus hóspedes, mamãe- Harry a corrigiu.
- Ora, não complique ainda mais as coisas, rapaz- Lilian o censurou, como se ele fosse uma criança.- Você sabe muito bem que eu faria de tudo para dar aos Granger as melhores férias do mundo, se pudesse estar aí.
- Acontece que a senhora não está aqui, mamãe.
- As circunstâncias me levaram...
- Até as Bahamas- Harry completou.- E, assim, acabei tendo de me encarregar dessa, digamos, adorável função.
- Ora, não seja irônico, meu filho. Até parece que lhe pedi algo impossível, ou desagradável...
- A senhora sabe muito bem que nunca estou disponível, quando se trata de fazer relações sociais.
- Pois deveria se corrigir, querido. aposto que Hermione Granger e seu sobrinho tornaram seu dia de ontem muito mais interessante.
- Demais – Harry afirmou, com uma ponta de sarcasmo.- Passei horas no aeroporto e perdi horas de trabalho, para recebê-los.
- Você fez uma boa ação, querido. E saiba que lhe ou muito grata por isso.
- Obrigado, mamãe.- Lançando um olhar ao relógio de parede, que indicava sete e quarenta da manhã, Harry despediu-se:- Desculpe, mas preciso desligar, agora. Tenho de cuidar...
- Dos afazeres diários, eu sei, querido- Lilian completou.- Mas antes de nos dizermos até logo, quero pedir um favor...
- Sim?
- Vá visitar nossos hóspedes, meu bem. Talvez eles estejam precisando de alguma coisa... Ou apenas de um pouco de calor humano...
- Essa é a parte complicada.- Harry não pôde deixar de dizer.- Quantas vezes terei de repetir, mamãe, que não estou disposto a...
- Ora, você parece um velho rabugento, com essa mania de se fechar para as pessoas. O que lhe custa dar uma olhada em nossos hóspedes?
Custava muito, Harry bem o sabia. Sobretudo porque Hermione tinha um toque de pureza e sensualidade que ele jamais vira em mulher nenhuma... Sem contar os olhos perigosamente luminosos e cativantes. Olhos que inspiravam ternura, confiança entrega... Essas armadilhas terríveis, que eram bem capazes de destruir um homem.
Harry já provara desse sofrimento. Já amara uma vez e julgara ser correspondido. Ao descobrir seu engano, vira seu mundo desmoronar, como um castelo de cinzas.
Por muito tempo, acreditara que jamais conseguiria se recuperar. Mas o tempo o ajudara a curar as feridas. Agora, ele era imune.
Mas nem por isso se sentia no direito de abusar da sorte.
Sobrevivera a uma terrível desilusão, certa vez. Considerava esse fato como um milagre. Mas os milagre não se repetiam. Quase nunca... Aos trinta e dois anos, Harry sabia que não conseguiria superar uma segunda desilusão.
Recuperara a autoconfiança e reconstruirá seu mundo, peça por peça, passo a passo... E nada, nem ninguém, nem mesmo Hermione com sua beleza e encanto, nem o pequeno Jamie, com sua inocência poderiam demovê-lo de sua decisão.
- Filho, você ainda está ai?- a voz de Lilian interrompeu os seus pensamentos.
- Sim, mamãe. Mas, realmente, preciso desligar. Vou receber um comprador de Ontário, daqui a vinte minutos. E ainda nem conversei com meu administrador.
- Tudo bem, não quero atrapalhá-lo mais. Apenas, prometa-me que dará um jeito de cuidar do bem-estar de nossos hóspedes.
-Talvez eu peça a Robert para dar um pulo até lá, mais tarde.
- Vá pessoalmente, querido.
- Por que essa exigência, agora?- Harry reagiu, irritado.
- Porque tenho certeza de que você se sentirá bem em ajudar nossos amigos.- Um profundo suspiro brotou do peito de Harry:
- Vamos deixar uma coisa bem clara, mamãe: Hermione Granger e o pequeno Jamie não são nossos amigos. Na verdade, a senhora nem sequer os conhece pessoalmente. Portanto...
- Portanto, faça o que sua mãe pede e seja um bom menino - Lílian aparteou.- Agora vá cuidar de seus afazeres, querido. A propósito, minha amiga Molly está lhe mandando lembranças.
- Lembranças para ela, também, mamãe - Harry respondeu.- E tenha um bom dia.
- O mesmo para você, querido. Dê um abraço em Maggie por mim.
- Será dado. Até logo.
- Até...
Harry desligou o telefone e, pegando o chapéu que deixara pendurado num gancho da porta, na noite anterior, saiu de casa.
Lá fora o vento soprava, inclemente. Vinha do norte e era gélido.
- Vento que promete neve...- Robert, o administrador, comentou, ao ver Harry aproximar-se do haras.
- É verdade- Harry concordou, pensando que Hermione e o pequeno Jamie ficariam satisfeitos, se a neve caísse realmente.
Harry não se lembrava muito bem, mas ouvira o menino dizer qualquer coisa sobre um pedido que fizera ao Papai Noel, para ter um Natal com muita neve.
Lilian também lhe falara sobre isso. Harry meneou a cabeça, decidido a pensar em coisas mais sérias.
As pessoas eram mesmo engraçadas, ele concluiu, enquanto percorria o haras, ajudando Robert a separar os cavalos que seriam mostrados ao comprador de Ontário.
As pessoas davam importância a coisas tolas, tais como Natal cheio de neve.. Que bobagem! Afinal, que importava se nevasse ou não, nos próximos dias? Que importava o Natal, enfim? Deixando essas cogitações de lado, Harry concentrou-se no que tinha a fazer. Afinal, precisaria de toda a seu capacidade para fazer um bom negócio.
Para Harry, a expressão bom negócio não significava levar vantagem sobre outra pessoa, ou trapacear numa transação comercial. Ao contrario: para ele, um bom negócio só acontecia quando ambas as partes ficavam satisfeitas. Pelo que Robert lhe dissera, o comprador de Ontário era um homem correto, francamente interessado em adquirir cavalos de raça. A equitação era seu hobby preferido.
O que Harry desejava era oferecer-lhe cavalos verdadeiramente saudáveis, próprios para a prática da equitação, pelo melhor preço possível... Mas um preço justo, que deixasse ambos satisfeitos e com vontade de negociar novamente.
Essa era a regra principal de Harry, com relação às transações comerciais. Mas isso ele ó descobrira nos últimos anos... No início, quando herdara a Rocky Ridge, Harry não pensava assim. Trabalhava arduamente, era verdade, para erguer a fazenda e torná-la rentável. Mas seu grande objetivo era vencer, suplantar sós concorrentes, colocar-se no mercado, ocupar uma posição privilegiada e respeitável. Não agia assim apenas por amor ao trabalho, mas por uma questão de orgulho.
Queria ser um vencedor, sentia-se superior aos outros seres humanos, sobretudo aos demais criadores da região. Um golpe do destino, que quase lhe roubara a vontade de viver, o fizera a repensar seriamente seus pontos de vista.
Aos poucos, o homem arrojado e implacável fora se tornando mais justo... A princípio, isso ocorrera à custa de um grande sofrimento. Depois a lição fora se concretizando em pura filosofia de vida.
Harry e Robert levaram cerca de quinze minutos para separar os animais que seriam submetidos à apreciação do comprados. Enquanto cuidavam desses preparativos, conversavam sobre os assuntos da fazenda. O comprador chegou pontualmente, às oito horas. Após alguns minutos de conversa, Harry percebeu que o homem entendia do assunto. E que estava fascinado com a qualidade e beleza dos seus cavalos.
Essa constatação, que em geral lhe causava orgulho e bem-estar, pouco influiu em seu estado de espírito. Na verdade, a todo momento Harry se desconcentrava da conversa, para pensar em Hermione e no pequeno Jamie... Como estariam se sentindo lá na cabana? Como teriam passado a noite?
Por duas vezes, Harry perdeu totalmente o fio da conversa, com o comprador. E se Robert não o socorresse, teria ficado realmente constrangido. Pois simplesmente deixara de ouvir o que o comprador falava, enquanto sua mente voava para Hermione e Jamie... O negócio foi fechado cerca de uma hora e meia depois. Como era praxe, Harry convidou Robert e o comprador para um café, na cozinha da fazenda.
Quando o comprador finalmente partiu, Harry e Robert o acompanharam até a porteira, que dava acesso a uma pequena estrada que levava à rodovia.
- Foi um bom negócio...- disse Harry.- Para todos nós.
- Sem dúvida- Robert concordou.
- Você receberá sua porcentagem, como sempre acontece, nesses casos.
- Obrigado, Harry.
- Não me agradeça, amigo. Sua participação foi essencial, para que tudo corresse a contento.
- Você também se portou muito bem... Como sempre, aliás.- O administrador hesitou, antes de indagar:- Mas será que posso lhe fazer uma pergunta?
- Claro, Robert. O que quer saber?
- O que está acontecendo com você?
- Nada...- Harry respondeu, com estranheza.- Por que me pergunta?
- Porque você parecia tão alheio e distante, em certos momentos importantes na negociação. Achei que estivesse com algum problema.
- Ora, não se preocupe- Harry o tranquilizou.- Não há problema algum. Apenas, não dormi muito bem a noite passada. Custei muito a pegar no sono, acabei perdendo a hora... E isso me deixou desgastado.
Robert fez um gesto de assentimento, enquanto comentava:
- Também me sinto assim, quando durmo mal.- Após um instante, sugeriu:- Por que você não tira o resto do dia para descansar? Não temos nada muito importante para fazer, hoje, na fazenda. E já cumprimos com nosso compromisso principal.
Harry sorriu, enquanto cruzava os braços:
- Escute aqui, Robert... Se você ver Harry Potter se deitar, durante o dia, trate de chamar um médico... Pois ele deve estar seriamente enfermo. Agora pare de falar bobagens, homem. E vamos ao trabalho.
Sorrindo de volta, Robert comentou:
- Este é o Harry Potter que conheço.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Magia do Natal (REPOSTADA)
FanficSim, Jamie, o Papai Noel existe... Ao menos era disso que Hermione Granger queria convencer seu pequeno sobrinho. O problema era que, ao contrário dos outros garotos, ele desejava dois presentes bem singulares: neve e...um papai! O que Hermione pode...