Comportamento suspeito

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YONSEI University
Domingo – 31 de Outubro.


Acordei em um susto.

Minha respiração estava rápida, eu arfava como uma necessitada, como se tivesse passado muito tempo debaixo d'água.

E as lembranças voltaram frescas na minha cabeça, misturada a dor, o sangue, e a coisa que me matou. A respiração estava ritmada enquanto enfiava a faca em mim.

Eu morri? Sim, eu morri, e quebrei uma regra.

A quarta regra quebrada.

Apalpei o meu peito, tudo intacto, nada de sangue, apenas pele macia debaixo dos meus dedos. Alguma coisa estava errada, não-natural.

— Ei? Tá tudo bem?

Franzi o cenho ao encarar o homem deitado na cama, ao meu lado, pelado, com os cabelos negros até o queixo e o rosto amassado de sono.

Olhei para o meu próprio corpo, meu corpo? Não, eu não podia dizer isso com tanta certeza. Eu estava pelada também, mas aquele corpo não era meu.

— Que porra...? — balbuciei.

Minhas mãos tatearam a esmo até agarrar a primeira coisa que vi, o abajur, e acertei a cabeça do garoto. O baque fez a cabeça dele tombar para o lado, mas ele não apagou, como deveria ter acontecido, como acontecia em qualquer filme que vi na vida, ele apenas soltou um "aí" prolongado enquanto os meus gritos tomavam conta do quarto.

— Eu fui... meu Deus? Você é um tarado!? Como...? — Sai da cama, enrolando no lençol. Ele me encarava com os olhos arregalados. — Você entrou aqui enquanto eu estava dormindo? É isso? Você me estuprou?! Essa irmandade é feminina! ALGUÉM ME AJUDA! O QUE TÁ ACONTECENDO!?

— Porra, você pirou, Rosé!? Que merda...?

Os primeiros toques do outro lado da porta surgiram, vozes femininas me pediam para abrir a porta, mas... Rosé? Ele me chamou de Rosé? Olhei para o quarto e tentei prestar atenção em algo que não fosse o emo pelado na minha cama. Aquele não era o meu quarto. Aquele era o quarto de Rosé. Caminhei aos tropeços até o guarda-roupa espelhado.

Eu era a Rosé.

Os cabelos vermelho-cereja até a cintura, os olhos pequenos em um delineado que agora estava borrado e as maçãs do rosto altas. Aproximei-me do espelho, tocando o meu reflexo. Eu, Jennie, estava no corpo da Rosé.

As vozes do lado de fora aumentaram, elas queriam arrombar a porta, e o garoto ficou alarmado. Ele se aproximou e agarrou meus ombros, balançando-os.

— O que você tomou ontem!? Rosé, me responde! O que...

— Eu to bem! — gritei. Não, eu não estava. — Eu tô bem! — gritei de novo, para as garotas do outro lado da porta. Meus olhos não saiam do garoto, eu o encarava como se não tivesse certeza da minha sanidade mental. — Foi só... um sonho!

Sonhos, claro! Eu estava em um sonho vivido, daqueles que te faz achar estar acordado quando estava dormindo. Eu já vi um filme assim. Drogas, há a possibilidade de ser drogas. Drogas são capazes de tudo! Eu já fui drogada uma vez e achei estar na Disneylândia.

Eu não morri de verdade, foi um delírio causado por algum efeito colateral e a minha mente me fazia acreditar estar no corpo de Rosé. Eu preciso acordar. Comecei a me beliscar, toquei o rosto do garoto, puxei suas bochechas, parecia bem real, o que era estranho.

Ele franziu as sobrancelhas.

— Eu estou com medo de você.

— Qual o seu nome? — perguntei. — Que dia é hoje?

Regra número 4Onde histórias criam vida. Descubra agora