Nosso Amor é Arte

Tinta no Tapete

~ Inspirado por borgonha

Setembro de 1922

~ Carlisle

Fazia exatamente um mês e doze dias desde que me tornei um homem casado.

A vida de casado, embora totalmente feliz, certamente não era uma fuga da realidade. Durante aquelas primeiras semanas, Esme e eu nos tocamos mais do que conversamos. Houve momentos difíceis entre nós - momentos em que costumávamos tocar para escapar de falar -, mas isso era de se esperar. Embora nos conhecêssemos mais intimamente do que qualquer outra pessoa no mundo, ainda não sabíamos tudo o que havia para saber sobre o outro.

Ainda havia coisas sobre as quais fantasiei, coisas que ainda guardei para mim mesma. Na privacidade da minha mente, eu ainda a imaginava fazendo coisas e dizendo coisas que ela não tinha dito ou feito ainda. Muitas páginas em branco de um diário estavam escurecidas por segredos que ela ainda não sabia. Eu sabia que ainda tinha uma eternidade para experimentar tudo com Esme, mas meu coração estava impaciente. Todos os dias, uma parte de mim ficava nervosa, esperando para ver que nova peculiaridade ela poderia revelar para mim, seu marido tímido, mas apaixonado. Muitas vezes me perguntei se ela me conhecia bem o suficiente para saber no que eu estava realmente pensando.

Esme mudou desde que nos casamos. Mais ainda desde que fizemos amor. Notei algo diferente na maneira como ela se portava. Ela tinha certeza de movimento, segurança de passo. Ela estava menos apressada, mais calma, mas apenas ligeiramente. Se houvesse alguma tensão gravada em seu corpo antes, ela havia sido suavizada. Era como se eu tivesse varrido minha mão sobre uma toalha de mesa e enxotado as rugas até que desaparecessem.

Ela já não arqueava os ombros levemente quando ficava sozinha. Agora ela mantinha o queixo paralelo ao chão e relaxava os ombros. Ela ainda observava cada movimento que eu fazia com admiração, mas não havia mais brilho inexplicável de medo em seus olhos quando o fez. Agora havia apenas um brilho de conhecimento, uma afeição calorosa. Um brilho de segurança e contentamento.

Eu imaginei que devo ter olhado para ela da mesma maneira.

Desde que me casei com Esme, eu tinha mudado.

As mudanças eram quase profundas demais para serem detectadas no início, mas eu sabia que não poderia escondê-las de pessoas que me conheciam bem o suficiente. Achei que talvez a maneira como me portava também pudesse ter mudado. A posição dos meus ombros traiu minha confiança recém-adquirida? Meus movimentos eram agora tão suaves e equilibrados quanto os de Esme? Meus olhos revelaram a verdadeira natureza do meu orgulho? Há tantas perguntas que eu gostaria de ter respondido. Eu tolamente acreditei que o casamento acabaria com todas as minhas perguntas, mas tudo que ele fez foi abrir meu apetite para aprender mais sobre mim mesmo e mais sobre essa criatura deslumbrante que chamei de minha esposa.

Eu podia sentir um inchaço em minha alma, a mais profunda garantia de que era necessária para mais do que apenas ajudar e curar humanos. Essas não eram mais as tarefas mais exigentes que eu tinha que cumprir. Agora existia um nível acima de meus deveres como médico, ficando atrás apenas de minhas devoções espirituais, e não muito atrás.

Sempre pensei que meu amor por Esme permaneceria constante como no dia em que nos conhecemos. Mas logo aprendi que nosso amor mudou tão profunda e dinamicamente quanto mudamos a nós mesmos. Eu estava cultivando o amor com minha esposa, e esse amor era como um jardim, necessitando de cuidados constantes. Havia dias bons em que o sol brilhava e dias ainda melhores em que o sol e a chuva se misturavam e dançavam. Flores brotavam em nosso jardim e ficávamos maravilhados com as novas e diferentes cores que brotavam a nossos pés. Cada dia era uma nova descoberta, mas as sementes que plantávamos demoravam a crescer. Houve momentos em que tive vontade de me gabar das flores do nosso jardim, mas nosso jardim estava longe de ser perfeito. Quando minhas mãos começaram a doer de arrancar ervas daninhas ocasionais, minha esposa se abaixou e as puxou ela mesma.