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Nathália: Idaí? Você é meu pai?

Geraldo: Não, sou seu pai não, Graças a Deus! Mas sou eu também que ajudo a sua mãe a colocar comida na mesa...

Nathália: Jura? Poxa, que foda.- Debochei rindo.- só não sei o que isso tem a ver com a minha vida. Não é nada meu pra ficar mandando em mim, querer saber da minha hora, pouco me importa se você coloca comida dentro de casa, ninguém foi atrás de você pedir não!

Rosana: Nathália....- Quis me repreender.- olha a boca, tá soltando palavrão por que?

Nathália: Nathália o que? Você que fica deixando esse homem pensar que pode mandar em mim, que saco, ele me da o que? Meu pai é outro, se você quer ele como marido, tá bom! Agora só pede pra ele cuidar da própria vida, não foi ele que me fez não, eu sei muito bem quem é meu pai e quem eu tenho que obedecer.

Rosana: É...um belo pai você tem né? Todo mundo aí na rua deve ter inveja do pai que a Nathália tem.- Debochou de volta rindo.- ele tá falando é pro seu bem, se preocupa com você, devia era agradecer, porque o teu papai tá lá em São Paulo vivendo outra vida, nem aí pra você, não te da nada!!! Entendeu? Nada!!! - Gritou.

Nathália: Você nem sabe, ele vai me dar sim. Se preocupa comigo sim, você só não sabe porque quando pedi o seu celular pra ligar pra eles você não deixou.

Rosana: Não deixei mesmo, vou gastar crédito ligando pra vagabundo por que?

Geraldo: Deixa, criança não entende as coisas, não adianta, esquenta a cabeça não, uma hora essa rebeldia passa.- Falou com ela.

Rosana: Tem que deixar não, essa menina de uns tempos pra cá ficou muito desbocada. Muito ignorante e ingrata, ela tem que aprender as coisas, ver quem é que ajuda ela e quem não faz nada.

Nathália: Quero saber quem é que me ajuda aqui, só isso, quem? - Cruzei os braços.

Rosana: Tá vendo? Depois reclama, quando não dou uma folga, ela acha ruim. Mas tá vendo como que é? Só quer viver na rua, fazendo o que bem entende da vida. Ela e aquela Gabriela, a garota que só anda passando na mão de bandido, todo mundo fala que não vale nada, mas você não sai do pé dela, fica atrás procurando motivo pros outros falarem de você...- Cortei ela.

Nathália: Ela é errada mas pelo menos não vive fingindo ser quem não é, tá aí uma coisa que pouca gente sabe ser...verdadeira! Deixa ela com a vida dela, ninguém tem que se meter não!

Rosana: Porra, tá ouvindo uma coisa dessa? - Virou pro outro rindo.- é sacanagem ouvir isso, tu não acha não? - Negou com a cabeça.- sai daqui vai Nathália, sai que eu não tô nem com vontade de ficar olhando pra essa tua cara.

Nathália: Precisa mandar não, eu saio, não faço questão! - Falei e virei pra sair.

Só que quando eu fiz isso, fui despercebida pro caminho do quarto, não esperava que ela fosse me pegar por trás mas ela pegou, me grudou pelos cabelos e eu gritei na mesma hora de dor, ela puxou firme.

Nathália: Aiiii, me solta, solta meu cabelo.- Gritei de dor.

Rosana: Solta meu cabelo um caralho, tu acha o que? Em? Que vai ficar me respondendo? Tá doida você? Sabe que toda vida, eu nunca deixei nem você nem sua irmã se crescer pra cima de mim, não é agora que vai ser diferente.- Me balançou pelos cabelos.

Nathália: Covarde!!! - Gritei na cara dela.

Rosana: Covarde? Por que eu sou covarde? Onde eu fiz de covardia contigo? Pelo contrário, você tá aí provocando, cheia de resposta na ponta da língua pra dar, e agora quer achar ruim?

Geraldo: Rosana, solta a menina, não vale a pena bater, não vai mudar nada, solta ela.- Tentou se meter mas ela nem quis deixar ele falar.- bater só vai piorar, não faz isso, deixa ela, é besteira.

Ela segurando no meu cabelo estava e assim ficou, pegou a sandália do chão e veio me acertando nas pernas, de cima a baixo. Eu tentava colocar a mão na frente, engolia a força meu choro, mas não derramava uma lágrima na frente dela!

Única coisa que eu fazia era tentar me defender das chineladas, mas ela me acertava até sem ver, sempre foi assim.

Nathália: Para, sai. Sai, sai...- Berrei empurrando ela pra trás.

Rosana: Vai me bater? Vai? - Veio pra cima novamente voltando a me acertar.- apanha calada, tá ouvindo? Calada!

Geraldo: Chega, Rosana chega, não bate assim na menina não.- Foi segurar ela por trás, mas ela saiu gritando pra cima dele também, falando pra não se meter.

Rosana: Não se mete, você não tá vendo ela querendo me bater? Me empurrando? Quantas vezes eu já disse que quando eu tiver te batendo é pra você apanhar de cabeça baixa e calada? Não procurou isso? Não tava cheia de deboche? Até o pescoço? Tá levando pra aprender, se não aprende falando, aprende na marra porque comigo é assim e todo mundo sabe, se não quer andar no certo comigo, no errado vai sofrer!

Tudo mentira dela, em momento nenhum eu bati, só estava tentando me defender, afastar ela de perto de mim, e assim ela caçou mais motivo ainda pra continuar me batendo, só que uma hora o Geraldo não aguentou mais ver e entrou no meio de vez, parando com a surra.

Não imaginava nunca que ele fosse fazer isso por mim, mas ele fez. Ela maluca querendo continuar a me bater e ele segurando ela a força, me mandou ir pro quarto e eu fui, passei o trinco na porta e só assim eu chorei, chorava me arranhando, querendo morrer de uma vez!

Onde ela bateu com a sandália ardia, tinha a marca certinho, eu olhava pra isso e chorava mais ainda, só queria o meu pai, a minha irmã. Só eu sei do arrependimento que sinto agora por não ter ido com eles! Chega a doer a minha raiva, solidão, medo....

Não aguento mais, passei a noite chorando e o dia trancada no quarto, não fui pra escola, não sai pra tomar café, e nem pra almoçar, chegou uma hora que minha barriga dóia de fome, mas eu não saí mesmo assim, fiquei ali.

Ouvi barulho deles dentro de casa o dia todo, mas quando foi anoitecendo parou, eu percebi que tinham saído, então eu não resisti e sai do quarto.

Coloquei um prato de comida e comi em menos de cinco minutos, nem mastigava direito de tão rápido que eu comia, depois pra ninguém ver eu lavei tudo e deixei no lugar, voltei pro quarto e fiquei deitada de barriga pra cima pensando no que eu podia fazer.

Mas parece que não tinha nada, queria dinheiro, precisava de dinheiro, eu tava tão desesperada, sozinha, que queria ir de todo jeito pra São Paulo atrás do meu pai e da minha irmã, só que como?

Voltei a chorar com isso, porque eu não tinha nada, queria ter meu próprio dinheiro, não queria ligar pro meu pai e acabar assustando, vai que ele não tem agora pra comprar a minha passagem?

Ouvi a hora que eles chegaram, e ouvi também ele perguntando pra ela se eu não ia comer, se iria aguentar ficar tanto tempo assim sem me alimentar, e ela deu risada, disse rindo que era bom mesmo se eu começasse a passar mal, que ela iria me deixar agonizando no chão mas não me levaria pro hospital.

Ouvir isso me machucou muito, muito mesmo, não sei o que fiz pra minha mãe querer tanto o meu mal, pra ela me odiar tanto, as vezes até penso que eu podia bem ter morrido antes de nascer!

Ou ela ter me tirado mesmo, tanto faz, tem gente que não nasce pra ser uma boa mãe, e eu não entendo porque elas escolhem engravidar então se não são capaz de dar amor ao seu próprio filho, por mim todo mundo abortava, melhor que colocar no mundo pra fazer sofrer!

Vício Bandido [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora