Teatro

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Com o olhar gracioso me reconheceu. Cabelos coloridos quase como os meus, chance que não pude recusar. Mesmo com o desejo gritante de negar, mas com todo aquela purpurina e leveza, foi impossível rejeitar as graças do meu primeiro amor juvenil. O segundo cavaleiro foi, de longe, o mais devastador, de tão magistral que foi a minha dor

Só me restam agradecimentos, tornou-se meu amor imaturo, aquele de pré-adolescência, fadado a ser o primeiro e jamais passar disso devido as divergências da vida. O mesmo em que se criam as memórias responsáveis por rubores sem sentido, regado por puro carinho e zelo. Me corta o coração ter acontecido tarde demais, para realmente ser tão infantil. Já passava do terceiro, mas, seu sabor até hoje me faz pensar que foi o primeiro.

Era tudo tão novo, finalmente um cuidado afetuoso. Sem apelo sexual, ou o forte desejo carnal. Éramos como crianças brincando na escola, que acidentalmente cultivaram um sentimento muito maior. Mas não, ambos tínhamos nossos demônios já aflorados, tínhamos sexo, tínhamos a malícia, mas reprimimos em nome de um amor colorido. Seguindo sem o que faz de adultos, adultos.

O Limbo estava de volta ali, brincando com seus brinquedos, fazendo da vida, o mais enganoso teatro, quase como o mesmo clichê dos nossos antecessores. Sem palco montado, com demônios na plateia, interpretando nosso número artístico com pregos nos cantos da boca, era quase como um sonho, ele criou tudo para mascarar, mais uma vez, o voo sem paraquedas. Criando novamente suas facetas, mostrando apenas o que interessava, para se sentir amado, e sempre ter a força de que precisa para construir seu terreno infértil.

Quando o Limbo deixou de ser um estado e finalmente ganhou sua forma de ser, tornou-se predominante, quase dono das cores, tais que não eram mais as originais. A saborosa vida já pertencia aos seus costumes, as ideias fundadas ao que acreditava, se apropriando de outras vigas para se manter vivo e estável.

Já nós, duas torres jovens, mal construídas, com seus buracos e vazamentos. Mas a que anteriormente ousei chamar de minha, não apetecia, então, com as artimanhas necessárias invadimos a dele, e lá, montamos um quarto. Até que a tempestade o fizesse dizer não.

Sem mais truques e graças, vi partir meu amor juvenil. Caindo novamente em desgraça, como todos, eu assisti partindo, mas infelizmente, sei que não foi sozinho.

Os anos de acúmulo precipitaram, devastando tudo de colorido pela frente. Um tornado sem rumo e sem liberdade, criou um mar sem orla, onde só a morte se parecia com um escape.

Não haveria ele, se não houvesse um eu. O Apocalipse nos estendeu a mão e me confiou o fim. A exaustão aceitou, mas em meio ao caos, o terceiro apareceu, me mostrando ser o confinamento perfeito.

O meu apocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora