Quando conheceu Ace, Marco sabia que era um perigo para si. Todo aquele jeito de desprendido, livre, leve e aventureiro, aqueles olhos de uma intensa ausência sentimental, mas que o prendiam como algemas, como um inseto hipnotizado pela luz.
Era claro como água cristalina que estava acabado logo quando começou. Ace era como um cigarro, nos primeiros tragos o cheiro se impregnou em sua roupa, o sabor invadiu seus lábios e permaneceu ali.
Não foi difícil se viciar naqueles lábios de nicotina. A cada beijo se envolvia mais naquele sabor amargo e viciante, desenvolvendo de pouco a pouco o vício em ter aquele rapaz consigo. Mas ele sabia que todo vício tinha seu lado ruim, mesmo que o gosto seja extremamente bom, mesmo que a sensação em seu corpo fosse totalmente prazerosa e o deixasse nas nuvens após tragá-lo.
Contudo, o vício era o declínio para o fim, para a degradação. A cada trago amargo, Marco se perdia e se via cada vez mais perto do ponto final. Sentia aquela paixão se instalar em seus pulmões como uma mancha escura, apodrecendo lentamente seus órgãos, tornando-os cada vez mais inúteis e insuficientes.
E aquela paixão era um vício, quanto mais se apaixonava pelo rapaz, mais apaixonado queria estar, mais daquela droga ele precisava, mais ele dependia daquele toque em sua boca, do corpo quente como a brasa do cigarro recaindo sobre a sua epiderme.
No fundo ele sabia que nunca seria retribuído, que aqueles toques e beijos, todos os tragos que sentia eram vazios e amargos. A fumaça densa era só uma ilusão para trazer a falsa sensação de que estava vivo, quando claramente estava caminhando para seu declínio e perdição de si mesmo.
A cada tragada tudo se tornava mais vão, mesmo que ilusoriamente parecesse o contrário. Sua pressão caia lentamente a cada beijo, seus músculos relaxavam a cada toque e seu corpo se tornava mais e mais dependente daquela droga viciante, aquela nicotina pura em forma de gente.
Sabia que Ace não o tragava da mesma forma, nunca sentiria aquela dependência física e emocional que Marco desenvolvia mais e mais, dia após dia.
Porque Ace era uma maldita droga, viciante como nicotina, mas também era livre como a fumaça que saia dos lábios de um fumante, disperçando-se no ar e sumindo ao se esvair.
Sabia que no fim só lhe restaria o vazio, a enorme abstinência que o levaria ao seu fim tão certo, a destruição de seu órgão, o definhamento e a quebra de seu coração.
Porque, no final, aquela paixão era viciante, irrecíproca e a própria decadência, pois quando se traga a nicotina o único afetado é seu usuário e não a droga. O fumante definha, enquanto o cigarro permanece, indo de boca em boca, de trago em trago, viciando todos aqueles que se permitem viciar sem terem como voltar atrás.
Só lhe restava duas opções: afogar-se no vício, na overdose da paixão unilateral; ou reabilitar-se para se livrar daquele vício antes que o vício se livre de si.
Mas Marco havia perdido o controle, estava entorpecido e não queria mais voltar. Depois que provara Ace em seus lábios já não podia mais se livrar dele.
Entretanto, no fundo, ele sabia que deveria se abster daqueles lábios viciantes como nicotina, daquele olhar que o prendia no lugar, que o sequestrava para um fim inevitável.
Marco tinha total noção que era melhor queimar do que desaparecer, ir embora do que ser substituído, que seu amor jamais seria correspondido, pois Ace era incapaz de amar, mas Marco não era páreo para aquele vício. Não era forte o suficiente para livrar-se da nicotina impregnada em sua alma, do cheiro amargo que inundava seu coração como um cancro maligno que cresce dia após dia, definhando seu corpo e seu espírito.
Marco era um dependente químico, sofria com o tabagismo amoroso e Ace era sua maldita droga, apaixonante e irrecíproca. E quem poderia culpá-los no fim das contas?
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Nicotine
FanfictionPorque Ace era como uma nicotina, seu amor era um vício do qual se quer se desintoxicar. Como o cheiro do cigarro, seu beijo impregna em cada parte, em cada pano, em cada trago. Mesmo que faça mal, só o que se deseja é que nunca mais acabe, mas no...