Capítulo 3

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Chan percebe que Anne mexe em um aparelho que parece um controle remoto com um design diferente, bem simples e incomum. Ela aperta uma sequência de botões e ele presta atenção, até que ela o encara. Ao chegarem no porão, Isabel entende que Anne mora ali, pois é um espaço muito arrumado.

Isabel: "Você mora aqui?".

Anne: "Logo a casa vai estar cercada pelas crianças. Não tem janela aqui, mas recebemos ar pela tubulação de ventilação. Preparem cafés e se sirvam com os bolos e pães. Não façam barulhos".

Miguel: "Por que? Está com medo?".

Anne: "Se eles tiverem certeza que tem alguém, arranham o portão e andam pelo quintal, forçam a porta. Por isso, não acendo as luzes. Não dá para ver a luz que temos aqui, pois lacramos as janelas. Cancelei o encontro de hoje, vamos amanhã".

Chan se aproxima de uma bancada e vê tortas, pães, geléias. Ele aciona a cafeteira e Miguel logo se senta à mesa. Isabel começa à arrumar os talheres, mesmo sabendo que não serão usados e Chan tenta distraí-la.

Chan: "Lembro da noite em que vocês chegaram ao orfanato, estava chuvendo e era um grande grupo".

Isabel: "Nem parece que faz tanto tempo. Já faz quase um ano que saímos de lá. A gente tentou fugir, mas não deu.

Tínhamos muito medo. Queria ter passado mais tempo no orfanato, com vocês, eu aprendi muito".

Chan: "O mais difícil é aprender à ler, depois é bem tranquilo, se você escutar as orientações. Quando cheguei, eu era bem pequeno, mas já sabia ler".

Miguel: "Se eu soubesse que o doutor ia mandar Isabel para um internato, não teria aceito a proposta dele para ser adotado, pensei que a gente ia ficar junto, nós três. Lá no Laboratório parece ser bem legal, tem muita gente, festas".

Chan: "E é. Eles me pagam salário, dão treinamento, estimulam que todos participem das festas e se casem cedo. Gosto muito da administração e estudo à noite".

Isabel: "Logo estará casado com Vera".

Chan: "Verdade. O doutor me colocou em contato com minha avó, nos falamos todo dia e envio dinheiro. Vocês não precisam ir embora, o laboratório não será fechado, é uma empresa e dá emprego para muitos que foram adotados pelo doutor".

Isabel: "Você tem sorte.

Eu e Miguel aprendemos à ler no orfanato, nunca tivemos ninguém nos dando educação. Lá no internato tenho uma professora que me explica as coisas o tempo todo. Me dá livros e me ensina boas maneiras e cultura em geral. Estou aprendendo mais do que consigo entender, até tenho dor de cabeça. Parece que o doutor está me treinamento para algo, mas não me explica para o que. Eu não sei por que o sangue dourado é especial e o que vão fazer comigo".

Miguel: "Você mudou tanto que não parece mais a mesma pessoa".

Isabel solta uma risada com um tom de deboche.

Isabel: "A gente vivia nas ruas, depois o orfanato nos transformou e agora isso, somos treinados para sermos úteis, representantes dele na sociedade".

Chan: "Separaram vocês e o internato foi a solução".

Miguel concorda.

Miguel: "A Polícia só precisa pegar essa gente na hora certa. Vamos embora logo depois, não terá ritual nem ninguém será usado para nada".

Isabel: "Eu quero ficar com vocês, estudar, ganhar dinheiro, ter uma casa com Miguel. Chan está juntando dinheiro para o futuro e eu não".

Miguel: "Também ganho dinheiro. O doutor não cria filhos, ele tem um exército, treinado para viver junto à elite. Foi isso que aprendi na casa dele. "seja educado, fale pouco, seja bom ouvinte, leia muito e aprenda sobre o mundo. Preste atenção à tudo, conhecimento é poder". Tenho certeza que ele tem planos para mim e para o Chan também".

Miguel se distraí e observa o controle em cima da mesa, esquecido por Anne. Chan logo percebe que Miguel não relaxa em nenhum momento.

Chan: "Miguel, eu te conheço".

Miguel se ajeita na cadeira e ri, enquanto come.

Miguel: "Por que está falando isso? Desde que fui morar na casa do doutor, não faço nada de errado".

Isabel olha o controle e entende o que Chan disse.

Isabel: "É de ouro? Reconheço ouro de longe".

Miguel: "Chan, sabe como usar aquilo?".

Chan: "Fazer o que ela fez, sim. São poucos botões".

Isabel: "Botões ou jóias? Aquilo é esmeralda?".

O filho dos anjosWhere stories live. Discover now