Tradimento

Seja bem- vindo à Itália, Noah

Ouço meu despertador tocar novamente, acredito que nem adianta colocar para dormir por mais 10 minutos. Me viro e desligo a música da banda italiana, na qual me acordam todos os dias. Hoje é segunda-feira, mais conhecida por mim, o dia que irei morar com meus tios na Itália. A porta abre lentamente e sei que é minha mãe, a mesma entra e me encara.

- Você tem uma hora ainda para se arrumar - diz com uma voz triste.

Não tiro sua razão, principalmente depois que minha irmã fugiu de casa. A olho com carinho e sei que sentirei falta de ver seu rosto todos os dias pela manhã.

-Já estou indo mãe. - Me levanto e separo uma roupa confortável para viajar.

Sinto a água correr pelo meu corpo, me lembrando quando visitei Valentina na noite anterior e meus amigos, que noite. Lavo meus cabelos ruivos e pensando no que será de minha pessoa nos próximos anos, principalmente em saber que não terei Tina ao meu lado. Na nossa última noite conversamos sobre nós, decidimos que seria melhor para ambos terminarmos. Termino meu banho, me visto quase caindo no banheiro, seco meus cabelos que estão acima do ombro e passo um lápis de olho preto. Retiro-me do cômodo e pego minhas malas que não são tantas, são três: uma com roupas e sapatos, outra com meus objetos e a última com os casacos e blusões de lã. 

 A caminho do aeroporto internacional de Guarulhos, me seguro para não borrar o lápis que passei em meus olhos. Como vou sentir falta desse lugar na qual eu cresci e vivi as minhas 29 primaveras. Faço o check-in  colocando as malas na esteira, faltam 30 minutos para o voô e minha mãe já foi para casa só me pediu para avisar quando chegar do seu irmão.

Escuto meu celular tocando, o pego em meu bolso enquanto como algo antes de viajar por quase 16 horas. No visor do aparelho diz que é a Séfora quem está tentando se comunicar comigo, portanto resolvo atender.

Ligação on - italiano/português

-Buongiorno amico mio (Bom dia meu amigo)- escuto a voz de Séf  do outro lado da linha.

-Buongiorno angelo mio, a que devo a honra de sua ligação? (Bom dia meu anjo)- pergunto contente pelo contato.

- Noah, soube que virá para Itália hoje. É verdade? - a curiosidade é clara em sua voz - Eliza está contando para a vizinhança toda desde quando o sol nasceu.

-Sim, Séf estou esperando o avião. E não irei para visitar - afastei o celular de meus ouvidos assim que ouvi os gritos de felicidade da minha pequena.

-Finalmente o Universo ouviu meus pedidos, - começo a rir de seu comentário- amico irei te buscar no aeroporto. Aliás vou desligar o Dam está me chamando. 

- Tudo bem, já estão chamando meu voô - caminho entregando a passagem para a moça -cuide do Dam por mim, sabe como ele é. Ciao ci vediamo dopo (Tchau até depois).

- Pode deixar, ciao Noah - diz desligando a ligação.

Ligação off

Entro no corredor para encontrar minha poltrona, continuo caminhando entre as poltronas que estão dividas em três em cada coluna e em cada grupo na horizontal. Até chegar perto de três senhores e vejo que meu número é atrás deles na janela. Ponho minha pequena mala de mão no compartimento em cima e me ajeito na cadeira pondo o sinto. Depois das instruções da aeronave e de que iremos ser chamados para comer, recebemos um kit para dormir, na qual continha um travesseiro, uma coberta e uma pequena escova de dentes junto com uma pasta pequena também. Desligo meu celular como é solicitado, me acomodo mais ainda com aquela coberta e me viro para janela ignorando o resto do mundo. Aos poucos começo a relaxar e acabo fechando meus olhos. 

Vejo Séfora correndo numa trilha em meio as árvores e uma outra pessoa na janela, mas não reconheço.
- Senhor Noah, Vossa Majestade o chama. Disse que era urgente. - Uma senhora se pronuncia e me pergunto quem é ela. 
- Senhora, onde estamos? - pergunto e como resposta ouço sua risada.
- Conta outra - diz rindo e logo para ao me ver provavelmente com expressão de dúvida - Reino da Noruega, 1824 Senhor.

Olho e vejo Séfora me olhando e dizendo algo que não consigo entender, a mesma se aproxima e diz:

-Senhor, acorda - sinto ela me sacudir no ombro - Senhor acorda, já chegamos.

Abro os olhos e vejo a aeromoça me chamando. Então era tudo um sonho? Como aquela senhora sabia quem eu era?

- Está tudo bem com o senhor? - olha para a moça que está preocupada.

- Está sim, desculpe eu apenas estava pensando.

Me levanto da poltrona, pego minhas coisas e saio do avião indo buscar as malas na esteira.

- Senhor Noah? - me viro ao ouvir uma senhora me chamando.

- Sim. - seu rosto é familiar, mas não recordo de onde é.

- Seja bem-vindo à Itália Noah. - ao terminar a frase a senhora sai andando como se não tivesse acontecido nada.

Fiquei parado pensando na situação, até que vejo ao fundo Séfora acenando para mim e assim caminho em sua direção.