Capítulo 17:

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Durante o resto do fim de semana, meu pai e eu passeamos pela cidade. Fizemos o tradicional roteiro da comilança , cheesecake do Junior's, cachorro-quente do Gray's Papaya e pizza do John's, que levamos para comer no apartamento com Dom. Subimos no Empire State Building, mas nos contentamos em ver de longe a Estátua da Liberdade. Pegamos uma matinê na Broadway e passeamos pela Times Square, que estava terrivelmente cheia naquele dia de calor, mais ainda assim o passeio valeu a pena pela performance dos artistas de rua , alguns deles seminus. Tirei algumas fotos com o celular e mandei para Dom, para que ele pudesse rir um pouco. Meu pai ficou bem impressionado com a sensação de segurança na cidade e gostou de ver os policiais montados a cavalo. Demos uma volta de carruagem no Central Park e desbravamos juntos o metrô. Eu o levei ao Rockefeller Center, à Macy's e ao Shumfire, que ele mesmo admitiu ser um edifício que se destacava em meio às outras construções também imponentes. Mas nossa principal preocupação era ficar juntos. Mais do que passear ou conversar, simplesmente curtir a presença um do outro. Enfim descobri como ele e minha mãe tinham se conhecido. Quando o pneu de seu carrão esportivo furou, ela foi parar na oficina em que ele trabalhava. Essa história me fez lembrar de "Uptown Girl", a música de Billy Joel, e eu disse isso a ele. Meu pai riu e disse que aquela era uma de suas canções preferidas. Contou que ainda se lembrava do momento em que a vira aparecer ao volante de seu brinquedinho de milhares de dólares para virar sua vida de cabeça para baixo. Segundo ele, minha mãe era a coisa mais linda que ele tinha visto... até eu nascer.

Você tem mágoa dela, pai?

Eu tinha. Ele me abraçou pelo ombro. Nunca vou perdoar sua mãe por não ter posto seu sobrenome em você. Mas agora não me aborreço mais com essa coisa de dinheiro. Sei que jamais a faria feliz no longo prazo, e ela também sempre soube disso. Balancei a cabeça, lamentando por todos nós. E, sendo bem sincero ele suspirou e apoiou o rosto na minha cabeça por um instante por mais que não possa bancar as coisas que o marido dela tem a oferecer, fico feliz que você desfrute de tudo isso. Não sou orgulhoso a ponto de não querer admitir que tem uma vida melhor por causa das escolhas que ela fez. Estou feliz com o que tenho. A vida que levo me satisfaz e tenho um filho que me enche de orgulho. Me considero um homem rico, porque não existe nada no mundo que eu queira e não tenha.

Parei de caminhar para abraçá-lo.

Eu te amo, pai. Estou muito feliz que você está aqui.

Ele me envolveu em seus braços e eu senti que no fim tudo ficaria bem. Tanto meu pai como minha mãe conseguiam viver bem longe da pessoa que amavam. Eu também conseguiria.

**

Entrei em depressão depois que meu pai foi embora. Os dias seguintes se arrastaram. Precisava repetir para mim mesmo o tempo todo que não deveria esperar nenhum tipo de contato com Harry, mas quando ia para a cama chorava sozinho até cair no sono por mais um dia ter se passado sem notícias dele. As pessoas mais próximas de mim pareciam preocupadas. Alberto e David foram solícitos até demais no nosso almoço de quarta-feira. Fomos ao restaurante mexicano onde Alisha trabalhava, e os três se esforçaram o máximo possível para que eu me divertisse. Deu certo, porque eu adorava sair com eles e não queria vê-los preocupados, mas havia um vazio dentro de mim impossível de preencher, e além de tudo eu estava preocupado com as investigações sobre a morte de Nick. Minha mãe ligava todos os dias, perguntando se a polícia havia entrado em contato comigo de novo — não havia — e me informando dos contatos dela e de Sprang com os detetives. Estava preocupado com o fato de eles estarem no pé de Sprang, mas, como sabia que meu padrasto era inocente, tinha certeza de que jamais descobririam nada que pudesse incriminá-lo. Ainda assim... Eu me perguntava se algum dia eles descobririam qualquer coisa que fosse. Obviamente se tratava de um homicídio, caso contrário não estariam investigando. Nick era novo na cidade, quem poderia querer matá-lo? No fundo, o que eu acreditava mesmo era que aquilo só podia ser obra de Harry. Isso tornava ainda mais difícil esquecê-lo, já que parte de mim , o garotinho que um dia eu havia sido , desejava a morte de Nick havia tempos. Queria que ele sofresse o que me fez sofrer durante anos. Perdi minha inocência por causa dele, além da virgindade. Perdi a autoestima e o respeito por mim mesmo. E, no fim, ainda tive uma hemorragia e quase morri. Passei a encarar cada dia de uma vez, cada minuto de uma vez. Obriguei-me a ir aos treinos de krav maga com Parker, a ver tevê, a sorrir e dar risada quando possível , principalmente perto de Dom  e a acordar todas as manhãs pronto para começar tudo de novo. Tentava ignorar o sentimento de luto que havia dentro de mim, mas nada era mais nítido do que a dor que me açoitava como um sofrimento contínuo e prolongado. Comecei a perder peso e, apesar de dormir bastante, sentia-me cansado o tempo todo. Na quinta-feira, no sexto dia pós- Harry, versão 2.0, deixei uma mensagem para a recepcionista do Dr. Petersen informando que eu e Harry não iríamos mais à terapia. Naquela noite, pedi para Clancy me levar até o prédio de Harry e deixei o anel que tinha me dado e a chave de seu apartamento em um envelope lacrado na recepção. Não deixei um bilhete porque já havia falado tudo o que tinha a dizer. Na sexta-feira, outro gerente de contas júnior contratou um assistente, e David me perguntou se eu podia ajudar no processo de adaptação do novo contratado. Seu nome era Isaiah, e gostei dele logo de cara. Tinha pele morena e olhos pretos.Bebia refrigerante em vez de café e namorava a mesma garota desde os tempos de escola. Passei quase a manhã toda apresentando-o às pessoas que trabalhavam na agência.      Você gosta daqui ele comentou.

Profundamente Seu - Shumdario - 2 temporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora