Neve Tórrida

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Izuna era como fogo.

Ele era inconstante, imprevisível e acima de tudo; belo como as chamas de uma fogueira interminável. Os fios balançavam como brasas ao vento, tão leves e de aparência tão macia que seus dedos coçavam para tocá-los. Queria também passar os dígitos pelo rosto divertido e indiferente dependendo da situação, queria encarar o quanto pudesse aqueles olhos negros e observadores, e queria saber o gosto dos lábios grossos que o puxavam para a beira de um abismo sem fim, queria os puxar entre os dentes e enfiar a língua na boca alheia.

Tobirama queria tudo enquanto era encarado de volta com os olhos de Izuna atentos a si.

— Tudo bem, vou ver o que ele quer.

Saiu do local, pegando a camiseta preta assim que passou por Izuna, antes que ele percebesse o seu estado. Se ficasse por mais alguns instantes ali o agarraria na frente de todos. Provavelmente levaria um tapa, um murro, ou até levasse uma surra dele. Não queria correr o risco.

Vestiu-se mesmo que ainda sentisse o suor escorrer, se perguntando o que o seu irmão mais velho queria.

×××

No fim, realmente era algo importante. Hashirama precisou ir até a recém construída Iwagakure para resolver coisas com o Tsuchikage junto de Madara. Não sabia porque os dois tinham de ir, mas sabia que o irmão era tão grudento ao Uchiha como ele era com o trabalho, por mais que tenha se afastado um pouco desta área. Permaneceria como um substituto geral enquanto ele não estivesse lá por aquela semana.

O outro problema no momento parecia mais importante.

Izuna.

Eles normalmente trabalhavam em conjunto em algumas missões e em assuntos como sua academia ninja, mas agora ele também estará como substituto de Madara como comandante da polícia de Konoha, ou seja, mais proximidade entre eles.

Isso não poderia dar certo... Talvez até desse, mas ainda assim...

Suspirou, se esparramando na cadeira de Hokage e colocando o braço por cima dos olhos, já prevendo sua insanidade e insônia o atingindo como nunca. Izuna era sua ruína, assim como sua luz.

Uma batida na porta o tirou dos próprios devaneios, e a voz baixa e calma de quem já sabia que viria o fez se sentar direito, arrumando a postura enquanto falava para ele entrar. Viu a porta se abrir e fechar, revelando sua silhueta firme. Izuna segurava alguns papéis em mãos, provavelmente coisas para ele assinar. O casaco verde lhe caía bem, mas com certeza ele ficaria melhor sem ele e sem todas as outras roupas que usava.

Ele somente o cumprimentou antes de se sentar sobre uma das cadeiras do outro lado da mesa.

— Eu separei os documentos que Madara procrastinava para trazer aqui — disse ele, colocando a pequena pilha sobre a mesa — Acho que alguns terão que precisar da assinatura do próprio Hokage.

— Tudo bem, guardarei estes para Anija analisar depois.

Ele assentiu e um silêncio perturbador se instalou no local. Um clima estranho os rondava como uma neblina espessa e seca, os olhos se encarando e logo depois a parede, o chão, o teto, qualquer coisa que não fosse o outro.

Não tinham nada a dizer. Na verdade, tinham sim, mas não é como se um deles fosse abrir a boca e largar de seus egos de ferro.

Se lembrou do início. Achava Izuna insuportável, um adulto mimado que não tinha amadurecido o bastante para entender que aquilo não se tratava só de si. Também se desregulava às vezes, lançando provocações, o incitando a coisas como se fosse uma autoridade; mas logo se repreendia. Hashirama sempre fazia uma cara tristonha quando faziam isso na frente dele, e mesmo que seu Anija não dissesse nada, sabia que o magoavam.

Strange LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora