Introdução

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Minhas pernas tremiam a cada minuto que passava. Olhei ao redor e as garotas que estavam comigo naquela enorme sala não estavam tão diferentes de mim. Encostada na cadeira localizada bem ao centro da sala de espera, nós víamos garotas chorando e garotas animadas saindo das baias de atendimento. O lenço em minhas mãos estava completamente amassado; passa-lo de manhã não fazia o menor sentido agora. Mexi em meu cabelo, um ato que demonstrava aos outros o tamanho de meu nervosismo; contudo, a atenção estava tanto em suas próprias situações que ninguém realmente se importava com o comportamento estranho da outra: garotas roendo unhas, tirando lascas de esmalte das unhas, mexendo no pingente do colar ou no anel do dedo anelar. Vícios escondidos da sociedade que vinham à tona neste momento crucial em nossas vidas.
        Completei 21 anos na semana passada. Na lei da vida, uma garota, ao completar seus 21 anos significa estar fechando um ciclo importante da vida; a inocência sendo deixada de lado e a responsabilidade de se encontrar com seu verdadeiro parceiro. Até os 21 anos, todas as garotas se divertem com diversos garotos: saem, bebem, transam, têm encontros... Uma diversão juvenil. Sabemos que, na verdade, aquela pessoa com quem estamos saindo, a quem dedicamos a madrugada pensando por várias noites seguidas não irá significar nada no futuro. Por isso, durante toda minha vida me privei de conhecer muitos garotos; recusava seus pedidos para sairmos ou bebermos juntos. Esperei todo o tempo pelos meus 21 anos, quando receberia uma carta do governo me convocando para receber o meu prazo.
        Chamado de prazo, na data e horário informados na carta do governo, devemos comparecer ao Centro de Prazos Feminino, localizado bem no centro da cidade, em um prédio alto e vermelho, a cor do matrimônio. Quando garotas de 21 anos são convocadas para receberem o relógio do relacionamento, nele é mostrado quando tempo teremos até conhecer nossa verdadeira alma gêmea, o amor de nossas vidas, a pessoa com quem iremos casar e ter uma vida feliz. Nós não sabemos onde irá acontecer o encontro ou como irá acontecer. Algumas pessoas escolhem seus lugares favoritos e, quando o relógio está para chegar ao 00:00, olham para o lado e encontram ali o parceiro, também com o relógio zerado ao lado; outras dizem apenas se lembrar quando a pulseira do relógio vibra fortemente, o suficiente para chamar-lhes a atenção e fazê-las olhar para o lado, enxergando o amor de suas vidas. Com meus pais foi assim; mamãe, sempre desligada, estava em uma farmácia comprando o teste de gravidez para minha tia, sua irmã mais velha. O relógio dela vibrou e ao mesmo tempo meu pai se aproximou para atendê-la. Não viu seu relógio chegar ao 00:00 também, assim, quando ambos sentiram o relógio vibrar, puderam enxergar um ao outro e, com um sorriso, sentiram que seriam felizes para o resto de suas vidas. Um sentimento verdadeiro, como me é comprovado todos os dias em casa.
        O tempo pode variar entre um a vinte anos. A seleção é feita aleatoriamente; na verdade, não sabemos exatamente como ela é feita. Tudo o que é divulgado, é que a seleção é feita por videntes que nascem com o dom; eles, homens e mulheres cujo relógio mostrou-se nulo, têm o poder de unir as pessoas que devem se encontrar. É difícil uma pessoa tornar-se vidente. Difícil receber um relógio nulo, mas pode acontecer. O que dizem, é que há um número de videntes para cada cidade. Quando um morre de causas naturais, outro deve ser selecionado para repor o lugar, e é assim que se é decidido um relógio nulo. Não sabemos se isso, de fato, é verdade. Mas faz bastante sentido.
        Me pergunto se minha alma gêmea está entre meus amigos. Era claro que não. Dificilmente dois amigos são destinados. A primeira coisa que os garotos, ao completar seus 20 anos fazem é correr até as garotas que admiram ou conhecem para saber se elas são suas almas gêmeas; até hoje, nunca vi um caso de combinação perfeita entre duas pessoas que se conhecem antes do prazo de ambos ser estipulado.

        Retiro de minha bolsa de couro, a carta do governo. Meus olhos seguem direto para a data e hora marcadas no final da carta, dentro de um quadrado amarelo com detalhes em vermelho: 12 de Dezembro / 12:12. Olho para o relógio digital gigante que havia à frente das abas de atendimento. A garota do 12:04 agora levantava para seguir até a aba de número 18. Abro um pequeno sorriso, sentindo minha barriga estremecer. Quanto tempo seria? Sofia, que fez aniversário há dois meses, pegou oito anos. Um tempo razoável, talvez não tanto para a ansiedade de conhecer alguém. Para nós, mulheres, quanto mais tempo demoramos para encontrar o amor de nossas vidas, menos tempo temos para termos filhos e aproveitar a vida conjugal, algo péssimo.
        Suspiro e devolvo a carta na divisória do meio da bolsa. Colocando-a parada em meu colo. Mexo na franja que insiste em cair em meus olhos, atrapalhando minha vista, até que me pego pensando na pessoa que será minha alma gêmea. Olho ao redor e vejo os cartazes de casais felizes, alguns com filhos, outros mostrando-se apaixonados, comprovando a todas nós, garotas de 21 anos, que a vida é perfeita depois de recebido o prazo. Talvez minha alma gêmea já tenha recebido o relógio. Talvez ele pense em mim todas as noites, perguntando-se como sou, como irá saber que sou eu, quais meus hábitos ou o que gosto de fazer em dia de chuva. Olho novamente para o relógio: 12:10.
        
Mais dois minutos. Dois minutos para finalmente saber quanto tempo terei para descobrir quem será ele. Penso na reação de Chantée ao saber que seu relógio vinha com 157.680 horas. 18 anos de espera. Um tempo longo. Ela apenas conheceria o amor de sua vida com 39 e anos, uma idade velha para uma mulher. Ela teria apenas um ano para engravidar e ter uma gravidez segura. Dizem que mulheres com mais de 40 anos tem a probabilidade de perder o bebê durante o início da gestação, além do útero já não estar mais preparado para receber um feto. Quando há casos de menopausa precoce então, é uma tristeza para a mulher.
        Balanço a cabeça, espantando os pensamentos da mente e ouço meu horário ser anunciado. Olho para o painel de chamada e o número 12 mostra qual aba devo me dirigir. Eu tinha um minuto e 20 segundos para encontrar a baia e me sentar. Achei que minhas pernas estariam parecidas com uma gelatina, mas até que se encontravam bem firmes. Me levantei e apoiei a alça de minha bolsa em meu ombro, vendo todas as garotas me encararem, ansiosas e me desejando uma boa sorte. Assim que me aproximei da aba 12, um berreiro tomou conta da sala. A garota sentada no lugar que eu deveria me sentar não conseguia se levantar. Chorava fortemente, me fazendo pensar que ela provavelmente pegara 20 anos de espera. Não sei o que sentirei se tirar 175.200 horas. Parece uma eternidade. Geralmente, garotas que pegam mais de 10 anos de espera não esperam o tempo certo. Casam-se com homens que não acreditam no prazo e têm seus filhos. Alguns não dão certo, outros ao chegar na hora de encontrar sua alma gêmea, desistem da mulher/marido para ficar com a(o) destinada(o). Um relacionamento infeliz para os 3 lados. Poucos são os casais que sobrevivem ao livre arbítrio, mas eles existem. Eles perdem seus direitos como cidadãos por terem ido contra às regras da sociedade e vivem nas fazendas afastadas da cidade com uma vida mais pobre, mas, como eles dizem, felizes. 
        Fiquei parada, esperando minha vez de ser atendida. Não poderia demorar muito. A regra para todas nós é bastante clara: Você não pode demorar a se sentar e se retirar, pois há pessoas atrás de você que aguardam o horário exato para receberem seus prazos. Além disso, um prazo atrasado não é um prazo certo, fazendo você viver com a incerteza de saber se seu amor virá ou não. Já houveram casos de homens e mulheres que atrasaram na data do recebimento do prazo e acabaram sendo enganados pelos relógios. Grande parte dos relógios recalculados devido o atraso são errados. Uma pessoa dificilmente tem uma segunda chance na vida, é o que eles querem ensinar.
        Olhei nervosa para os dois guardas que tentavam retirar a garota de meu lugar. Subi meu olhar para o painel, que ainda marcavam 12:12. 
        - Ela vai demorar muito? É exatamente meu horário. – apontei para o painel. O guarda mais perto olhou para mim, preocupado e disse que ela já sairia. A garota, ainda sentada, não parecia querer sair dali tão cedo. Chorava e resmungava palavras que não faziam sentido. Quando a permissão de retirada à força chegou pelo walkie-talkie dos guardas, um alvoroço se iniciou. Garotas próximas de nós gritavam para retirarem ela logo dali, já que eu estava a alguns segundos de ter meu relógio destruído pela recalculagem. Tão rápido quanto eles a retiraram dali, alguém me empurrou para me sentar. Meu nome apareceu na tela da baia no mesmo momento que o minuto passou de 12 para 13; com isso, ouvi as palmas de sucesso e olhei para trás, agradecida pelo apoio.
        Percebi, então, que estava na hora. O momento da minha vida. Fechei meus olhos, começando a rezar para não receber mais de cinco anos. Cinco anos já era muito para quem esperou a vida inteira por isso, mas era o máximo que estava destinada a suportar. O som da respiração da vidente estava pesada. Pelo que sei, uma vidente tem até 10 minutos para divulgar o relógio da pessoa. Se demorar mais, seria um grande problema para os dois lados, mas nunca aconteceu na cidade. Olhei para o relógio no pequeno painel onde mostrava meu nome. Um minuto e meio havia passado. Apertei novamente o lenço em minhas mãos.
        - Você é uma garota de sorte. – ouvi a voz, alterada, da vidente. Nós não sabemos quem são, mas sabemos que são pessoas que vivem conosco no dia a dia. Podemos falar com elas fora de seus expedientes, mas nunca saberemos quem realmente são. Aguardei mais alguns segundos até ouvir a explicação do elogio: - A garota anterior, Antonieta, se sentou no momento em que uma de nossas videntes deixou nosso mundo. – arregalei meus olhos.
        - C-como assim? – apenas me dei conta do nervosismo que sentia quando senti minha voz trêmula.
        - Quando uma vidente falece, outra deve tomar seu lugar. A garota daquela cidade que se sentar no horário exato se tornará a vidente no lugar da que nos deixou. Foram alguns minutos de diferença. – ela explicou. 
        Mesmo ainda não recebido meu relógio, me senti extremamente aliviada por não ter sentado no lugar de Antonieta. De imaginar estar em seu lugar... Um tremor tomou conta de meu corpo e meus olhos arderam com as lágrimas que surgiram repentinamente. Olhei para o lado por onde Antonieta foi levada e não a vi mais naquele lugar. Provavelmente estava sentada em algum lugar sendo amparada pelas psicólogas do local. Elas trabalhavam bastante, principalmente com as garotas que recebiam mais de 12 anos de espera.
        Olhei para o vidro negro que me separava da vidente. Ela já estava demorando quase cinco minutos. Meu estômago estava impossível de tão revirado. Suspirei fundo. Será que eu deveria dizer algo a ela? Devo tentar?
        - Hum... – cocei atrás da orelha. – Estou pronta para receber... Você sabe, meu prazo.
        - Sei que está. – a voz disse. – Está pronta faz um bom tempo. – completou. Concordei com a cabeça. – Você é uma puritana. – afirmou em seguida.
        - Como? – inclinei minha cabeça para o lado direito, mostrando que não havia entendido seu comentário.
        - Não se envolveu com nenhum rapaz nestes 21 anos de vida...
        - Ah! Sim, está certa! – disse, impressionada. Ela era mesmo uma vidente. Olhei para o lado e via garotas saindo chorosas, outras animadas e algumas até escandalosas.
        - Você treinou bastante para ser uma boa mulher à sua alma gêmea. – se não estivesse tão animada com os acertos, poderia estar chorando de emoção. Me remexi em minha cadeira, ansiosa a cada palavra correta que ela se referia à mim. Era verdade que eu passava mais tempo aprendendo os deveres de uma esposa do que os cálculos para entrar em uma boa escola bacharel; não havia muita diferença, já que o que eu estudava não tinha muito a ver com cálculo. Adoro crianças e trabalho em uma creche onde posso cuidar delas enquanto os pais estão em período de trabalho. – Creio que não terá de esperar muito mais para encontrá-lo.
        - Mesmo? – perguntei, animada. Minhas mãos se uniram à altura da boca, como se estivesse rezando para que ela não estivesse brincando. Mas videntes nunca brincaram. Ninguém deve brincar com algo tão sério. Olhei no horário abaixo do meu nome, que marcavam 12:19. Sete minutos. Sete minutos de suspense já se passaram. Aguardei a vidente dizer mais algo, mas nada mais foi dito, senão:
        - 8760 horas. Este é o seu prazo. – nunca irei me esquecer desta frase. Comecei a contar nos dedos quanto daria. Apesar de ter tentado decorar as horas de todos os anos desde um até vinte, parecia que todos eles sumiram da minha cabeça assim que me sentei naquela cadeira.
        - ... Vezes dez... Um ano. UM ANO? – gritei, olhando para o vidro preto e enxergando a mim mesma com os olhos arregalados.
        - Um ano. – a vidente confirmou. Minhas mãos tamparam minha boca e pude ouvir aplausos, assobios e muito cochicho atrás de mim. – Você encontrará com sua alma gêmea em 12 meses. Neste mesmo horário marcado. Pegue seu relógio. - um barulho tocou e a gaveta que estava escondida abaixo do vidro preto, em uma bancada, abriu e um relógio preto digital saiu. Nele, marcava o início da contagem em horas. Ao lado do número grande, um mediano mostrava os minutos e o pequeno, os segundos. Aparentemente, ele já havia começado a contar desde o segundo que me sentei nesta cadeira. Meus olhos estavam trêmulos com o excesso de lágrimas seguradas neles. Com as mãos tremendo, peguei o relógio e o coloquei no pulso esquerdo, onde deverá ser substituída pela aliança de casamento no ano que vem. 
        Depois de agradecido entre gaguejos, me levantei sem dizer mais nenhuma palavra, mesmo depois da vidente ter anunciado o próximo horário e a garota rapidamente se aproximar e olhar para mim com uma esperança de receber o mesmo horário que o meu. Os policiais que tiraram Antonieta da cadeira me olhavam com um sorriso.
        - Recebi um ano. – falei, sem tomar conta dos meus atos. – Um ano. – repeti. – Vou conhecer ele com vinte e dois.
        - Meus parabéns! – os dois disseram, uníssonos. Um deles me dando um tapinha em meu ombro. As garotas mais próximas me parabenizavam e tudo o que eu fazia era sorrir avoada e caminhar para fora da sala, descendo os doze andares de elevador e encontrar meus pais sentados na sala de espera dos pais. Quando suas filhas ou filhos são chamados para receber o prazo, os pais recebem a permissão de deixarem seus trabalhos para nos acompanhar. Se levantaram juntos ao me verem entrar. Outros pais olhavam para mim, nervosos, achando ser suas filhas, mas era claro que não era. Poderiam confirmar se lembrando do horário de atendimento delas.
        - Como foi? – mamãe perguntou, colocando uma mão em meu ombro, me despertando do transe que estava. Olhei para os dois, que tentavam olhar o horário no relógio, mas eu o tampava sem querer. Assim que retirei a mão, vi os olhos dos dois se arregalarem. - Um ano. – foi o que mamãe disse, em choque.
        Olhei pro meu pai, que soltou uma alta gargalhada. Ele, que teve de esperar doze anos para encontrar mamãe, era o mais preocupado dos dois. Cyn, minha irmã mais velha, está demorando oito anos e ele pareceu estar sofrendo com ela esse tempo todo. Mesmo ela já tendo aceitado, papai de vez em quando a olha com insegurança. Ele não estava preocupado em ter de sustenta-la até os 29, como todo pai é obrigado até sua filha passar a pertencer à alma gêmea, entretanto, queria mais do que tudo que fossemos felizes, como mamãe é com ele. Mamãe não esperou tanto, quatro anos. Os dois possuem três anos de diferença; ela sempre disse estar preocupada em encontrar alguém muito mais velho que ela, devido ao pouco tempo de espera. Mas era melhor do que a preocupação de papai ao pensar em ver Cyn, aos 29, noiva de um garoto de 21 anos. A irmã mais velha de mamãe, razão do encontro de meus pais, esperou três anos e meio. Já meu tio, esperou 18. Assim, os dois tinham mais de 10 anos de diferença. O espaço grande às vezes é consequência de algumas discussões, mas isso deve variar de casal para casal. Tia Sami já veio dormir em casa duas vezes por ter brigado com tio Jake. 
        - Um ano! – papai anunciou em alto e bom tom, me dando um longo abraço em seguida. – Somente um ano! Não poderíamos ter pedido mais! – gargalhava, feliz. Os conhecidos que estavam próximos nos parabenizavam, alguns desconhecidos encaravam, invejosos por um prazo tão curto. Era verdade que a maioria esperava por um ano de espera. Alguns pais querem, de propósito, que suas filhas saiam de casa para que não tenham mais que cuidar de suas vidas.
        De acordo com a lei, assim que a alma gêmea é encontrada, eles possuem até um ano para se casarem. O governo, que oferece ajuda durante a vida inteira, nos coloca em uma casa, de acordo com nossos trabalhos e salários, dependendo da ala em que vivemos. As alas mais ricas dificilmente possuem pessoas que querem sair dos confortos de seus lares para um oferecido pelo governo. Os homens já devem estar prontos na idade predestinada de seus relógios. Diferente das mulheres, os homens são sempre herdeiros. Se uma família apenas possui filhas mulheres, a herança segue para o nome dos maridos, separado igualmente a todos. Assim, meu marido e de Cyn receberão a herança que mamãe e papai nos deixarem. Entretanto, se eu tivesse um irmão, meu marido não receberia nem um tostão, indo tudo somente para o meu irmão. É uma grande polêmica em famílias com filhos de ambos os sexos, mas uma lei dificilmente é mudada com facilidade. Por causa dessa regra, os garotos mais ricos encontram suas almas gêmeas mais rápidos.
        No caminho para casa, dentro do carro, meus pais se perguntavam onde eu estarei daqui a exato um ano, no entanto, estou perdida demais em meus pensamentos para participar da brincadeira. Olhava as pessoas passarem, algumas com relógios em seus punhos esquerdos, outras com as alianças. Sem perceber, um sorriso se formou em meus lábios ao imaginar que daqui a um ano estarei retirando minha pulseira.

        Ao chegarmos, Cyn estava saindo para o trabalho, mas demonstrou muita alegria quando soube que eu tirei um ano. Ela ainda teria de esperar três, mas estava bem mais preocupada comigo do que com ela, já que eu sempre fui mais ligada ao meu destino amoroso do que ela.
        Enquanto meus pais se decidiam o que iríamos ter para o jantar como comemoração, subi para meu quarto afim de pensar sobre meu futuro destino. Olhei para o relógio, o tempo diminuindo a cada segundo. Sorri mais uma vez, ansiosa para encontrar minha alma gêmea. Deitada em minha cama, sem os sapatos e as mãos depositadas em minha barriga, comecei a imaginar lugares que poderei visitar daqui a um ano. O mirante, é um lugar bastante romântico, mas muitas pessoas vão lá para conhecer seus destinados. Não seria nada divertido comemorar o descobrimento de meu amor da vida com alguém fazendo o mesmo no momento seguinte. De lugar a lugar, pensei em todas as possibilidades. Passei horas deitada pensando, imaginando.
        Fechei meus olhos e me perguntei o que será a primeira coisa que ele irá querer saber de mim. Minha cor favorita? Quanto tempo esperei por ele? Abri meus olhos com uma grande ideia.
       A cada mês que passar, escreverei um diário com os principais acontecimentos. Meu futuro destinado não terá nenhuma dificuldade em saber tudo sobre mim, ou demorará semanas para saber que prefiro ovos fritos a mexidos. Me levanto em um pulo de minha cama e corri até minha escrivaninha, pegando algumas folhas e a caneta azul da lata que as guardava.
        Estava pronta para falar com minha alma gêmea.

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