A única coisa que Marinette queria era ficar sozinha. A vida de heroína e guardiã dos Miraculous era cansativa demais, mesmo com ajuda de Alya. As responsabilidades só aumentavam, os akumatizados eram cada vez mais difíceis de derrotar, Shadow Moth ficava mais poderoso; ele até conseguia destruir seus amuletos. Sempre que pensava que estava dois passos à frente tinha que voltar três passos para trás. Era como andar em círculos, lutando em uma luta que ela nunca pediu para ser dela.
Por isso, em todos os intervalos de aula, a de cabelos azuis se esgueirava pelos corredores, fugindo dos amigos, para ir até a biblioteca como fazia todos os dias. O banheiro que ia para chorar já não era mais uma opção, Alya a encontraria facilmente se continuasse ali e ela só precisava de um momento sozinha. Assim, se dirigia até o mezanino e se sentava em algum canto atrás da última coluna de livros se pondo a pensar em tudo e nada ao mesmo tempo, enquanto olhava fixamente para um dos volumes que estavam na última prateleira; não sabia qual era e pela distância, não conseguiria ler mesmo se quisesse, mas a garota pouco se importava com aquilo.
Minutos que pareceram segundos se passaram. Com a cabeça para baixo apoiada nos braços sobre os joelhos, ela chorou baixinho para que ninguém a ouvisse. O cansaço emocional e físico beiravam a exaustão naquele momento. Pensou em Chat Noir e em como queria que ele estivesse ali, que ela pudesse contar a ele a verdade sobre sua identidade, que ele pudesse consolá-la. Balançou a cabeça ela não poderia pensar mais naquilo, ainda era arriscado demais dizer a ele. Resolveu deixar aquele desejo de lado, guardando-o no coração.
Ouviu passos mais adiante no corredor, alguém se aproximava. A menina estava cansada demais para fugir ou fingir alguma coisa; estava farta de mentiras e segredos.
Observou a figura chegar mais perto. Adrien se aproximou dela, o olhar cansado e abatido poderiam ser vistos a quilômetros de distância. Ele não estava melhor em comparação; o brilho verde dos olhos tinham dado lugar a uma aparente tristeza que cintilava das lágrimas que dali já haviam brotado momentos antes.
O que Marinette não sabia era que o rapaz havia adquirido a mesma mania, até mesmo antes dela, de se esconder do mundo na biblioteca.
Os segredos que ele tanto odiava pareciam só aumentar, quando Ladybug já não mais parecia se importar com a presença dele ou com o que ele tinha a dizer. Afinal, ele sabia que era substituível. Ele sempre foi, para qualquer coisa na própria vida, a mãe, morta há mais de um ano e o pai escolhia o trabalho ou invés de um tempo com o filho. Nunca foi o primeiro lugar no coração de ninguém, nem no do de Ladybug.
No segundo andar do local do outro lado onde estava, ele ouviu um choro baixinho. A distância era considerável para que ele não ouvisse nada se houvesse barulhos, mas a biblioteca se encontrava tão silenciosa que o simples bater de asas de uma mosca ali, era possível ser ouvido. Afinal, todos estavam no recreio, e o local ficava vazio. Alguém queria ficar sozinho como ele, em paz, num canto qualquer. O Agreste deixaria a situação de lado e não seguiria o som, se a curiosidade de saber quem era não o afetasse. Não tinha ideia do porquê se sentia tão atraído a ir até lá.
Observar Marinette com os olhos azuis inchados e tristes, pesou em seu coração. Ela era tão admirável, alegre, divertida e tão atrapalhada que a deixava, na visão do rapaz tão fofa e adorável que ele não conseguia pensar qual era o motivo do porquê ela parecia tão desolada. Era ela que estava chorando a pouco tempo atrás.
Os olhos verdes e azuis se encontravam no meio daquele caos invisível de solidão, desamparo e tristeza. Nenhum dos dois disse uma palavra. Eles não precisavam dizer e nem queriam. Adrien se aproximou e sentou ao lado da garota, encostando o ombro no dela.
Passaram minutos encarando o mesmo livro na última prateleira da estante, enquanto algumas lágrimas ainda escorriam. A de cabelos azuis sentiu-se ser abraçada pelo rapaz que estava ao seu lado. Por impulso, o garoto passou o braço pelos ombros da menina levando-a mais para perto de si, fazendo com que ela apoiasse a cabeça em seu peito.
No momento seguinte, ela se permitiu chorar de novo. E chorou sob o abraço carinhoso dele. A de olhos azuis não sabia como se sentia tão à vontade por chorar na presença do loiro. Não fazia mais isso nem na presença da mãe, Marinette detestava chorar na frente de outras pessoas. Mas ela se sentia bem ali, amparada nos braços dele, que transmitiam tanto afeto, como se dissesse que sempre estaria ao lado dela, que jamais sairia dali.
- Se você não estiver confortável com a minha presença, Marin, eu posso sair. - Adrien esclareceu elevando delicadamente a cabeça dela pelo queixo para que ela pudesse olhá-lo.
A menina se aninhou no peito dele antes de responder.
- Fica comigo, Adrien. Não quero que você vá embora. - o garoto se ajeitou ao lado dela para que ela pudesse ficar em uma posição melhor.
-Tudo bem, princesa. Eu não vou a lugar nenhum. - ela mal reparou no apelido que o garoto havia usado para chamá-la, não quando ele mexia em seus cabelos em uma carícia gostosa.
E esse foi o último diálogo que os dois teriam naquele dia. O único necessário. Eles não precisavam de mais nada, só da companhia um do outro.
Não demorou muito para Marinette relaxar e pegar no sono. O rapaz percebeu quando ela dormiu, no mesmo momento que o sinal, o qual indicava o fim do intervalo, tocou. Não a acordaria mesmo que devesse, ele não queria sair da bolha de carinho que tinham criado e muito menos a deixaria sozinha. Ela o fazia se sentir bem, amado e acolhido pela forma como se aconchegava e o abraçava.
Até que pouco depois o sono também o atingiu.
Adrien não se importava com a aula que viria ou aquela depois dessa. Definitivamente não se importava em ficar preso na biblioteca com alguém, se esse alguém fosse Marinette.
Ele ficaria com todo o prazer do mundo.
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I Wouldn't Mind
FanficMarinette mal suportava o peso de suas responsabilidades. Por isso, ia todos os dias para o único lugar onde teria paz: a biblioteca; sem saber que não havia sido a única a ter aquela ideia.