capítulo 2

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  — Espero que sua noite tenha sido agradável, Alicia Rowe. — Acordo com Bad jogando umas roupas em cima de mim. — Francesca comprou roupas para você, agradeça muito por isso.
— Por que eu agradeceria por isso? — Digo.
Bad dá uma risada e sai do quarto para que eu pudesse me trocar.
A porta se abre novamente e Francesca entra sem se importar por eu estar apenas de roupas íntimas.
— Vista-se logo. — Seu olhar é sério e me dá arrepios, aquela mulher parecia ser a pessoa mais fria do mundo, não havia expressão em seu rosto. Por mais que fosse bonita, seu mistério e sua frieza faria qualquer pessoa se afastar e sentir medo.
Francesca é alta e tem uma aparência elegante, seu cabelo é preto, embora não parecesse a sua cor natural, com certeza deveria ser castanho-claro. Seus olhos são verdes e sua pele é como um pêssego.
— Então, Alice Rowe, temos muito o que conversar. — ela puxa a cadeira do canto do quarto e se senta de frente para mim.
— Sobre o quê? — Minha voz quase não sai.
— Então, seu nome é Alice Rowe, você é estudante de moda e está noiva de um policial, certo? — Fico em silêncio. — Certo? — Sua voz fica mais grossa, com medo acabo apenas acenando com a cabeça. - Sei também que você é estrangeira, seu pai é um arquiteto e sua mãe é uma socialite medíocre como você, aliás, seu vicio pela bebida vem dela, não é?
— Vocês não vão escapar dessa, vão me encontrar! — Digo.
— Você acha mesmo que todos vamos ser pegos a essa altura do campeonato? Não interessa quem você seja, ou quem é sua família e seus conhecidos. Eu não serei pega e muito menos os meus parceiros. Acha mesmo que deixaremos você sair? Como você é tola, garota! Daqui você não sairá viva.
Como já esperado eu estava chorando muito, Francesca era fria e não pensaria duas vezes em matar alguém para se safar.
Ela sai do local e me deixa sozinha novamente.

***

Horas depois alguém bate na porta e me faz dar um pulo, torci em silêncio para não ser Francesca.
— Com licença. — Sad entra com cuidado me trazendo um pote com comida. — Bom, Francesca não quis que eu perguntasse o que você gosta de comer, mas espero que isso seja o bastante para você.
— Não estou com fome. — Olho para aquela gororoba e sinto náuseas.
— Alguma coisa você precisa comer, vou deixá-la aqui. — Ele se vira para a porta. Seu cabelo estava todo penteado para trás, o deixando elegante.
— Por que você está me tratando melhor que os outros? Os dois parecem que vão me matar a qualquer minuto, mas você não. — Digo.
— Francesca e Bad podem ser um pouco rudes, mas é da natureza deles, você se acostuma com o tempo. — Ele evita contato visual e tenta sair o mais rápido possível.
— Espere, eu preciso usar o banheiro.
— É claro. — Sad responde secamente. Mesmo parecendo o melhor entre eles, Sad ainda, sim, é um monstro.
Ele tira os meus pés presos na cama e pega meus pulsos para serem amarrados.
Saímos do quarto mofado e caminhamos pela casa escura.
Observava aquele lugar com o máximo de atenção possível, se um dia eu quisesse me ver livre, eu teria que memorizar bem aquele lugar, cada janela ou porta poderia estar podre, ou quebrada, isso seria minha chance de me ver livre.
Como já imaginava, a casa era pequena: tinha uma pequena sala, uma cozinha e dois quartos além do que eu estava trancada. O banheiro era mais afastado dos outros cômodos, mas também era pequeno como os demais.
— Como vou usar o banheiro se você não me soltar? — Olho seriamente para ele enquanto ele me desamarra.
Me vejo sozinha no banheiro e procuro por algo cortante. Olhando agora, seria ridículo demais tentar fazer uma coisa dessas, mas é a minha sobrevivência estando em jogo, e não vou me render fácil a isso!
— Já acabou? Preciso levar você de volta. — Sad dá batidas fortes na porta.
Procuro por qualquer objeto, mas a única coisa que encontro é um pequeno grampo de cabelo... Bom, aquilo era melhor do que nada!
Escondo o grampo entre meus cabelos e Sad entra para me levar de volta ao quarto.
Continuo a observar cada pedacinho da casa para tentar memorizá-la melhor enquanto procuro um jeito de escapar.
Farei o que Roger sempre me diz, não desistirei assim tão fácil! Não importa a situação, eu sou Alicia Rowe e lutarei até o fim por minha sobrevivência.
— Você está ouvindo o que estou falando? — Sad me tira dos pensamentos. Dou uma leve sacudida na cabeça para desviar meus pensamentos e focar em suas palavras. — Perguntei se você vai comer aquilo ou vou ter que obrigá-la a comer.
Seu rosto estava enrijecido, o que me deixava com medo.
— Vou comer, sim, é claro que vou. — Tento desviar o máximo para não encará-lo.
— Acho que você está com uma coisa que pertence à Francesca. — Minhas mãos começam a tremer e a vontade de chorar revisita.
Como ele descobriu? Será que era uma armadilha para verem se eu iria tentar fugir ou algo do tipo?
— Com o que eu estaria de Francesca? — Tento me fazer de sonsa, mas parece que Sad não acredita nisso.
— Acho melhor que ela resolva, e enquanto ela não está aqui, você irá comer o que preparei e ficará em silêncio.
Ele tranca a porta do quarto e fico tensa em pensar que Sad pode ter descoberto que fui ao banheiro apenas para achar alguma coisa para tentar escapar.
Olho para aquela comida novamente e tento fazer o máximo de esforço para comer aquela coisa nojenta que ele havia preparado.
Dou a primeira colherada, o sabor não é tão ruim quanto parece, porém, não é a melhor comida do mundo, então tento me esforçar o máximo para colocar tudo aquilo para dentro.

***

Horas depois a porta é aberta, provavelmente devo ter pego no sono enquanto imaginava como teria diferido se naquele dia se eu fosse diretamente para minha casa ou fosse diretamente encontrar com Roger em seu trabalho.
Se eu soubesse o que estaria por vir, eu não reclamaria tanto de meus problemas.
— Vejo que comeu a comida que Sad preparou. Agradeça, ele é o único aqui que está se preocupando com você. — Francesca diz em deboche. Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo e usava roupas confortáveis, mas como sempre estava linda.
Olho para ela, eu estava em silêncio por fora, mas trovejava por dentro, querendo explodir e premunir uma tempestade a qualquer momento. Lutaria até o último segundo, bravamente, sem me entregar, mesmo que Bad e Sad entrassem e matassem-me.
Francesca se senta ao pé da cama e me fita com seus grandes olhos verdes, aqueles malditos olhos verdes me amedrontavam, não tinham brilho, eram apagados pela escuridão que havia em seu caminho.
— Sad me disse que você poderia estar com algo que me pertence, mas sei que não está. Ele não encontrou meu espelho de mão, então achou que você poderia tê-lo escondido em alguma parte do corpo para usá-lo como arma em algum momento. Bom, até agora não faço ideia de como ele pensou naquilo, mas resolveu me avisar caso eu precisasse revistá-la.
Fico sem saber o que retrucar, de onde aquele idiota tirou uma ideia dessas? E por que ela estava me dando explicações?
— Só estou querendo dizer isso porque meu espelho está comigo e Sad ficou preocupado em precisar usar a violência para arrancar a verdade de você. — Ela põe uma das únicas mechas soltas de seu cabelo para trás da orelha. — Estou me esforçando muito para tentar ser boazinha com você, até porque você vai ficar um tempo conosco. — Sua voz sai em um tom debochado, até porque ela não seria ela mesma se não usasse pelo menos um pouco de deboche.
Francesca se levanta e vai em direção a porta.
— Ah, hoje iremos todos comer na sala de jantar e você vai se juntar a nós.
— Não quero me juntar a vocês.
— Isso não é um convite, é uma ordem! — Ela revira os olhos. — Seja sútil, Francesca, seja sútil. — Ela cochicha para si mesmo enquanto sai do quarto.

***

A hora do jantar estava quase chegando, Bad havia me trazido roupas novas e dito que meu banho só seria autorizado no outro dia. Também me deu uma espécie de urinol para que Sad não precisasse me levar tantas vezes ao banheiro.
A cada segundo que se passava, minhas forças de escapar daquele inferno só aumentavam, segundo todos os meus planos, eu poderia escapar por vários lugares: A pequena janela que ficava no meu quarto, a janela da cozinha e a pequena porta que dava para os fundos. Havia notado que a porta da frente era muito barulhenta, era possível escutá-la sendo aberta por todos os cômodos da casa.
Consegui olhar pela janela do banheiro que havia uma pequena estrada na floresta que dava para a cidade. Valeu a pena todos os momentos em que pedi para usar o banheiro. Estava tudo certo, minha fuga seria na próxima madrugada.
Visto a roupa que Francesca comprou e espero ser levada até a sala de jantar.
Sad entra no quarto minutos depois, seu cabelo estava molhado e deixou seus pequenos cachos bem definidos, estava usando uma camisa social, isso o deixava totalmente elegante, bem mais do que hoje mais cedo.
— Por que você e eu estamos arrumados? — Pergunto.
— Hoje é aniversário de Bad. — Ele responde friamente.
— Por que achou que eu estava escondendo algo em meu corpo? Eu não teria como esconder nada de vocês. Por que você mesmo não resolveu isso?
— Por que você faz tantas perguntas insignificantes? Aqui você não tem direito de fazer muitas perguntas e nem de dar opiniões. Fique calada e não terá problemas comigo e nem com os outros.
Não tenho muito o que dizer, além de ter ficado impressionada com sua atitude. Aliás, eu não deveria esperar nada de nenhum deles, a vítima nessa história sou eu, e eles são os monstros.
— Desculpe. — Respondo sem olhar para ele.
Sad não me olha, apenas me guia até a mesa de jantar onde estão Bad e Francesca.
— É uma honra te ver, Alicia Rowe. — Bad diz com sarcasmo.
Olho para a mesa e me pergunto o motivo de me quererem ali.
— Sente-se, temos muito o que conversar. — diz Francesca com um sorrisinho.  

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