Prólogo.
O que fazer quando você já nasceu com um alvo em sua testa?
Minha vida não era minha, pelo menos as minhas vontades nunca foram escutadas ou levadas em consideração, por quê? Quando se nasce em uma família errada, nada na sua vida vai dar certo e para mim não foi diferente. Meu pai era dono do maior cartel de tráfico de armas e peças de carros importados do México. Erámos uma família unida, minha mãe cuidava das finanças, meu primo Ladário era o encarregado da segurança e eu, por ser a mais nova, ficava no galpão apenas observando tudo. Transações, desmanche, mortes, prestações de contas e prisões.
Não quero me delongar mais do que necessito nesse breve resumo da minha 'divina comédia'. Quando tinha 17 anos meu pai foi morto pela Interpol, sabíamos que isso iria acontecer um dia, ainda mais quando suas transações começaram a levar peças de carro roubado para os Estados Unidos e aquele país não está para brincadeira quando o assunto é imigrante e tráfico.
Tivemos que nos esconder por um tempo, ficar fora do radar até poder pegar tudo de volta. Eu seria louca de voltar para aquela vida, não é mesmo? Mas era tudo o que eu sabia fazer, atirar, dirigir igual uma louca e montar carros como ninguém. Não me ensinaram a se portar como uma donzela, muito menos esperar pelo príncipe encantado, ao invés disso, me fizeram crer que o príncipe encantado nunca me olharia, pois estaria ocupando demais fodendo a princesa pra olhar para uma jovem suja de graxa com um humor duvidoso e sangue nas mãos.
Todavia, se eu não voltasse para reaver o dinheiro da família, outro cartel iria tomar conta do meu império, filha única de Gusman Castillo e Maria Gonçalves - uma brasileira que foi desvirtuada por um homem mau -. Todavia não vamos falar da minha família por parte de mãe. Voltando, ao império de meu pai, ele me pertencia... mas teria que esperar um pouco.
Alguns anos após a morte do meu pai, vim parar nos Estados Unidos. Para ser mais exata, em Detroit. Sai com uma mão atrás e outra na frente, com pouco dinheiro que consegui esconder na mochila ao atravessar a fronteira. Montei uma pequena oficina, novamente, carros eram a minha especialidade.
Ladário veio logo após – meu primo-, ficando na mesma cidade, porém trabalhando para o tráfico local, não conseguia ficar longe da adrenalina, era mais forte o interesse pelo caos. Me ajudava como podia, tentava me fazer crer que nosso dinheiro ainda estava escondido em alguma casa de meu papai, junto com os planos e transações internacionais.
No fundo eu queria acreditar, mas para mim aquela vida não existia mais e está enterrada com o meu pai.
Capítulo 1.
Todas as manhãs eram iguais, acordava, ligava a cafeteira e o rádio, ouvia as notícias locais, descia para oficina e começava a trabalhar em meus carros. Eram poucos, pois infelizmente nesse mundo as mulheres não são bem vistas em trabalhos que são considerados dos homens e quando uma mulher tenta roubar seu lugar, ela se torna imediatamente uma ameaça. E era isso que eu era naquele bairro industrial.
Arrumava minhas ferramentas enquanto fechava o capo de um Cadillac de 1959, adorava os clássicos, porém eles eram os que me davam mais trabalho por terem as peças mais difíceis de achar, esse por sorte só precisou de uma limpeza no motor, troca de correia e óleo, já estava novo para rodar. Caminhei até a mesa aos fundos onde ficavam os produtos químicos, enquanto limpava minha mão.
O galpão não era grande, no primeiro andar havia o salão para os carros, um escritório com banheiro e o segundo andar era como uma varanda, um 'loft'. Do meu quarto eu via toda a extensão inferior, inclusive o que se passava pela rua.
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Aboiz
Mystery / ThrillerQuando você não tem mais o que perder, será que vale apena arriscar a própria vida? Essa é a história nada convencional de uma jovem cólera que já nasceu com o alvo em suas costas. Beatrice não é a típica mulher que precisa de um príncipe encantado...