Sonolenta, Hinata ouviu seu celular tocar.
Demorou alguns momentos para diferenciar se era sonho ou não. Ainda estava bem escuro.
Quando finalmente despertou, girou na cama, tateando em busca do aparelho. Era uma ligação do Naruto, seu melhor amigo desde a infância, as exatas duas e dezessete, de uma madrugada de terça feira.
— Você tem noção de que horas são agora, Naruto? – Soltou assim que atendeu.
— Hmm... Umas duas e pouco, eu acho... Estava dormindo?
— Não, eu estava regando as plantas... – Respondeu rispidamente.
— Ah, que ótimo, porque eu estava mesmo muito preocupado, sabe? Com a possibilidade de te acordar – Rebateu sorrindo.
— Diz logo o que você quer e eu espero que seja importante.
— Eu estava assistindo Guerra Mundial Z e m...
— Boa noite, Naruto.
— Não, por favor, por favor... Não vou conseguir dormir e, consequentemente, você também não vai, você sabe!
Naruto era a melhor pessoa que já tinha conhecido em todos os seus 17 anos de vida, mas ele também conseguia ser um pé no saco quando queria.
— O que é então? – A jovem disse depois de um longo suspiro, fitando as formas que sobressaem na escuridão do seu quarto.
— Então, eu estava assistindo Guerra Mundial Z e me bateu uma dúvida cruel sobre os zumbis. Tipo, eles são zumbis, certo. Todos concordam que são zumbis. Seres “mortos-vivos”. Mortos porque o organismo não tem vida biológica, mas vivos porque eles ainda conseguem se mexer, andar, matar outras pessoas, certo?
— É sério isso, Naruto? Sério mesmo? Me acordou pra isso?
— Shii, presta atenção. Excluindo todo o conhecimento e possibilidades que envolvem o mundo zumbi, e analisando somente os zumbis desse filme e as informações que nós temos, como o vírus se propaga?
— Como qualquer vírus. Eles invadem o hospedeiro, fazem morada, se multiplicam e infectam outro organismo quando tem chance – Comentou vencida.
— Exatamente, mas eles precisam de um organismo vivo, um sistema circulatório funcionando.
— Eles ainda estavam vivos quando foram infectados. Nenhum mistério até aqui.
— Correto, e depois? O vírus domina todo o sistema hospedeiro e o mata, rapidamente. Ele morre.
— Sim. Provavelmente por isso eles buscam um novo hospedeiro com tanto desespero, já que o que eles conseguiram morreu... Sei lá... É uma ideia.
— Ahh, faz sentido, faz sentido... Só que eles não morrem, de verdade. Continuam vivos, ou, melhor dizendo, existindo...
— Com o mínimo de funções, por isso o corpo deteriora. E daí?
— Como assim “e daí?”. Como eles continuam vivos, se morrem?
— É por isso que se chamam mortos-vivos, Naruto. Eles morrem, mas não morrem. E não tem lógica nisso, já que é uma história não real. A existência deles é uma fabula, como são os vampiros.
— Não! Nem ouse comparar. Vampiros são uma existência ilógica até mesmo para o que não tem lógica. A existência dos zumbis é diferente.
— Mortos-vivos não são ilógicos?
— Claro que não. Olha, tomando nossa realidade como base. É perfeitamente possível surgir um vírus altamente resistente, que domine todo o organismo, iniciando pelo sistema nervoso, e que seja altamente letal também, a ponto de matar o hospedeiro rapidamente. E, como você mesmo disse, a necessidade de propagar e sobreviver faz com que o vírus se alastre, buscando e matando um hospedeiro por vez. Está morto, mas permanece “vivo” porque, inexplicavelmente, o vírus é forte o bastante para manter o corpo por um tempo.
— Prossiga... – Sussurrou sonolenta demais para rebater.
— Já vampiros, presumindo que seria também um vírus que atacasse o organismo e que o modificasse, tornando sua principal fonte de alimento, e desejo, o sangue, e que também fosse resistente o bastante para manter o hospedeiro, mesmo depois de sua morte, não poderia ser pra sempre. E a premissa é de que Vampiros são “eternos”.
— Fascinante... – A morena boceja.
— São as evidências, minha cara. Os zumbis se deterioram, como logicamente deve acontecer a um corpo sem vida, seguindo a lei da natureza. Já os vampiros são belos, vigorosos, como não eram nem quando estavam vivos. Sem contar o apetite sexual não condizente com a falta de vida neles.
— Naruto, você tomou café? – Estava difícil acompanhar o raciocínio dele.
— Mas é verdade, não é?
— Primeiro que vampirismo não é uma doença, eles não são infectados por um vírus – Bocejou de novo – Eles são um tipo de entidade...
— Isso torna a premissa de sua existência ainda mais impossível.
— Da mesma forma que não existe nenhuma premissa que torne possível a existência de zumbis.
— Não, é altamente impossível só para vampiros. Para zumbis é só altamente improvável.
— Okay, Naruto, então amanhã vamos montar uma tática de sobrevivência caso a improvável, não impossível, premissa de um vírus “zumbi” surgir e infectar todo o mundo. Satisfeito?
— Já existem táticas de sobrevivência zumbis, Hina. Mas nunca ouvi falar sobre táticas de sobrevivência a vampiros.
— Não quero saber mais de vampiros, nem zumbis! Graças a você eu odeio os dois. Então me diga que sanou sua dúvida para eu voltar a dormir.
— Que dúvida?
— Me erra, Naruto... – E então desligou tão rápido que não pode ouvir a risada alta do outro lado da linha.
Hinata colocou o celular ao lado e virou-se enraivecida. Suspirou sabendo que não era a primeira e nem seria a última vez que o jovem a ligaria de madrugada... E pior que isso, ela sabia que esperaria de certa forma, por essas ligações. Então apenas sorriu, vencida.
Afinal, ter um melhor amigo é correr o risco de que a praga te acorde de madrugada, por qualquer motivo besta.
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Melhores Amigos
RomanceNaruto e Hinata são amigos desde a infância, mas percebem seu sentimentos mudarem gradualmente. Aos poucos, eles e outras pessoas reagem a essas mudanças... Enquanto o mundo ao seu redor se expande.