5. Aquele em que ele percebe

813 88 16
                                    

— Você não está mais dividindo o quarto?

Naruto reconheceu a voz de imediato e levantou seu olhar da caixa que revirava para a voz em sua porta. Fazia duas semanas que haviam chegado ao campus e Naruto ainda não tinha arrumado todas as suas coisas.

— Olha quem resolveu aparecer. Vai me ajudar com a bagunça? – Sorriu.

— Você que me convidou e não foi pra arrumar bagunça nenhuma, Naruto. Eu estou com fome – Adentrou, observando a caixa que ele mexia – Ainda são as coisas da mudança?

— São – Disse inocente – Falta apenas essa caixa. Ah, e tem aquela...

— Você é muito desorganizado.

— Sempre ouvi isso, mas eu nunca acreditei de verdade, já que minhas coisas milagrosamente voltavam ao lugar – Riu do próprio comentário.

— O nome do seu milagre é Kushina e ela está a quilômetros de distancia. Vai ter que se virar, garotão.

— Caraca, não estavam brincando quando disseram que faculdade era sobrevivência. O que será de mim?  – Comentou fazendo a amiga rir.

— Exagerado. Você é o confiante da relação, esqueceu? Tem que se adaptar primeiro que eu, para me socorrer, quando eu surtar.

— Meu problema não é adaptação Hina, é organização... E limpeza... E ter que fazer tudo sozinho... – Repetia, enquanto puxava pela memória.

— Isso faz parte da adaptação, gênio... Pelo menos você tem um quarto somente seu, minha colega de quarto é bem... Hmm, exótica, talvez?

— Mas eu divido o quarto, com o Shikamaru. Te falei dele.

Hinata o olhou, confusa. O lado que deveria ser do companheiro dele não tinha absolutamente nada.

— Sim, eu lembro, mas o quarto está do mesmo jeito de quando o recebemos. Achei que ele tivesse desistido, sei lá.

— Olha de novo... Atentamente... – Naruto sorriu e esperou que ela observasse mais detalhadamente e encontrasse um ou dois objetos pessoas a vista.

— Ele não trouxe nada com ele? – Perguntou incrédula.

— Nada além do que ele, absolutamente, vai usar. Assim ele não carrega peso, não se preocupa em procurar nada e não tem que arrumar nada... Resumindo, ele eliminou esse problema – Apontou para o seu lado do quarto, que estava bem diferente – Esperto, não?

— Não sei se chamaria de esperteza, é meio estranho... E você não é parâmetro. Na verdade, você é exatamente o oposto, trouxe absolutamente tudo o que você tinha no quarto.  Não me surpreenderia se tivesse trazido a sua mãe junto.

— Se eu tivesse trazido minha mãe eu estaria arrumando meu quarto? – Comentou cético – Não, não estaria.

— Preguiçoso... – Comentou baixo, enquanto começava a organizar algumas coisas – Melhor eu te ajudar mesmo, porque eu quero comer ainda hoje.

A morena estava organizando alguns livros quando uma foto caiu de dentro de um deles, direto no chão.

— Nossa, olha essa foto!

— Qual foto? – Perguntou, interessado. Era uma foto dos dois, sorrindo muito, com a boca suja de chocolate – Ah, eu lembro desse dia, era meu aniversário de... Onze anos? – A fitou com dúvida.

— Sim, foi o de onze.

— Eu queria que o primeiro pedaço de bolo fosse meu, mas você roubou ele. No fim, a gente acabou dividindo.

— Você disse que me daria, um dia antes. Era meu por direito! Eu estava esperando por aquele primeiro pedaço e o que você fez? Ficou com ele.

— Era o meu aniversário, sua egoísta – Rebateu sorrindo.

— Egoísta nada. Roubei mesmo para você aprender a não me prometer comida se não for cumprir – Sorriu, analisando a foto por mais tempo.

— Aprendi bem isso com o tempo, gulosa.

— Você é o menos indicado para me chamar de gulosa.

— Quem vê essa carinha de anjo nem imagina o buraco negro que você carrega – Hinata lhe mostrou a língua de modo infantil e voltou a se concentrar na foto.

— Meu pai ainda te olhava torto nessa época. Olha só a cara de mau dele lá trás.

— Como assim “ainda”? Hiashi me olha torto – Enfatizou.

— Não, antes você era só um garoto que ele mal conhecia, e que sempre estava perto da menininha dele – Falava enquanto devolvia a foto para o livro do qual tinha caído – Mas hoje...

— Hoje... – Cortou, fitando a amiga – Eu sou um homem que ele conhece e que ainda não sai da cola da menininha dele – Sorriu – Ele me olha com a aquele olhar de “Quais suas reais intenções com a minha filha, rapaz?”, e vai olhar sempre... Já me acostumei.

 — Ele já sabe quais são as suas intenções com a menininha dele – Rebateu irônica. Naruto, que ainda a fitava, intensificou o olhar.

 — Será que ele sabe? – Sorriu travesso – Será que você sabe? – Naruto levou uma mão até os fios escuros da amiga e fez um carinho suave, sem desviar o olhar.  Ele se aproximou levemente e percebeu que ela estranhou um pouco, mas não se moveu – Sabia que...  –  O loiro baixou o tom de voz e deixou o rosto perigosamente perto – Você está corada até as orelhas.

Hinata, que até então estava um tanto surpresa e tentando entender o que estava acontecendo, finalmente entendeu com esse último comentário. Respirou fundo antes de se irritar e acertá-lo na barriga.

— Palhaço, sabia que estava aprontando. Você se aproveita só porque eu coro fácil, idiota. 

— Eu sei e eu adoro – Confessou sincero. O tom de pele dela é bem claro, absolutamente qualquer coisa a deixava vermelha. No começo, ele achava graça... Depois começou a ficar meio encantado, como se fosse um hobbie divertido fazê-la corar... Hoje em dia, ele precisa admitir que fica fascinado.

Mas a convivência tornou esses momentos mais escassos.

— Vai ficar ai parado me olhando ou a gente vai comer? – Cortou ao perceber que coraria novamente. Mas, Naruto não respondeu.

Ele realmente queria ficar apenas olhando, mais um pouco.

— Interrompo? – Shimakaru aparece na porta, quase sem jeito.

— Claro que não, entra ai. Essa é minha melhor amiga, Hinata – Naruto disse animado, até demais.

— Eu sei.  Você fala tanto dela que é como se eu já a conhecesse – Shikamaru adentrou no quarto, em direção a jovem – Prazer, sou Shikamaru Nara.

— O Prazer é meu. Então, quer dizer que o Naruto fala muito de mim?

— O Naruto fala muito – O rapaz disse, fitando o loiro e fazendo Hinata rir.

— Estamos indo comer, simpatia, quer vir junto? – Anunciou Naruto, sarcástico.

— Não, já comi. Obrigado – Caminhou até seu lado do quarto, se jogando na cama.

— Então vamos logo que você já me fez esperar demais. Até, Shikamaru – A jovem se despede e já sai do quarto. Naruto observa a caixa com coisas ainda por arrumar e se volta para o colega de quarto, que observava.

— Falei tanto assim da Hina para você? – Perguntou curioso.

— Enfática e repetidamente – Virou-se de costas e comentou, sugestivo – Sua melhor amiga esta esperando.

Naruto observou a jovem no corredor e se permitiu sorrir, enquanto pegava sua carteira.

A verdade é que as batidas aceleradas do seu coração já não o assustavam mais.

Melhores AmigosOnde histórias criam vida. Descubra agora