Melhores Amigos

3. Aquele em que ele a conforta

— Achei que fosse sair com as meninas hoje, pra se despedir.

Naruto apareceu, de repente. Ele já era considerado da casa, então podia entrar quando quisesse. Possivelmente, serem amigos desde os oitos anos lhe dava passe livre.

Hinata estava nos fundos de sua casa, em seu balanço construído pelo pai há tantos anos. Ela o fitou rapidamente.

— Meu pai te chamou, é? Você não ia sair com sua gangue?

 — Perguntei primeiro. O que foi? Você estava animada de manhã, depois começou a ficar meio desligada... Achei que era por ser o ultimo dia e tals, mas não é, ou é?

Naruto podia ser bem atento quando queria. Hinata sorriu e balançou a cabeça, minimamente, em negativa.

— E então?

— Nada... Deixa pra lá, é coisa boba... – Tentou tranquiliza-lo, mas observou seu amigo sentar-se no balanço ao lado,  a fitando com uma expressão confusa. Hinata sorriu, sabia que ele estava internamente tentando descobrir como arrancar a verdade dela, sem pressioná-la.

— A luz do sol leva oito minutos e vinte segundos pra chegar a Terra – Soltou de repente. Às vezes eles faziam esses joguinhos onde cada um dizia uma curiosidade diferente, até que um deles não saiba o que dizer, e então fica devendo um favor para o outro.

— Uma mosca caseira comum voa a uma velocidade de dez quilômetros por hora – Respondeu após uma breve pausa.

— Há uma estimativa de que, a cada ano, o monte Everest cresça quatro milímetros.

— Sério? – Ela rebateu.

— Foi o que eu li. Parece que as placas tectônicas empurram as montanhas mais pra cima, toda vez que se movem.

— Hmmm – Pensou um pouco – O menor país do mundo é o Vaticano, com cerca de 800 habitantes oficiais.

— Uma formiga pode carregar até cinquenta vezes seu próprio peso.

— As borboletas têm cerca de doze mil olhos.

— Inventou essa? – Ele perguntou, meio cético.

— Não, é verdade. Eles são formados por milhares de pequenas lentes; cada lente tem o seu nervo óptico. E eles têm inclinações diferentes para que cada lente possa ver numa direção.

— Interessante. A língua de uma baleia-azul pode pesar até 3,6 toneladas. Quase o mesmo que um elefante médio.

— O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo graças à Floresta Amazônica.

— A maior palavra da língua portuguesa é um tipo doença causada pela respiração de cinzas vulcânicas e tem quarenta e seis letras.

— Quarenta e seis? Não pegou o numero errado não?

— Não, tenho certeza porque decorei a palavra. É pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico.

— Nossa, Naruto, como você decorou isso? – Sorriu, verdadeiramente curiosa.

— Levei umas três semanas para conseguir pronunciar certo – Respondeu sorrindo também – Estava guardando como um trunfo, ou algo assim.

— Bom, funcionou, eu desisto. Fico te devendo...

— E eu já vou cobrar... – Naruto se inclinou um pouco e esticou a mão para alcançar a manga do suéter que Hinata usava, e então passou a brincar com dois botões que havia ali. Sutil, sem ser invasivo – Se abre comigo.

Hinata sentiu seu peito aquecer. Precisava ser muito agradecida por ter alguém tão atencioso quanto ele em sua vida. Era até difícil de lidar às vezes.

— Na verdade, eu estou com medo...

— Medo de que?

— Do novo. Sabe? Sair de casa, morar na faculdade, em uma nova cidade... Como eu vou fazer sem meu pai e a Hanabi?

— É normal sentir medo... Eu também estou um pouco assustado, mas Hina, não é o que você quer?

— Sim, claro... Eu só... Só deixei o medo me assustar um pouco mais hoje... Eu disse que era bobagem – Riu. 

— Ei, não é bobagem Hina. Você pode me contar tudo... E eu vou com você, não esqueça disso. Não vamos fazer o mesmo curso, mas eu também vou morar no campus. Qualquer coisa que você precisar, vou estar lá – Então abriu um sorriso confiante – É só você gritar e eu chego em um pulo.

Esse sorriso instantaneamente a tranquilizava.

— É só por isso que estou indo, sabe? Eu sei que não conseguiria ir sozinha, não teria coragem o suficiente... – Hinata confessou, o fitando nos olhos – Obrigada, por tudo.

— De nada. Mas, você conseguiria sim, você só se faz de boba – Sorriu do olhar enraivecido que recebeu –  Agora que você se resolveu, podemos ir? Eles estão esperando faz tempo.

— Eles quem?

— Minha gangue e suas amigas. Resolvemos fazer alguma coisa juntos e viemos te buscar, já que não teria a menor graça sem você – Naruto levantou-se e a puxou para si. Levou a mão até o rosto da jovem e colocou uma mexa de seu cabelo solto, atrás da orelha – Porque vamos a um Karaokê e você é horrível demais.

Hinata o acertou na barriga, mas de leve, pois ele já se afastava, gargalhando.

Naruto, com certeza, era a melhor pessoa.