Madame inesquecível.

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Me recordo de um tempo corrido naquele oásis flutuante, por algum motivo, certas pessoas insistiam em comemorar de forma exagerada exatamente no dia da execução da rainha dos piratas, querendo ou não, era uma grande quantidade.

O baratie ficará mais movimentado que o normal nos últimos dias, clientes fiéis, novos e alguns encrenqueiros que não compreendiam o legado daquela mulher.
Eu não poderia me considerar uma fã fanática de sua história, mas reconheço que Gold D. Rose conquistou tudo que o mundo tinha para oferecer.

- Se veio para desperdiçar comida, deveria ter se poupado o trabalho. - Homem burro, não sabe o valor que a comida tem, se rastejando de forma idiota sobre o chão, enquanto me xinga e diminuiu meu cargo secundário como garçonete. Não tenho porquê sentir pena de alguém assim, jogando comida no chão pelo simples fato de, por suas palavras, estar ruim.

- Sua... Vadiazinha..! Tsc..! - É uma pena, ele tinha um rosto bonito, agora, uma marca de meu salto alto afundava do lado esquerdo de seu rosto. O rapaz se levantou com uma expressão de raiva e me encarou, parece que minha expressão de paz e meu cigarro entre lábios o irritou.

Conseguia ouvir cochichos, principalmente de minhas companheiras de trabalho, algumas das cozinheiras já eram acostumadas com meu tipo de atitude, principalmente as mais antigas, elas sabiam exatamente oque eu faria, tanto que até alguns clientes antigos debochavam da cena.

- Me perdoem pelo tumulto, fiéis clientes. - O imbecil ainda arriscou um soco, acho que estava tonto por conta de meu chute, consegui desviar tão facilmente, que tive tempo sobrando para servir um prato solicitado logo na mesa ao lado. - Também me desculpo pela demora, madame Tsu. Aqui está seu Ceviche Beija-Flor, com um sal adicional, como de seu agrado.

- Muito obrigado, querida. Não precisa se desculpar, não demorou nad-..! - Madame Tsu era uma gentil cliente que passará a frequentar o Baratie desde sua abertura, uma idosa rica, mas ao mesmo tempo muito solitária, de vez em quando, ela fazia questão de ficar no restaurante até que suas portas estivessem próximas de fechar, tivemos várias conversas agradáveis, ela praticamente acompanhou meu crescimento naquele lugar.

- Cala a boca, sua velha! Eu tô falando com você, puta! Como você ousa me ignorar logo depois de me chutar?! - Ok, este rapaz está começando a me deixar com os nervos à flor da pele. Primeiro desperdiçando comida, depois, interrompendo a fala gentil de uma cliente frequente. Descontei toda minha raiva em uma rasteira, ele estava bem atrás de mim, pronto para errar mais um golpe. Somente um chute fraco em seus calcanhares, e ele foi ao chão.

Ou quase, agarrei seu pulso direito antes que suas costas afundassem sobre o solo e o fiz virar seu corpo de uma só vez, retorcendo seu braço contra suas costas e o fazendo se ajoelhar sobre o chão.

- Escute aqui, caro homem. - Apertei o cigarro com mais força entre os dentes, da mesma forma que meus dedos apertavam o braço dele. Eu não iria estragar a noite de meus clientes com tumulto, muitos bebiam educadamente, haviam crianças ali, não iria interromper suas noites. - Eu estou de bom humor, então aproveite minha generosidade. - O fiz abaixar a cabeça, o suficiente para observar a comida que havia jogado propositalmente no chão. - Normalmente, eu faria você engolir cada pedaço daquilo ali, nem que estivesse com vidro. Mas seria uma cena realmente repugnante, e as pessoas de classe, que respeitam este restaurante, não merecem presenciar isso. Principalmente as crianças que estão apreciando a culinária na companhia de seus parentes.

Eu o chutei com muito prazer para fora do restaurante, violentamente pela porta da frente. Não acho que exagerei em minha força, o mínimo era ele cair direto na água, e assim foi. Vi aquela velha de merda retornar com alguns papéis em mãos, sabia que ela tinha ido resolver algo em relação ao restaurante. Ela observou-me com a expressão séria de sempre, rabugenta.

- Ei! Eu ainda estou com fome..! - O imundo tossiu água sobre o chão da entrada daquele local, dei um passo para trás e bufei, deixando fumaça escapar por minha boca.

- Se estivesse, não teria jogado comida no chão. - Estúpido, hipócrita e imbecil. Me virei para entrar no restaurante novamente, mas era de se esperar que a velha falaria algo.

- Só algumas horas, e já arranjou confusão, berijelinha? - Eu definitivamente acho esse apelido ridículo, ele é tão constrangedor. Respirei fundo e encarei-a por canto de olho, pondo as mãos nos bolsos de minha saia azulada.

- Ele jogou comida no chão e desrespeitou madame Tsu, eu peguei mais leve do quê deveria. E para de me por esse apelido ridículo, porra.

- Combina com você. - De certa forma, sabia que ela entenderia meu lado, não me repreendeu, apenas entrou no restaurante. Até estranhei não ter me xingado como de costume. - Se é tão irritada assim, deveria tratar desta TPM em outro lugar, rabugenta. - Olha quem fala.. Foi como imaginei, não xingou, mas provocou como sempre.

Eu adentrei no restaurante mais uma vez, observando as pessoas comendo em paz, brigas ali eram normais de certa forma, entendia a calma deles, sabiam que não seria afetados, pelo menos naquele momento. Caminhei em direção a mesa de Tsu, sentia-me envergonhada por deixar aquela situação chegar a aquele nível.

- Sinto muito pelo incômodo causado, madame Tsu. Deixo este prato por conta da casa por hoje, não merece esse tipo de tratamento impróprio. - Curvei-me um pouco para frente, era um pedido sincero de desculpas.

- Não se preocupe, querida. Pessoas assim existem por toda a parte, obrigado por sua educação. - Ela sorriu para mim de maneira simpática e eu retribui, Tsu me lembrava uma pessoa que eu havia conhecido há um bom tempo. - Sanji, querida.. Poderia lhe pedir um favor?

- É claro, é claro. Deseja algo? A comida tem algo de diferente? - Retomei a minha posição comum e bufei de forma breve ao ver a comida desperdiçada ser recolhida, mas eu deveria me concentrar.

- Não, não. Espero que esteja ao seu alcance. - Ela suavemente limpou os lábios com um guardanapo e fitou meus olhos com um sorriso meio triste, talvez preocupado. - Desejo que em minhas próximas vezes, eu volte a comer cada prato do cardápio, até o terminar. Por suas mãos.

Isso é meio estranho, ela não gosta da comida que é feita por agora ou é apenas um motivo em especial?

- Tem algum problema com a atual? Não está gostando?

- Não é isso, minha jovem. Em tantos anos, experimentei apenas um ou dois de seus pratos, desejo me aprofundar em seu talento, ver suas habilidades por experiência própria. Saber o quanto elas evoluíram. - Novamente sorriu, desta vez algo mais alegre. - Você me prometeu que um dia cozinharia desta forma para mim, quando estivesse pronta para algo maior.

Fiquei em silêncio por alguns instantes, refletindo sobre aquela resposta. Era um tanto estranho, por qual motivo as palavras escaparam de minha boca? É um mal pressentimento.

- Como desejar, madame Tsu. - Tudo que me restou foi sorrir.

Memórias de uma cozinheira confusa. - One PieceOnde histórias criam vida. Descubra agora