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AINDA É CEDO quando três jovens esquisitos entram pela porta de casa, convidando a melancolia que cobria o lugar a se retirar. Os três passam por meu pai e abrem caminho até mim. Estou no sofá azul escuro, as pernas estendidas até a beira da mesinha de vidro com o laptop sobre elas. Erin está assistindo televisão e sorri para meus amigos, enquanto a luz alaranjada do abajur brilha sobre ela.

— Oi — Harper diz, sentando ao meu lado.

Respondo com um sorriso e Oliver mexe a cabeça, indicando a escada, depois de afastar os fios ruivos da testa.

— Vamos lá — ele diz e Katie tira o laptop do meu colo, segurando minha mão assim que me levanto. Ela aperta meus dedos, levemente. E sinto minha garganta doer ao tentar segurar o choro. Sigo-os até a escada e tento subir sem pensar em nada.

Meus amigos não dizem nada e eu também não. Foco-me em apenas ignorar as memórias dela passando por mim, até chegar ao meu quarto.

Katie é a primeira a me abraçar quando fecho a porta. Ela me aperta forte e consigo segurar as lágrimas, até perceber que ela treme porque também segura o choro. Desabo em seus braços e escondo o rosto em seu ombro, sentindo o cheiro doce do cabelo loiro. Então, Harper e Oliver enroscam seus braços sobre nós duas, formando um abraço coletivo.

Não digo nada enquanto solto soluços reprimidos. Em silêncio, as lágrimas caem fulminantes de pura dor e indignação.

Sempre me perguntei porque o fim é tão doloroso, se ele nunca foi um segredo. A morte nos é uma certeza, uma verdade absoluta, e esperamos por ela todos os dias, mas ainda assim é desesperador quando ela finalmente chega.

Me refugio nesse momento até sentir meu corpo doer, e então me afasto do carinho.

Passando as costas da mão pelo nariz, encaro os três com olhares preocupados. Suas expressões de pena me deixam nervosa. Será que agora todos vão me olhar assim?

— Eu sinto muito, Emily — Katie quebra o silêncio, os olhos castanhos inundados pelo mar da empatia.

— Nós também sentimos — Oliver diz e Harper assente com a cabeça, colocando um fio curtinho, tingido de azul, atrás da orelha.

Ignoro as condolências e vou até a cama porque não quero voltar a chorar. Pego minha almofadinha de coala rosa e aperto contra o peito. Não digo nada, até todos sentarem à beira da cama comigo.

— Você prefere fingir que nada aconteceu? — Harper fala à esquerda, fazendo com que eu levante a cabeça e a encare. Seus olhos amendoados refletem minha própria miséria. Pareço tão frágil agora. — Só por uns minutos.

Solto a almofada no colo e volto a olhar para o chão, refletindo sobre sua oferta.

Balanço a cabeça quando ela suspira. E digo que não. Apesar de querer esquecer de tudo, não sei se consigo e preciso de um pouco de consolo real.

Katie, à minha direita, passa o braço sobre meus ombros.

— Lembra quando colamos esses posters com ela? — diz, apontando para todos os posters de Mamma Mia na parede rosa bebê à nossa frente, bem ao lado da porta. — Tínhamos doze anos, na época.

— Eu me lembro disso — Harper diz, sorrindo. Reparo em como suas sardas se alargam sobre a pele morena quando faz isso. — Ela nos fez brownies e chocolate quente quando terminamos.

Eu queria sorrir, mas meu corpo está abatido pela exaustão e pela surrealidade do momento.

— É, e lembram daquela história que ela amava contar sobre o dia em que Emily fechou todas as janelas da casa porque tinha medo do Peter Pan? — Oliver acrescenta.

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