MEUS PÉS ESTÃO presos ao chão como as raízes das árvores que me rodeiam. Estou de costas para o túmulo dela e não faço ideia de como vou arranjar coragem para me virar. Sei que parece bobeira ou até drama, mas quando eu ver o nome dela ali tudo isso vai se tornar inegável e por mais que eu saiba que preciso aceitar que ela se foi, ainda parece que se eu fizer isso ela morrerá, outra vez.
Sinto meu corpo entrar em um oceano de inquietude, como se eu fosse um barquinho em alto mar no meio de uma tempestade. Meus dedos tocam a corrente em meu pescoço com um pingente de estrela cadente.
Mamãe me deu na noite em que se foi como se previsse o que aconteceria.
Não consigo respirar. Estou segurando o choro e tentando impedir a mim mesma de desmoronar, mas é tão difícil. Tão complicado. A dor é tão grande que chega a ser inominável e me causa um tipo de exaustão que não é física.
É como se meu coração mal pudesse suportar essa realidade e a cada tentativa fosse nocauteado, levando-o a se entregar a dor.
Mesmo com todo o esforço, estou chorando. Por um momento, tento fingir que é chuva e que não tenho motivos para chorar, mas então sou bombardeada pelas memórias daquela noite. Penso em quando os olhos dela se fecharam pela última vez e em como ela suspirou antes de viajar para um lugar muito, muito longe. Lembro de como seu aperto em minha mão enfraqueceu e de como pareceu que uma parte de mim estava morrendo com ela.
Quando deixamos o hospital, fomos direto para a casa da minha avó, Liz, e deitei na cama com Erin e a minha tia, Emma. Passei a noite toda me revirando, tentando ignorar a realidade que me persegue agora.
De repente, estou de joelhos, abraçando meu próprio corpo e tentando parar de soluçar porque isso só faz a dor aumentar. Estou me desfazendo em cinzas, queimando como uma chama eterna. Não sei quanto tempo se passou, mas meus pulmões já não conseguem funcionar direito e tudo em mim treme e estilhaça.
Ouço vozes ao longe, mas não compreendo o que dizem. Mãos tocam meus braços e, então, estou escondendo meu rosto no peito dele.
Ryan está aqui.
Não sei como, mas ele está aqui.
Não estou sozinha.
Respiro fundo.
Não estou sozinha.
Não vou morrer.
Estamos encostados no carro dele, minhas mãos apertam uma garrafa de água, enquanto permanecemos em silêncio. Ryan não fez nenhuma pergunta, além de "Você está bem?", e sou extremamente grata por isso.
Meu coração ainda está acelerado e meu corpo continua dormente e cansado. Talvez isso tenha a ver com o meu sono conturbado nos últimos dias. Uma brisa forte bate em mim, um alívio entre os picos de dor e vergonha. Sempre que Ryan e eu nos encontramos estou com a aparência de uma bebê chorona. Não gosto disso, mas quase não me importo. Porque ele parece não se importar.
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Poetas da Noite (COMPLETO NA AMAZON)
RomanceEmilly Anderson é uma adolescente que perdeu sua mãe para o câncer. Aos dezesseis anos, ela esconde as feridas do destino em um buraco negro de indiferença, enquanto as lembranças da mãe a fazem desejar acabar com tudo. Ryan Matthews, um atleta ta...