Prólogo

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Tudo começa com um porque.

Um objetivo.

E o meu? Era a liberdade.

Ser quem eu sou.

Eu sempre quis ser livre. Desde criança o meu sonho era morar sozinha, ter minhas paradas e viver feliz do meu jeitinho (e talvez um pouco bêbada). Talvez ter crescido na casa dos meus pais superconservadores tenha ajudado um pouco nisso. 

Ok, talvez fugir dos meus pais tenha formado o meu sonho mas não quer dizer que ele tenha menos valor...... Só que talvez o motivo não seja tão nobre quanto o dos mediciners que querem "salvar vidas" 'ajudar os outros' ou "servir os doentes" (aham a gente sabe que é o salário de 20 mil reais mô), mas não me torna menos determinada.

Eu nunca me encaixei muito na minha família. Mesmo sem saber sobre o que eram as piadas de "viadinho", "loira burra" (sim sou da época que era moda piada com loira) nunca me pareceram muito certas. E as piadinhas são só a ponta do iceberg sabe? O racismo (do tipo não velado), o machismo/sexismo me irritavam muito mesmo sem ter noção de pautas sociais. Hoje eu sei que sempre fui um pouco esquerdista rs. 

Com o passar do tempo eu só fui mudando e me distanciando de toda a minha família - principalmente dos meus pais -. A vontade maluca de pintar o cabelo de todas as cores possíveis, e de fazer todas as tatuagens que meu corpo poderia aguentar, a vontade de pegar todo mundo e encher a cara todo dia - fora a bissexualidade latente - me faziam entender que talvez eu não pertencesse a aquele grupo. Mais do que isso, eu fui entendendo que se eu quisesse ser feliz sendo quem eu sou, do meu jeito vagabunda e bêbada eu teria que cair fora da casa dos meus pais. Eu até tentei mudar a cabeça deles no auge da minha fase de adolescente que queria mudar o mundo. E no fim das contas eu só entendi eles foram criados de outro jeito e que gente velha só muda de cabeça quando é forçado - ou quando dói no bolso -.

De qualquer forma, eu saquei que deveria sair da casa dos meus pais o mais rápido possível se eu quisesse ser feliz. Com a minha cabeça engessada de que só consegue alguma coisa na vida quem faz uma boa faculdade (o que na minha cabeça queria dizer que só servia a USP) e arrumar um bom emprego, eu busquei centenas de profissões que eu pudesse me encaixar. Apesar da busca incessante eu jamais achei alguma coisa que suprisse minha vontade latente de ser livre - e rápido - e que eu me encaixasse. Como eu sempre fui boa de briga, procurei o caminho que me pareceu mais óbvio. A profissão eu que eu seria paga para brigar com as pessoas, o famoso direito.

Mas como eu não gosto de coisa fácil, não poderia ser qualquer direito né? Tinha que ser direito na USP (pra você que não sabe, é uma faculdade super tradicional no coração de São Paulo, e direito é curso mais concorrido na faculdade mais concorrida). Então em nome do meu suposto objetivo de ser uma super advogada em uma super cidade eu separei um ano inteiro da minha vida para buscar esse meu sonho (hoje eu quero saber... sonho desde quando, sua louca?). 

E eu perdi tudo. Minha vaidade, minha saúde mental, minha felicidade de ser eu e toda a minha energia na busca incessante desse "sonho". 

Olhando para trás? 

Eu nunca teria feito isso se eu soubesse das consequências psíquicas que isso me traria. Honestamente, a culpa não foi inteiramente do vestibular né? Pessoalmente aquele foi um ano difícil pra mim.... O divórcio dos meus pais, a pandemia do covid 19 fez com que aquele ano fosse um pouco mais delicado para mim. A ansiedade veio com tudo... e eu tive que fazer terapia, usar ansiolíticos para que eu me mantivesse sã.

Infelizmente (ou felizmente, eu ainda to tentando descobrir) eu não passei na USP. Pela primeira vez eu persisti, eu corri atrás e dei tudo de mim, meu sangue, suor e lágrimas - principalmente lágrimas - nesse projeto que foi tão rápido para o buraco que eu nem tive tempo de ver meu "sonho" indo embora. Então eu precisei me obcecar por outra coisa. E ainda precisava fazer uma faculdade (precisava urgentemente, e não poderia fazer uma particular - que preconceito horrível meu Deus -), e precisava dar um rumo na minha vida, arranjar um trabalho e parar de depender da mesada do meu pai. Então eu fui pelo caminho mais lógico........ Fiquei obcecada por um negócio chamado aplication.

Aplication é o nome dado para o processo seletivo para entrar em uma universidade dos Estados Unidos. E eu achei incrível, não só por ser nos EUA, a terra da liberdade, mas porque lá o processo é um pouco diferente. Eles chamam de processo holístico, um jeito diferenciado de te avaliar levando em consideração você como ser humano, e não apenas só uma nota como é no Brasil. E eu me encantei, achei tão inovador e tão mais justo que eu PRECISAVA correr atrás daquilo com todas as minhas forças.

Então, em maio de 2021 eu caí em um poço profundo de tristeza e ansiedade. Eu chorava 5x no dia de soluçar e me tremer todinha de medo, angústia e dor. Dor da mais profunda e intensa. Do tipo que quebra por dentro e vai corroendo cada pedaço do seu corpo até te levar a loucura e insanidade. No entanto graças a Deus - e aos ansiolíticos- eu consegui sair daquele fundo do poço que eu me encontrava. Mas eu havia perdido, me perdido de mim, dos meus sonhos, da minha felicidade e dos meus objetivos. Eu havia perdido minha luz, o prazer de ser quem eu sou e de me sentir bem e ver as belezas da vida. 

As vezes acho que ainda não me recuperei completamente.

Então eu fiz a coisa mais lógica dentro da minha belíssima cabeça de vento. Fiz planos, fiz muitos planos, planejei a minha vida toda. 

Várias versões.

Várias e várias vezes. 

Eu fiz um plano para todo o meu futuro. Depois fiz outro. Depois outro e outro e outro. Em um deles eu virava uma mafiosa super perigosa e vivia um romance com o dono da máfia rival. Em outro, eu virava parte de um grupo de corredores tal qual os velozes e furiosos. Em no mais estranho de todos, eu virava mãe de um bebezinho aos 20 anos com um casinho que eu tive uns bons anos atrás e após um reencontro regado a bebedeira, o fruto do nosso amor seria concebido em uma noite praiana de verão e que nós reencontraríamos o amor latente em nossos corações e viraríamos uma família feliz de comercial de margarina.

O fato é que eu comecei a ver um futuro. Eu vislumbrei um futuro cheio de possibilidades e com muita felicidade me esperando no meu próspero caminho. Mas eu teria que me virar, levantar e fazer meu futuro feliz e saudável virar um presente feliz e saudável. Então a ideia de ir para os EUA me parecia promissora, um lugar diferente em que eu poderia viver feliz e solta sem medo de julgamentos da minha família ou de amigos. Eu poderia finalmente ser eu todinha, em 100% do tempo.

Depois de pesquisar-  muito, muito e muito mesmo- eu conheci o summer job. O modelo de intercâmbio em que você passa de um a três meses os EUA em faculdades ou empresas e que possivelmente é remunerado, com acomodação paga e a promessa da realização dos meus sonhos. 

Bom, as aplicações para o summer job são daqui 2 meses e o embarque daqui a 8 meses. Eu não tenho dinheiro o suficiente para isso, então, eu decidi correr atrás de dinheiro para poder bancar as passagens, o dinheiro, e o financiamento da minha belíssima liberdade

Ah, a liberdade.

Um sonho tão doce e tão distante.

Eu já sei exatamente o que eu vou fazer. 

Eu vou empreender no meu mundo. A economia, as finanças, o mundo dos investimentos me atraem há uns 2 anos. Eu quero ficar nessa área, quero ser uma grande analista de ativos financeiros e é nisso que eu vou empreender. Nunca me adaptei ao modelo CLT e cada dia que eu passo no telemarketing eu tenho mais certeza disso. Não me importo se eu vou trabalhar 6, 16 ou 26 horas por dia... Só quero trabalhar por mim e para mim, com a minha liberdade de tempo e podendo crescer e finalmente ser livre.

E esse é só o começo da minha jornada.

Vou dar tudo de mim.

E esse mundo vai ser meu.

Topa vir comigo nessa jornada maluca?


Atenciosamente, 

Ana (gostosa) Bispo




Diário de uma empreendedora maluca, determinada e (um pouco) safadaOnde histórias criam vida. Descubra agora