4/4 - FINAL

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2065

Chiara 

O dia amanhece cedo aqui... Parece que o sol chega mais rápido, não sei. 

Detesto esse lugar. Detesto mesmo. Não tenho outra alternativa a não ser ficar aqui. Minha vida depende disso. Bem... o resto de vida que eu tenho, que ainda habita em mim e se recusa a me deixar.

Ontem fiz 84 anos. O bolo foi substituído por uma fatia de melancia, pois Helena, minha cuidadora, acha que 1 colher de açúcar pode me matar. Em outras épocas eu teria feito um escândalo, mas agora precisava manter um bom comportamento, para convencê-la a me levar ao meu passeio de sempre. 

Depois que Helena chegou e serviu meu café, ela sentou-se ao meu lado para ouvir o que eu tinha para falar. Nossa rotina é sempre a mesma: Café, conversa sobre aleatoriedades, banho, almoço, chá das cinco, televisão e dormir.

- Então, dona Chiara, qual o assunto de hoje? 

- Hoje não quero conversar. - Dei uma pausa para recuperar o fôlego. - Quero sair. Preciso vê-la.

Por alguns segundos ela tentou entender de quem estava falando. Como se existisse outra. Como se eu sentisse vontade de visitar alguém além dela.

- A senhora e eu temos um trato, lembra? É uma viagem longa, por conta da sua saúde nós só vamos uma vez por ano. Além disso, nós fomos há três meses. Não vai dar, desculpa...

- Eu preciso ir. - Insisti. 

- A senhora vai ano que vem. 

Respirei fundo.

- Helena, não seja tonta. Você sabe que eu não vou estar viva até lá.

Ela ficou muda por quase 10 minutos. Depois de muito pensar, concordou:

- Está bem, senhora. Nós vamos, mas temos que nos hospedar em algum lugar. Lembra da última vez que fomos e voltamos no mesmo dia? A senhora ficou doente por semanas. 

- Drrramática. 

Ela riu.

- É engraçado como a senhora puxa o "r". - Comentou.

- Um dia Ana me disse a mesma coisa.

***

Cerca de três horas depois, chegamos na cidade. 

- Está tudo bem, senhora? Quer descansar um pouco antes de ir? - Helena perguntou, preocupada. 

- Sim e sim. Enquanto você toma um sorvete, eu compro umas flores, está bem? Vou levar rosas brancas. As preferidas dela.

Depois que comprei as flores, seguimos até o destino. Um misto de sensações me invade o peito quando estou aqui... As lembranças parecem querer me engolir. A saudade, a vontade de beijá-la e abraçá-la, prometendo nunca mais soltar.

Flashback on

Depois que lhe contei tudo o que havia acontecido desde o dia em que a perdi de vista, pedi uma chance para fazê-la feliz. Desse ponto em diante, nada saiu conforme o esperado.

Caro leitor, eu sei que deixei a história pela metade na última vez que comecei a contar, mas agora vou continuar. Você deve estar pensando no que pode ter acontecido depois que nos reencontramos, em 2021. A resposta é simples: Não aconteceu absolutamente nada.

Ana estava casada. 

- Eu não quero magoar você. Estou muito feliz em te ver, mas não posso e não vou te dar falsas esperanças. Eu me casei há 4 anos.

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