piloto

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Queria começar dizendo que minha rotina era agradável, mas estava longe do agradável e mais perto do desesperador.

E lá estava eu, correndo com o meu copo de café na mão -uma cena típica de filme clichê, eu sei - atrasada para a entrevista de emprego.
Essa era a 3ª entrevista que eu estava fazendo no mês, eu estava ansiosa e desesperada para sair do local onde eu passava 80% do dia deitada sem fazer absolutamente nada, era difícil acreditar que eu uma jovem tão nova e recém formada estaria tão desanimada com a profissão que pensou que seria o auge da sua felicidade - peguei o primeiro táxi que parou e entrei desesperada.

- Bom dia! - diz com um sorriso bonito o motorista que parecia ter por volta de seus 32 anos.

Bom dia - Digo com um sorriso amarelo - Meu destino é a Catco.

- Ok, sinta-se à vontade - a verdade é que eu nem ouvi direito oque ele disse, presumi que foi isso.

"Espero que dê certo, espero que de tudo certo" fico repetindo isso várias e várias vezes. Bem, eu tinha o costume de ser muito otimista, as vezes até minha irmã Alex dizia ser irritante o quão otimista eu poderia ser, mas nos últimos 2 anos parece que esse pedaço lindo e irritante de otimismo foi sumindo aos poucos. Meses e mais meses vivendo em um relacionamento que não me fazia bem acabou tirando boa parte do que eu costumava ser.

-Chegamos - ele para e me olha pelo retrovisor - sorrio.

-Muito obrigada, aqui está - lhe entrego o dinheiro e saio do carro.

E lá estava eu em frente a Catco, com meu copo de café intacto de tão nervosa que eu estava e torcendo para que eu encontrasse logo uma lixeira. Eu ajeito minha saia com uma das mãos e vou em direção a entrada, o tempo todo ando de cabeça baixa olhando para meus pés, como se nada existisse em minha frente. Em menos de 2 minutos que eu havia cruzado o hall de entrada esbarro em alguém, no momento que fiz isso senti meu rosto queimar - eu estava vermelha, talvez um vermelho tomate ou um vermelho caqui, não sei dizer, mas sentia que eu poderia morrer ali mesmo de tanta vergonha-.

"Kara, você não poderia começar melhor" penso comigo quando em menos de segundos já olho para a pessoa que esbarrei.

"uau" em meio a tanta confusão ainda consigo reparar na beleza da mulher em que eu havia esbarrado. Uma morena de olhos verdes, com um rosto marcado por seu maxilar, aparentava ser alguns anos mais velha do que eu e que sem seu par de saltos de 10 centímetros era muito pequena, bom, para mim que tenho 1,73. Eu conseguia ver a confusão em seus olhos e foi quando finalmente notei que sua roupa -que provavelmente custava minha casa e minha irmã junto- estava toda manchada de café.

- Me perdoe, sinto muito mesmo, meu deus como sou distraída. - Abro rapidamente minha bolsa, pego um lenço e entrego para a mulher que me olhava sem dizer nada, o olhar dela poderia me matar ali mesmo, não precisava dizer nenhuma palavra sequer. Enquanto ela pega o lenço que eu havia lhe oferecido, me direciono para pegar o copo de café que agora estava vazio no chão e volto a encará-la novamente. Antes mesmo que eu pudesse dizer mais alguma coisa, noto que a mulher já havia se distanciado alguns centímetros e que estava indo em direção a saída, penso em ir atrás dela, mas oque eu diria? Tome aqui outro lenço? " Ah por favor Danvers, tenho sorte de não ser processada por ela". Quando me dou conta minha entrevista deveria começar em menos de 5 minutos.

- Bom dia, meu nome é Kara Danvers e estou aqui para a...

- Senhorita Danvers? -Sou interrompida por uma voz firme, ao me virar vejo Andrea Rojas, uma das novas CEO em parceiria com a Catco. - Sim - Respondo nervosa ajeitando constantemente a pasta de documentos em minhas mãos.

- Me acompanhe por favor.

Andrea segue para o elevador e assim que entramos um silêncio mortal paira.

"Devo falar do clima? acho que não, será que elogio a roupa dela? uau é linda, e ... uau é incrível como o elevador é mais chique que meu apartamento inteiro" Meus pensamentos estavam a mil, eu não conseguia organizar todos e fico pensando em alguma coisa legal para se dizer a ela.

- Chegamos! -Antes mesmo de eu notar Andrea ja está fora do elevador, ela não me espera e a porta quase se fecha, mas de um jeito desastroso consigo sair do elevador e segui-la. - Bom senhorita Danvers, estarei te levando para a sala de Cat Grant, que presumo que já a conhece.

- Sim, ela é uma insp... - Andrea não me deixa terminar de falar.

- Como sou a nova dona do predio e a nova parceira dela da revista Catco, assim que vocês resolverem as coisas, o seu treinamento começa comigo. Não estou dizendo que passou na entrevista. Ainda mais com essa camiseta suja.

"Merda"

Olho para a camisa social vermelha que eu estava usando e percebo que tem uma mancha de café bem redonda, do tamanho de uma jabuticaba.

"como vou esconder isso?"

coloco uma parte do cabelo que estava solto em cima da mancha e a outra parte para trás. Respiro fundo para finalmente criar coragem de abrir a porta para que Cat Grant pudesse me entrevistar.

My last letterOnde histórias criam vida. Descubra agora