Prólogo

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Ethan

Malika e eu éramos um casal destinado a dar certo, mas não foi o que aconteceu. Eu a conheci quando tinha 15 anos e fiquei completamente apaixonado por aquela garota sorridente. Era filha do sócio do meu pai, James, e isso nos fazia passar muito tempo juntos. A amizade virou namoro, que virou casamento um par de anos depois. Foi meu primeiro beijo, minha primeira transa, meu primeiro amor.

Vivíamos o doce sonho das famílias com dinheiro: dois herdeiros que se apaixonaram cedo e se casaram aos 18, com toda a vida pela frente. Toda a preocupação com linhagem, negócios e riqueza parecia esquecida porque fizemos o "certo", sem nenhuma pressão familiar. Nossa vida estava planejada e pronta para começar, nossos lugares garantidos na "realeza" da alta sociedade californiana.

Nosso conto de fadas morreu quando Malika se quebrou.

Um dia ela era a mulher que conheci e por quem me apaixonei, no outro, era como conviver com uma estranha. Ela se transformou ao ingressar em medicina, tentando se provar para colegas e professores. Queria ser a primeira da turma e a que teria o melhor emprego após de formada, com uma residência em um bom hospital.

Eu trabalhava muitas horas por dia ao mesmo tempo que tentava finalizar minha especialização, então pouco via minha esposa que vivia à base de estimulantes. Malika sempre me disse que eu, como homem, nunca entenderia o que ela passava sendo uma mulher negra, tentando ser médica em uma universidade privilegiada e lotada de preconceituosos. Nunca entendi realmente. O ódio subia na minha garganta devido às histórias que ela foi obrigada a viver enquanto crescia, mesmo sendo de uma família rica.

Malika se entupia de remédios para aumentar o rendimento e à noite tomava calmantes para dormir. Ela me dizia que era pelo cansaço e eu acreditava. Não reclamava porque tinha medo de ser mal interpretado e, para ser sincero, tínhamos vidas tão separadas que analisar profundamente as questões da minha esposa poderia abrir outra porta no nosso casamento, em que colocaria em cheque o tempo que passávamos juntos ou a atenção que dávamos um ao outro.

Um dia, eu a encontrei grogue no sofá de casa e ela me confessou que tinha tomado calmantes demais, mas que só havia acontecido naquela vez. Não vou mentir. Como todo adolescente de família rica, tinha acesso fácil a todo tipo de coisa, experimentei drogas e bebi até desmaiar antes de fazer 18 anos. Não achei um grande pecado Malika tentar resolver seu problema com comprimidos, era normal. Não me perdoo por não ter percebido mais cedo.

Isso voltou a acontecer três vezes até eu colocá-la contra a parede e descobrir que não era um jeito de relaxar. Malika Green era uma viciada. Eu era um marido de merda que deixou a esposa se tornar uma drogada porque não reparou. A cada dia, ela se tornava uma casca da mulher que conhecia, e, mesmo assim, não fiz coisa alguma. Tentava racionalizar que era uma fase, que ela sempre fora a pessoa mais controlada e consciente de nós dois e que iria encontrar uma saída. Era como tapar o sol com a peneira e eu acreditava em todo tipo de desculpa que minha esposa dava mesmo notando no fundo do minha mente que algo não estava bem.

Malika começou com estimulantes, calmantes e misturava tudo com bebida e cocaína, descobri depois. Já não ia mais às aulas e esperava eu ir para o trabalho para começar seu "ritual". Isso garantia que na hora que eu chegasse, ela já não estivesse tão alta a ponto de alguém perceber.

Os empregados da casa não falavam nada, só a observavam se autodestruir. Se o próprio marido não se importava, por que eles se importariam? Então, um dia passei em casa para mudar o terno. Algo estúpido como ter derrubado molho em minha camisa e trocar rapidamente para uma reunião depois do almoço. Malika estava fora do ar, jogada em uma posição antinatural no chão do quarto e me deu um sorriso torto quando entrei no cômodo.

Um Amor de Mentiras - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora