Conto IX

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Eu tinha conseguido um emprego num grande escritório de direito corporativo da cidade. Finalmente eu estava realizada num trabalho decente e que me pagava bem. Minha função era basicamente auxiliar outros advogados em seus casos, organizar papeladas e etc. Tudo que uma funcionária recém contratada tem de fazer. Na verdade, eu era uma espécie de “faz tudo”. 

Como nada pode ser perfeito, aquele emprego tinha só um problema: Beatriz, a chefe do escritório. Cabelos castanhos quase negros até os ombros, pele clara e um olhar penetrante. Corpo malhado e definido. Pelo menos é o que eu podia imaginar por baixo daquelas roupas características de escritório, como vestidos colados, saias lápis e camisetas chiques. Ela aparentava ter algo próximo dos trinta anos. Porém, minha chefe era uma pessoa extremamente difícil de conviver.

Beatriz era infinitamente mal humorada. Sempre que aparecia era para reclamar de algo, humilhar um funcionário, despejar longos esporros ou deixar olhares fulminantes de desaprovação. Eu era uma das vítimas preferidas. Acho que por eu ser nova no escritório, ela tentava vigiar meu trabalho e a qualquer sinal de erro eu tinha de lidar com seu jeito extremamente arrogante e exigente.

Exatas três semanas após minha admissão, eu fui escalada para acompanhar Beatriz em um evento no qual estariam representantes de grandes empresas. A ideia era conquistar novos clientes para o escritório representar e eu seria uma espécie de assistente da minha chefe.

Como o evento aconteceria numa cidade vizinha, Beatriz e eu fomos de carro. Ela dirigia, pois era orgulhosa demais para aceitar que a empresa lhe desse um motorista. Ela me ignorou por toda viagem, trocamos no máximo umas quatro frases durante as intermináveis três horas de viagem. Eu podia sentir o quão insignificante ela achava que eu era em suas raras palavras.

Chegamos ao local da convenção e ficamos lá o dia inteiro. Beatriz conversava gentilmente com potenciais clientes. Uma gentileza extremamente forçada, já que ela era um poço de ignorância e mau humor. Posso afirmar tranquilamente que a atuação dela era digna de um Oscar. Eu ficava como uma louca andando atrás dela, anotando coisas e dando sorrisinhos discretos de “oi” e “tchau” para agradar homens engravatados que eu nunca tinha visto.

No fim do dia, nós duas nos dirigimos para um hotel onde passaríamos a noite, pois o evento continuaria na manhã seguinte. Chegando lá, cada uma foi para seu quarto, que ficavam frente a frente. Deixei minhas anotações com ela e finalmente estava aliviada de não precisar estar na presença daquela mulher insuportável pelo menos naquela noite. 

Por volta das nove horas eu recebi uma mensagem. Era Beatriz dizendo “Samantha, preciso que venha aqui agora!”. Meu corpo estremeceu e eu só conseguia pensar “que merda eu fiz agora?”. 

Me dirigi ao quarto em frente, bati na porta e ela abriu pra mim. Beatriz estava coberta apenas por um roupão branco. Com o cabelo preso em um coque alto. Com um olhar afiado ela me mandou entrar e logo disse:

-Eu não acho suas anotações sobre a empresa de seguros!

- Eu… eu acho que não anotei… eu perdi essa parte…

- Como assim “eu acho que não anotei”, Samantha? - ela esbravejou! - Eu só te pago pra uma coisa! Não é possível que você seja tão inútil! - Ela falou a ponto de gritar.

- Me desculpa… eu… eu… - minha voz sumia ao tentar dizer qualquer coisa.

- Sorte sua não ter sido eu a te entrevistar! Nunca teria te contratado! Eu estou a ponto de exigir sua demi...

Naquele momento, minha raiva subiu à cabeça e eu a interrompi dizendo:

- Que merda, Beatriz! Precisa disso tudo? Eu só não anotei aquela porcaria de conversa! Eu posso encontrar aquele cara amanhã e perguntar tudo de novo! Você realmente precisa fazer esse show todo? - Eu e minha boca descontrolada! Me arrependi do que disse no momento seguinte, mas já era tarde! 

Como anda sua siriric@? - Contos lésbicosOnde histórias criam vida. Descubra agora