Capítulo Único

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Era por volta das oito e meia da noite de uma sexta-feira e o ambiente estava completamente silencioso. Devido as regras do condomínio, sons altos eram permitidos somente até as dezenove.

Para Zenitsu, esse era o horário perfeito para se aconchegar no sofá com um grande balde de pipoca e assistir a algum filme de romance, como recompensa por ter trabalhado duro durante o dia. Assim se seguiam suas noites: deitado preguiçosamente, de barriga cheia e com os olhos molhados de emoção.

Muitos homens que conheceu ao longo da vida o considerava afeminado demais por consumir conteúdos "para garotinhas" e se sensibilizar o suficiente ao ponto de derramar lágrimas, mas esse era o traço mais marcante do Agatsuma: se entregar demais aos próprios sentimentos e expressá-los de forma concreta. As vezes se sentia prejudicado, mas conseguia conviver com isso na maioria do tempo.

Se preocupou em não deixar o volume muito alto e, para não ligar o ventilador barulhento na potência mais forte, tirou a camisa para se refrescar, pensando em como seria incomodo para a nova vizinha que dorme e acorda cedo todos os dias para ir à faculdade. Ela deve estar ainda mais cansada, levando em conta que as primeiras semanas de mudança são sempre corridas e cansativas.

Contudo, era perceptível o quanto a garota estava inquieta hoje. Faz alguns minutos que a audição aguçada de Zenitsu tem captado barulhos fora do comum, como batidas pelas paredes e até mesmo pelo chão.

O que no mundo estava acontecendo com Nezuko?

Chegou a se preocupar e, pessimista como era, pensou nas piores situações possíveis.

Talvez algo a desagradou e ela está empacotando todas as suas coisas novamente para trocar de prédio, e espera profundamente que não seja ele o motivo de seu desgosto.

Ou talvez, alguém invadiu seu apartamento e está tentando contra a sua vida. Embora a segurança do condomínio seja excepcional, ainda era possível, não era? Invasores tendem a ser inteligentes e analisar o habitat natural do alvo por dias antes de finalmente agir. Provavelmente perceberam que a garota não tem interagindo com os vizinhos porque está ocupada demais montando a própria casa.

Então, uma dúvida cruel o assolou: deveria se levantar do sofá e, confiante, marchar até a porta ao lado para ajudá-la a se salvar, ou deveria apagar todas as luzes, inclusive a televisão, e ficar quieto para que o criminoso não venha silenciá-lo também?

Seria um covarde se escolhesse a segunda, mas mal conseguia defender a si mesmo, como defenderia outra pessoa ao mesmo tempo? O assassino provavelmente é alguém habilidoso que acabaria com sua vida em menos de dois segundos.

Ainda assim, quando o silêncio iluminou seus pensamentos, assumiu que morreria com honra, então a segunda opção era, definitivamente, inconcebível.

Só então se deu conta.

Silêncio.

Se deixando cair no sofá, ele cobriu a boca com a mão e empalideceu. Não deveria ter hesitado, agora ela estava morta e ele seria lembrado para sempre como o covarde que não ajudou a própria vizinha.

Ele se culparia pela eternidade, mas precisava se salvar.

Trêmulo, se levantou outra vez e caminhou até o interruptor, o desligando. Pausou o filme já na metade e quando se preparava para desligar a TV, a campainha tocou.

Paralisado, ele sentiu um arrepio subindo por sua espinha quando ouviu o tilintar novamente. Já era, o assassino sabia que ele estava ali.

Por que esse tipo de coisa só acontecia com ele? Quando a campainha tocou pela terceira vez, o loiro torceu muito para que fosse tudo uma pegadinha, daquelas que são transmitidas nos canais de TV.

O Que Aconteceu Com Nezuko? | ZenzukoOnde histórias criam vida. Descubra agora