Eu estava sentada na bancada da cozinha enquanto observava meus pais colocarem o bolo no centro da mesa e se sentarem, hoje o meu irmão mais velho estaria comemorando mais um aniversário provavelmente estaria com uma família formada e eles também estariam ali, eu tinha apenas 4 anos quando ele veio no meu quarto se despedir e fez com que eu prometesse que não importasse o que os outros achassem eu iria seguir os meus sonhos, ele saiu de casa naquela noite e um ano depois a polícia bateu na nossa porta para dar a notícia que acabou com a minha família.
Eu sabia que onde quer que ele estivesse, Luke ficaria destruído se visse aquela cena, ele tinha fugido de casa depois de uma briga horrível com a nossa mãe e morreu antes de conseguir consertar as coisas com ela.
-Lena querida, se importa de pegar os pratos?- Minha mãe perguntou enquanto se sentava.
Eu não respondi, apenas desci da bancada e fiz o que ela pediu, mas assim que me virei para colocar os pratos na mesa, vi meu irmão sentado na bancada, quase soltei os pratos quando ele me olhou nos olhos e pareceu surpreso por me ver encarando de volta, meus pais ainda estavam sentados como se nada estivesse acontecendo então eu coloquei os pratos na mesa e me juntei a eles.
Quando terminamos de comer Luke ainda estava lá, me encarando como se eu fosse uma criatura estranha, tudo bem que eu tinha mudado bastante desde os quatro anos, mas não era eu que não devia estar ali, me despedi dos meus pais e peguei minha bolsa e as partituras que tinha deixado ali, a morte dele tinha mexido tanto com os meus pais que quando eu contei que queria seguir o sonho que ele não tinha conseguido realizar, eles resolveram me apoiar.
Antes de ir embora, eu fui para o jardim de casa, me sentei ali e fiquei um tempo em silêncio.
-Eu deveria te desejar feliz aniversário ou isso é maluquice demais?- Perguntei enquanto brincava com o colar que ele tinha me dado no dia que tinha ido embora.
-Você realmente consegue me ver?- Ele perguntou enquanto me olhava parecendo nervoso.
-Vinte e cinco anos e você ainda consegue fazer perguntas óbvias. - Comento enquanto tento não sorrir.
Olho pro lado e vejo ele revirando os olhos, o que de fato me faz sorrir.
-Você pode ter crescido, mas ainda é minha irmãzinha, respeite os mortos Lena. - Ele responde e sorri em seguida.
-Falou Gasparzinho. - Rebati sorrindo. - Devo aceitar que passar as noites em claro compondo me deixou louca como o nosso pai disse que ia acontecer ou isso está realmente acontecendo¿ - Pergunto e aponto para nós dois.
-Você compõe? - Ele perguntou parecendo surpreso.
-Uhum, a terapeuta disse que era um bom jeito de lidar com a dor e eu me sentia perto de você então decidi seguir carreira, nosso pai disse que eu ia enlouquecer de tanto compor, você não respondeu a minha pergunta. - Comento enquanto continuo brincando com o pingente do colar.
-Você não está louca, não sei como consegue me ver, mas não está louca. - Ele responde enquanto olha as folhas no meu colo. -Posso te contar o endereço do lugar onde eu ensaiava com os caras, O Alex e o Reggie estão lá com a humana que também consegue nos ver, quer testar se consegue ver mais dois fantasmas? - Ele pergunta e sorri em seguida.
Não respondo, pego o celular e digito o endereço no aplicativo de gps, me levanto em seguida e o olho pra esperando ele dizer se vem ou não.
-Eu vou na frente pra avisar a Julie sobre você, como você vai chegar lá, o que ela deve procurar¿ - Ele pergunta parecendo ansioso.
-Uma Harvey, é bem difícil não notar. - Respondo enquanto coloco a mochila nas costas.
-Nosso pai deixou a princesinha dele ter uma Harvey?- Luke pergunta chocado.
-Ele reagiu melhor a Harvey do que quando eu disse que ia compor profissionalmente, as coisas mudaram um pouquinho por aqui, vá avisar seus amigos. -Digo enquanto caminho até a minha moto e coloco o capacete, não preciso me virar pra saber que ele tinha sumido.
No atual momento eu realmente estava questionando minha sanidade e me perguntando se eu devia voltar para a terapia, coloquei o celular no suporte, olho uma última vez para a casa dos nossos pais e então subo na moto, dando a partida logo em seguida.
Não demorei a chegar no endereço que ele me indicou e então vi uma garota parada no portão, ela acenou pra mim quando eu estacionei a moto e eu apenas a segui até o que parecia ser um galpão nos fundos da casa.
-Eu fiquei tão nervosa com a animação do Luke que eu acabei esquecendo de me apresentar, sou a Julie, é bom saber que não sou a única que consegue ver eles. - Ela comenta enquanto abre a porta do galpão.
-Imagino que tenha sido bem estranho ver os três assim do nada. - Comento e então encaro os três seres que eu perturbava quando era pequena. - Me chamo Lena e puta merda, temos o Gasparzinho e os tios dele. - Comento ainda chocada.
-Garota? - Alex diz tentando soar ofendido.
-Calma, deixa eu ver se eu adivinho, levando em consideração que vocês ainda estão com as caras de neném que tinham quando fugiram, eu devo imaginar que o Alex passou 25 anos chorando e vocês dois - Aponto pro Luke e pro Reggie.- Passaram os 25 anos olhando ele chorar?- Pergunto encarando os três.
Alex apenas concorda com a cabeça o que faz com que os outros dois olhem pra ele indignados e então a Julie começa a rir.
-Quando eles ainda eram vivos, o Alex levou um não de um carinha babaca, era bonitinho, mas era babaca, eu tive que consolar ele por que os dois ali não souberam reagir, eu tinha 4 anos na época. - Conto pra Julie enquanto ela ri mais ainda.
-Um anjo desde pequena, tomamos muito sorvete naquela noite. - Alex diz parecendo lembrar dos velhos tempos.
-Levei dois anos pra conseguir tomar sorvete de chocolate com menta ou comer um cachorro quente sem lembrar de vocês, vou adivinhar de novo, ninguém sabe por que voltou certo¿- Pergunto enquanto me sento no sofá ao lado do Luke.
-Nope, assim como eu não sei por que eu consigo ver e ouvir eles. -Julie responde e se senta ao lado do Alex.
-Vai ver é destino. -Reggie comenta enquanto olha pra nós. - A Julie canta muito e precisava voltar pra música quando nós aparecemos, vai ver a mini Luke também está com problemas. -Ele diz em seguida.
-Se me chamar assim de novo você é que vai ter problemas Reginald. - Digo e sorrio fofamente pra ele. - E respondendo sua pergunta, não tem como voltar de algo que eu nunca sai, eu comecei a compor depois da morte de vocês e com quinze anos montei minha banda, seguimos carreira juntos até os 21 e aí demos um tempo e focamos na carreira solo.- Comento e dou de ombros em seguida.
-Me perdi, quando anos você tem agora?- Alex perguntou enquanto me olhava de cima a baixo.
-Faço 27 no final do ano, vocês perderam a fase sombria e a chance de afastar os garotos problemas da minha vida. - Respondo e sorrio em seguida.
-Espera eu sei de onde conheço você. -Julie comentou e levantou do sofá, pegou um cd e voltou a se sentar. - Você era a vocalista dos DarthVibe. -Ela diz e em seguida joga o cd pra mim.
Pego o cd e sorrio vendo as assinaturas dos meninos, percebo que a minha estava faltando e tiro uma caneta do bolso, assino o cd e jogo de volta pra ela.
-DarthVibe, sério mini Luke?- Reggie pergunta parecendo indignado.
-O nome foi uma escolha do grupo e essa foi sua última chance, vou ligar pro Steve e mandar ele exorcizar você, gostou?- Pergunto enquanto tiro o celular do bolso.
-Quem é Steve?- Luke pergunta tentando esconder o ciúme.
-Baterista da banda, meu Ex namorado e um exorcista segundo ele. - Respondo sorrindo.
-E você acreditou nele? - Alex perguntou provavelmente duvidando sobre a minha sanidade mental.
-Vocês são fantasmas ou espíritos artísticos, eu prefiro o segundo termo, enfim se vocês existem o cara pode muito bem ser um exorcista. - Respondo enquanto procuro o número do dito cujo.
-Não foi ele que você processou por...- Julie tenta dizer, mas eu a interrompo antes que termine.
-Ih verdade, cancela o exorcismo, vou tacar sal e água benta em você e ver o que acontece. - Falo olhando diretamente pro Reggie.
-Por que você processou o cara?- Luke pergunta olhando diretamente pra mim.
-Ele era um babaca, é tudo que você precisa saber. - Respondo e guardo o celular em seguida. - E não, vocês não podem ir assombrar o cara, agora se quiserem assombrar o babaca do Bobby que mudou de nome e ganhou fama com as músicas de vocês. -Comento sorrindo.
-Já fizemos isso, mas agora temos coisas mais importantes pra focar. - Alex sorriu e olhou pra Julie.
-Uhhh... to sentindo a vibe da banda no ar e vocês nem estão vivos, vou indo. -Me levanto e entrego um cartão pra Julie. - Se precisar de algo é só chamar, as loucas que conseguem ver fantasmas têm que ficar unidas. -Digo em seguida.
Me despeço de todos e não estranho quando o meu irmão me segue até onde eu estacionei a moto.
-Não vai deixar o assunto pra lá né? - Pergunto enquanto coloco o capacete.
-O que o cara te fez?- Ele pergunta sem rodeios.
-Tentou roubar o meu caderno de composições. - Respondo e pego o caderno na mochila em seguida. - Eu escrevi algumas músicas que não funcionavam com a banda, ele tentou pegar pra ele, brigamos feio no dia, ele ganhou uma ordem de restrição e eu ganhei isso aqui. - Mostro a pequena cicatriz na minha clavícula. -Vocês seguem sem permissão pra assombrar ele. -Comento ao ver o Reggie aparecer ao meu lado.
-Se ele não fosse um exorcista eu ignoraria o seu pedido. - Reggie comenta enquanto olha pra moto.
Olho pro Luke e acabo rindo ao ver a cara dele, Reggie realmente não tinha mudado nada, a diferença é que agora ele parecia até fofo com aquele sorrisinho bobo.
-Bom, eu preciso ir antes que as pessoas me internem por falar sozinha, se quiserem me encontrar eu moro no antigo estúdio do Millenium, provavelmente passarei o resto do dia lá.- Comento enquanto coloco a mochila nas costas e subo na moto em seguida.
Não consigo ouvir o que eles dizem quando ligo o motor da moto e apenas dou a partida indo pra casa, aquele com certeza tinha sido um longo dia.
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follow the beat
FanfictionE se Luke não fosse o único Patterson? E se Emily tivesse dois filhos? Acompanhem a história de Elena Anne Patterson e descubra como seria a vida da garota que podia ver fantasmas