Essa história vai ser curta. Tá, talvez não tão curta. Tudo bem, talvez ela dure este verão. E já aviso que se veio aqui procurando final feliz de romance está no lugar errado.
- Aline, sua saia está pegando fogo. – Chamou Verônica.
- Verdade? Que legal... – Respondi sem prestar atenção.
- Aline? Olá? - Para minha tristeza, ela se levantou para bloquear minha visão. – O que você tanto olha?
- Nada... Está calor hoje né? Por que você não vai lá comprar sorvete pra gente? – Sugeri para disfarçar.
Verônica me olhou desconfiada, mas acabou aceitando a proposta. Aproveitei o tempo sozinha para poder observar o garoto do outro lado da praça. Ele não era um tipo que sobressaí no meio das pessoas, era só...comum. Estava sentado em um banco, parecendo desconfortável no meio da rodinha de amigos, encarava as próprias mãos mais do que olhava para os outros. Parece estranho, mas eu tinha a impressão de conhecê-lo de algum lugar. Escola? Biblioteca? Não dá para dizer com certeza porque, sinceramente, se balançar uma árvore caí três garotos iguaizinhos a ele.
- Aqui o seu. – Voltou a Verônica. – Sério, Aline, o que você perdeu daquele lado?
- Já disse, não tem nada. – Respondi e desviei o olhar do garoto, mas não fui rápida o suficiente.
Verônica seguiu meu olhar, deu um sorrisinho e, antes que eu pudesse conter, levantou para ir em direção à rodinha. Continuei sentada, olhando o que ela iria aprontar dessa vez. Juro, tudo o que não tenho de coragem, ela tem em dobro. Ou talvez seja falta de juízo. Ela chegou perto da rodinha, disse algo para o mais bonito deles e apontou para mim. Ele sorriu e acenou para mim. Acenei de volta querendo um buraco para me esconder. Verônica pareceu satisfeita com a interação, porque voltou saltitando para onde eu estava.
- De nada. – Ela chegou dizendo.
- Por? – Perguntei sem entender nada.
- Ué, não era ele que você tava de olho? Então, acabei de nos auto convidar pra rodinha dele. – Ela sorriu.
- Você fez o que?
- Vamos lá, para de ser vergonhosa, Aline. Se não gostar do clima eu invento algo e a gente vai embora. Combinado?
- Você não tem jeito mesmo, Verônica. – Respondi emburrada, mas cedi.
Ela foi saltitando na frente, como se me tivesse feito o maior favor do mundo e deveria ganhar um prêmio por isso. Não sei porque eu estava nervosa, mas estava. Enquanto a caminhada até lá durou no máximo um minuto, no meu mundo pareceu horas.
- Oi, gente. – Falei meio sem graça.
- Então, essa é a Aline, minha amiga. – Falou Verônica. – Aline, pessoal. Pessoal, Aline.
Eles foram se apresentando conforme me cumprimentavam com beijo no rosto, exceto o tal garoto-desconfortável-que-parecia-comum.
- E aí, Miguel, qual é? Cumprimenta a moça do jeito certo. – Chamou atenção Pedro, o bonito-que-Verônica-tinha-conversado. – Foi mal, Aline. Ele é assim mesmo.
- Não tem problema. – Respondi e sorri sem graça para Miguel.
Depois da apresentação, Verônica e o resto da galera começaram um papo de “Como você acha que vai estar sua vida daqui 10 anos?”. Cada um tinha um sonho diferente, alguns queriam estar em outra cidade, outros queriam estar empregados. Durante as respostas, eu aproveitava para reparar em Miguel: Definitivamente mais alto do que eu imaginava, ainda mais comum quando visto de perto e incrivelmente cheiroso.
- E você, Miguel? Como acha que vai estar sua vida daqui 10 anos? – Perguntou Gabriel, ele é o mais falante do grupo, então foi fácil decorar o nome.
- Sei lá, cara. Dez anos é muito tempo, não sei nem se o mundo dura tudo isso. – Miguel disse olhando para o nada. – Só sei que quero viver intensamente cada momento, fazer o que eu tiver vontade sem ninguém pra ficar me enchendo.
- Miguel é cachorro solto, meninas. – Explicou Tomás. – Pai quer ficar on o tempo todo, né?
- Fica na sua, Tomás. – Miguel riu. – Só não achei quem compartilha da mesma visão de mundo que eu, saca?
- Parece a Aline... – Comentou Verônica me cutucando.
- E você, Aline? – Perguntou Alex, o segundo mais bonito do grupo.
- Espero estar com diploma na mão e algumas viagens pra conta, nada de magnífico. – Digo, olhando para Miguel, que “por coincidência”, estava na reta do meu olhar.
- Interessante. – O comentário veio de Miguel.
- Não esquece da gente quando ficar famosa hein, Aline? – Tomás disse brincando.
- Nunca. Mal te conheço e te gosto pacas, Tomás. – Respondi.
Tomás, percebi, estava sendo simpático demais comigo. Talvez fosse um flerte e a lerda aqui não percebeu. O grupo começou outro papo de futuro, o que me deu a deixa para ficar em silêncio e passar despercebida. Não sei quanto tempo ficamos lá, só sei que me sentia cada vez mais tensa por estar perdendo a oportunidade de tentar lembrar de onde conhecia Miguel.
- Então, gente, preciso ir. – Disse me levantando para me despedir do pessoal.
- Já? – Disse Tomás.
- Você vai sozinha? – Perguntou Pedro.
- Moro mais ou menos perto, relaxa. – Respondi.
- É perigoso. – Disse Tomás.
- Já vou indo também, galera. – Disse Miguel.
- Aline, pra que lado que vai? Se pá o Miguel pode te acompanhar, sabe, pra você não ir sozinha. – Sugeriu Alex. Miguel o fuzilou com os olhos.
- Eu vou pra lá...é perto, gente, estou tranquila mesmo. Não preciso de escolta particular. – Respondi.
- Que coincidência, Miguel vai pro mesmo lado... – Disse Pedro
- Pô, Dog, custa nada acompanhar a mina se cê vai pro mesmo lado... – Falou Gabriel.
- Tá bom, tá bom. – Miguel concordou de má vontade.
Depois de vários “tchau”, “bom conhecer você” e “a gente se fala”. Miguel e eu fomos embora. Andamos em silêncio, ele parecia ainda mais desconfortável do que quando estava na rodinha.
- Eu acho que te conheço de algum lugar, só não lembro de onde. – Comentei para tentar quebrar o silêncio.
- Acho que não. Eu me lembraria de você. – Ele respondeu.
- Lembraria? – Perguntei, fazendo a sonsa.
- Sim, tenho memória boa. – Miguel respondeu.
Ouvindo a resposta, desisti de puxar assunto. Sabe quando você está tão atento a cada movimento que consegue ouvir o coração do outro? Era assim que eu estava naquele momento. E parecia que Miguel estava também.
O restante do caminho foi feito em um silêncio desconfortável. Por que aquele garoto me deixava tão nervosa? Ele não tinha nada de especial, não fazia meu tipo e provavelmente me odiava ou, no mínimo, tinha ranço de mim.
- Bom, eu moro nessa rua... Obrigada por me acompanhar, Miguel. – Disse.
- Você tem horário pra ir? – Ele perguntou. – Acho que, sei lá, a gente podia tentar descobrir da onde você me conhece...
- Eu...
- Mas se tiver mesmo que ir está tranquilo, daí tenho uma desculpa pra te ver de novo. – Ele continuou.
Não sei se foi o universo me impedindo de fazer besteira, mas bem naquela hora meu celular tocou. Só olhei o nome do contato e soube que estava encrencada.
- A gente vai ter que remarcar. Eu realmente preciso ir. – Desculpei-me.
- Tudo bem. – Ele sorriu.
- Então...a gente se vê... – Estendi a mão para me despedir. Ele ignorou minha mão estendida e me deu um beijo no rosto.
- A gente se vê. – Miguel sorriu e se afastou.
Devo ter ficado parada no meio da calçada por alguns minutos processando o que tinha acabado de acontecer. E, para piorar, o cheiro dele ficou em mim.
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This Summer
RomanceAlgumas pessoas passam na nossa vida para nos ensinar o que não queremos manter. Foi isso que aconteceu com Miguel e Aline: Ela, tentando a todo tempo adivinhar o que se passava na cabeça dele e corresponder às expectativas. Ele, sendo um caos andan...