Do jeito que ele me deixou, fiquei. Nos dias seguintes revi todas as minhas falas, gestos e até minha intenção tentando encontrar onde foi que errei. Onde foi que deixei de ter responsabilidade afetiva. Onde diabos foi que não impus limite e o deixei alugar um apartamento na minha mente.
Verô: Ali, o pessoal quer se encontrar hj, vms?
Aline: Ah, não...
Verô: Ih, oq aconteceu??? Foi o Tomás?
Aline: Nada. Eu vou. Que horas?
Verô: 20h!!! quer q eu passe ai?
Aline: Tá bom. Vê se não atrasa!!!!
Verô: kkkkkkkkk até parece q n me conheceVerônica chegou 30 minutos depois do combinado, como sempre. Fiz toda uma preparação mental para fingir que nada tinha acontecido em relação a Miguel e nada, quando digo nada é nada mesmo, poderia me afetar. Eu estava pronta para dizer que aquele era o final do que nem mesmo começou.
- Oi, gente. – Acenei para todos na rodinha quando chegamos. Verônica obviamente foi cumprimentar um a um.
- E aí, Ali? – Tomás veio me abraçar e me cumprimentar com beijo no rosto. Para minha surpresa, o braço dele continuou passado sobre meu ombro.
- Como você tá? – Perguntei a Tomás.
- Bem melhor agora né. – Ele respondeu e sorriu.
- Qual é, pai, deixa a mina respirar antes de partir pra cima né. – A “reclamação“ vem de Gabriel. – Desculpa o meu amigo, Aline, ele é afobado desse jeito mesmo.
- Não tem problema... – Respondo, sem graça.
Olho para Verônica tentando pedir socorro, mas ela já está ocupada com Pedro.
- Não falta ninguém? – Alex pergunta.
- Não. – Pedro responde.
- E o Miguel? – Tomás pergunta.
- Diz que tá com uma mina e vai chegar depois. – Gabriel responde.
Não preciso nem dizer que meu sangue ferveu quando escutei isso, né? Eu toda preocupada com a possibilidade de ter, de algum modo, machucado o garoto enquanto ele está com outra e pior, pensando em apresentar para o grupo, o que significa que é algo sério.
O grupo se envolve em uma atualização das novidades, com Verônica e Pedro disputando para ver quem tem a melhor história, Gabriel rindo de tudo, Tomás ainda abraçado comigo e basicamente me olhando “disfarçadamente” a todo momento e Alex tranquilo ouvindo a algazarra. Eu, obviamente, era mais observadora do que participante. Isso até o momento que sinto de longe aquele cheiro.
- Qual é, galera? – Miguel chega desacompanhado, para o meu alívio.
- Qual é, Dog? Tranquilo? – Gabriel é o primeiro a cumprimentá-lo.
O restante da roda faz o mesmo, exceto eu. Limito-me a olhá-lo e reconhecer sua existência no mesmo espaço que eu. Acredito que por pirraça, ele senta ao lado de Tomás, que continua abraçado comigo, para conversar, ignorando minha presença.
- E a garota? – Pergunta Tomás.
- Já foi, meu patrão. Pensa em uma garota bonita e inteligente?! Fiquei tanto tempo só conversando que quase esqueci do objetivo da missão. – Miguel responde.
- Aí que é bom, pai. Tem garota que é tão inteligente que deixa a gente enfeitiçado né. – Tomás me olha de soslaio quando fala.
- Verdade, patrão, verdade. Acho que dessa vez fui fisgado pelo cupido, saca?
- Eu ouvi um amém? – Tomás brinca. – E eu aqui pensando que cê ia morrer sozinho...
- Engraçadinho. Acho que dessa vez vai hein, sem brincadeira. – Miguel comenta mais para si do que para os outros.
Vendo que já não tenho nada a fazer ali, levanto e começo me despedir do pessoal. Quando vou me despedir de Tomás faço questão de que o abraço dure um pouco mais, posso sentir Verônica comemorando atrás de mim.
- Ali, cê vai voltar sozinha de novo? – Tomás pergunta, genuinamente preocupado.
- Sim, ué...
- Eu vou com você. – Miguel se oferece.
- Tudo bem pra você, Ali? – Tomás pergunta ao perceber que ignorei a oferta de Miguel.
- Sério, eu posso ir sozinha... – Respondo já sabendo que não vai adiantar nada.
- Então tá certo. Dog, cê acompanha ela fazendo favor?
- Certo, meu patrão. Fica tranquilo. – Miguel responde.
Ele começa a se despedir de todos, brincando que o dever de guarda-costas chamou, mas não tenho paciência o suficiente para ficar escutando e simplesmente saio andando. Ando rápido, depois começo a correr. Corro até meus pulmões arderem, implorando por ar. Quando finalmente paro, preciso me controlar para não desabar no meio da rua. Sento na calçada como uma tentativa de fazer minhas pernas pararem de tremer.
- Seloco, cachoeira. – Miguel apareceu algum tempo depois. – Você já tentou fazer atletismo?
A pergunta dele fica sem resposta. Encaro o chão a meus pés.
- Olha, Aline, não era pra ser assim, sabe? – Ele senta ao meu lado. – Eu juro, nunca encontrei uma garota igual você...
Meu olhar sai do chão e foca nele. Parece que o encoraja, pois continua falando:
- Senti que a gente podia ter algo, sabe, real.
- Como você sabe o que é algo real se você nem mesmo se conhece? – Rebato.
- Tem razão, eu fui um babaca... – Ele responde.
- Sabe o que é pior?! Eu fico na minha e ainda assim saio como errada. O que diabos eu fiz pra você sumir por duas semanas?
- Nada...
- Então, cara! E depois de duas semanas aparece dizendo que foi “fisgado pelo cupido”? – Faço aspas com a mão. – Não faz sentido na minha cabeça.
- Eu gosto de você, Aline. A garota de hoje foi...uma distração pra eu conseguir te tirar da cabeça. – Miguel tenta explicar.
- Pois vai em frente e preencha todo o seu vazio com as partes dela. Eu não vou mais me sujeitar a esse estresse todo. – Falo e levanto.
Ele levanta também e, apesar de eu estar decidida a colocar um ponto final em tudo isso, hesito por um segundo. Esse segundo de hesitação é tudo o que ele precisa para se aproximar, sussurrando “desculpa” incontáveis vezes, enlaçando-me pela cintura. Meu corpo reage institivamente ao toque dele, não consigo evitar.
- Por favor, só mais uma chance. – Miguel sussurra.
Um arrepio corre pela minha espinha. Meu coração parece sair do corpo. Não consigo raciocinar direito com a boca dele tão perto da minha.
- Miguel... – Começo.
- Por favor, Aline. – Ele sussurra.
- Acabou, Miguel... – Obrigo-me a me afastar dele antes que eu mude de ideia.
- Por favor. – Ele ainda pede uma última vez.
- Não, acho que já vi tudo o que precisava ver.
- Aline... – Ele começa.
- Pode poupar suas palavras, tá? Já me decidi. – Falo.
Miguel desaba na calçada e fica lá enquanto vou embora sem olhar para trás. Rezo para que ele não perceba as lágrimas borrando meu caminho de volta para a casa. Sinto culpa por deixá-lo naquele estado, mas também um pouco de alívio por tirar um peso das costas. É triste o fato de nós terminamos algo antes mesmo de começar.
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This Summer
Lãng mạnAlgumas pessoas passam na nossa vida para nos ensinar o que não queremos manter. Foi isso que aconteceu com Miguel e Aline: Ela, tentando a todo tempo adivinhar o que se passava na cabeça dele e corresponder às expectativas. Ele, sendo um caos andan...