Os salvadores do futuro

Capítulo 1 - A carta

✾ Capítulo 1

Estou totalmente absorta em meus pensamentos sentada em minha escrivaninha quando minha mãe coloca em minha frente um envelope e só de ver seu semblante de felicidade eu nem preciso lê-lo para saber do que se trata. Venho temendo esse momento desde o dia em que completei 18 anos, pessoas como eu já têm o seu destino determinado, todos com o sinal. O sinal que me impede de seguir os meus sonhos próprios. Assim que eu nasci os médicos analisaram meu corpo minuciosamente, assim como fazem com toda criança que acaba de nascer, e aquele com o sinal, 1 em cada 100 crianças, uma mancha em formato de um T, era registrado e colocado no livro dos marcados , para que quando completassem 18 anos fossem convocados para serem os salvadores do futuro. Todos nos adoram como se fossemos deuses, há até templos com nossas fotos, eu sempre achei isso demais. Sim, temos poderes, mas isso não nos fazem deuses, somos tão imperfeitos com todos. Para mim, meus poderes me fazem uma aberração. 

 Sinto que não tenho poder sobre o meu futuro, tudo já foi decidido sem me perguntarem se era isso mesmo que eu queria. Não quero ser uma salvadora do futuro, não quero passar o resto da minha vida salvando pessoas, é admirável, mas eu não sinto que sou uma super heroína que as pessoas devem confiar suas vidas. Sinto vontade de dizer isso à minha mãe, mas de nada adiantaria. Aqueles que se recusaram a aprender sobre seus poderes e como controlá-los, sucumbiram e acabaram ferindo a si próprios. Lembro-me de uma garota chamada Clay, ela tinha o dom do fogo e se recusou a ir ao internato e acabou colocando fogo em sua cama enquanto dormia, no dia seguinte só restaram cinzas de sua cama e provavelmente dela própria, ninguém soube explicar o porque que o resto da casa não ficou em chamas. Não sei se acredito que ela tenha morrido, talvez tudo tenha sido uma farsa para que a mídia não continuasse a seguindo e a julgando por não querer ajudar a todos. Mas eu não quero me arriscar, tenho medo de machucar como pessoas à minha volta. E é, por isso, que não vou recusar esta chamada.

— Não vai abrir? — Perguntou minha mãe me fazendo voltar à realidade.

—Acho melhor eu ler quando o papai chegar do trabalho.

Minha mãe faz um beicinho de tristeza, mas abre um sorriso logo em seguida. — Tudo bem, Mel. —E após ela dizer isso, minha irmãzinha se põe a chorar e logo minha mãe sai do meu quarto para ir pegá-la. Eu me chamo Esmeralda, mas minha mãe me chama de Mel desde quando eu era apenas uma sementinha dentro de sua barriga. Já meu pai sempre me chamou de luz, um apelido que ele diz que me deu por eu sempre iluminar o caminho de todos ao meu redor.

Após a minha mãe sair do quarto envio uma mensagem para minha melhor amiga, Laila, que também tem uma marca, perguntando se ela também recebeu a carta.

Após alguns minutos meu celular toca, Laila odeia escrever mensagens, segundo ela falar é mais produtivo do que escrever, já eu penso o oposto.

Mal atendo e Laila já começa a falar.

—Meu Deus, Esmeralda. Eu estou surtando. Minha carta também chegou. Você pode acreditar que a gente vai juntas para o internato? Não poderia ser mais perfeito. —Diz animadamente. Diferente de mim, Laila aceitou o seu destino, para ela ser uma marcada é uma dádiva que devemos ter orgulho.

—Pelo menos você estará lá comigo. É a única parte boa disso tudo.

—Ah, es. Se anima, vai ser divertido.—Laila é a minha única amiga, pois as pessoas costumam manter a distância de um marcado, parte por que têm medo do que somos capaz de fazer e parte por que acham que a gente somos divindades inalcançáveis. Ambos são uma baboseira, não temos poderes até completarmos 18 anos, então não tem como a gente machucá-los e tampouco somos uma divindade. Mas é por esses motivos que aqueles que carregam uma marca costumam andar apenas como outros marcados.