Peephole

Prólogo

"Olá, meu nome é Kim." – Sorrio gentilmente. – " tenho 23 anos, estou buscando um lugar pra ficar e..."

Não.

"Oi, tudo bem? Queria saber se sua casa ainda esta para alugar.."

De novo, não.

"Oi, amiga, lembra de mim? Sobre aquela casa a venda.."

Não consigo achar um lugar.

Eu tentei e procurei por toda parte, mas nada. Depois de muitas tentativas frustradas de achar um lugar bom para mim e meu cachorro, sento no sofá da sala e suspiro. Minha avó se aproxima com um pouco de chá.

"Oque foi, meu bem? Porque a pressa pra deixar essa velhinha solitária?" – ela diz enquanto coloca a xicara na mesa.

"Vó, você sabe que nunca vou te abandonar! Só quero achar um lugar logo, não quero te incomodar mais..." – comentei enquanto sorria para ela.

"Você me incomodar? Da onde tirou isso? Você é tão doce... eu adoro sua companhia."

"Mas você e o vô fizeram muito por mim... e agora eu quero achar um lugar em que eu e o Bolinha possamos ficar e..." – acaricio o Bolinha, um pequeno filhote de poodle toy, que pulava alegremente de um sofá para o outro, latindo ocasionalmente.

"Ah, eu entendo, minha querida." – disse ela sentando na cadeira de balanço a minha frente com seu chá. – "você quer um lugar para chamar de seu, colocar suas coisas, levar sua vida. Quero que saiba que estamos sempre aqui caso precise."

"Obrigada, vó..." - Não pude deixar de sorrir ao receber tamanho apoio.

Ela e meu avô são minha única família desde que meus pais morreram aos meus 6 anos, e tenho morado com eles desde então. Mas sentia que era hora de abrir minhas asas e voar, sentia que estava pronta. Eu já tinha uma renda e podia me sustentar sozinha, poderia arrumar minha casa como quiser, e sinto que é realmente isso que quero e preciso. Uma coragem e inspiração imensa me invadiram ao receber a aprovação dos meus amados tutores que me cuidaram por tanto tempo.

Mas por algum motivo, não conseguia achar um bom lugar, que me agradassem tanto financeiramente falando, quanto estética, segurança, e outras coisas, sempre algo não estava bom ou não parecia certo. Talvez eu apenas estava exigindo demais e deixando as oportunidades passarem, ou talvez fosse o medo e o nervosismo sobre o desconhecido. Não saberia dizer.

Suspirei mais uma vez, olhando para meu reflexo no liquido ondular da xicara, observando meus cabelos tão ondulares quanto, levemente bagunçados, recaindo sobre meus olhos escuros e curiosos com sua própria imagem.

Será que vou ficar bem?...

Sinto um calor na minha mão, me tirando dos meus pensamentos, vejo que é a mão de minha avó a apertando gentilmente, ergo minha cabeça para ela.

"Olha, porque não se muda para aquele apartamento que te disse? Sei que queria algo mais grandioso, mas pode ser bom ir dar uma olhada nele, além do mais ele não é tão longe daqui de casa e conhecemos a dona do apartamento oque torna tudo bem melhor pra você, oque acha?" – disse ela, sem conseguir disfarçar sua preocupação.

"Bem, se não tem outras opções, eu vou olhar sim." – me rendi a sugestão.

Minha avó assentiu com a cabeça e tomou um gole do seu chá. Eu sabia que ela se preocupava demais comigo, e confesso que até eu fico preocupada comigo mesma as vezes, sou um pouco ingênua demais, e... bem, não posso me deixar abalar.

"tudo bem! Vou ir ver o apartamento agora." – disse com uma empolgação, levantando do sofá, que fez tanto minha vó quanto Bolinha pularem.

"agora? Não vai nem comer o bolo que fiz?" – A ouvi questionar enquanto pegava minha bolsa para sair.

"não se preocupe, vou resolver logo isso e volto!"

"Espere, vou ligar para Alice..."

Estou tentando lembrar... foi isso que me trouxe aqui?... na frente dessa porta?

Sim... essa porta, deve ser essa que ela falou, apartamento numero 56, no 5º andar...

Tento abri-la com a chave que Alice me deu, mas ela não funciona. Não me sinto bem... sinto uma confusão breve.

"Kim?" – me assusto com a voz de Alice que vem logo em seguida atrás de mim.

"Ah, sim?"

"Esta tudo bem?"

"Sim... eu estava..."

"Numero 57, este aqui." – Ela se aproxima da porta logo ao lado. – "me desculpe a demora, estava arrumando as coisas. Vamos dar uma olhada nele agora."

"Certo..."

Eu abro a porta, e me deparo com uma pequena mas adorável sala, com um estilo meio rustico, com seus moveis de madeira, e ao mesmo tempo minimalista. Alice, a proprietária, abre as cortinas de bege suave para revelar a varanda, e automaticamente penso como ficaria agradável em enche-la de vasos de plantas.

Enquanto Alice me apresenta o apartamento, me atentava aos detalhes, tentando comparar na minha mente com o resto que já havia visto. Realmente não era grande coisa mas parecia bom. Também penso em minha avó, e morar longe dela não seria bom... talvez por hora eu devesse aceitar a proposta dela.

"Então, oque acha?" – perguntou Alice sorrindo para mim.

"Eu achei bem fofo."

"Tem uma outra pessoa interessada também, mas se quiser eu o seguro pra você, Kim."

Passeio dentro do apartamento mais uma vez, passando pelos pequenos cômodos, desde a cozinha, a sala, e o corredor que dava a dois quartos e um banheiro. Eu pondero por um momento, eu posso perder essa oportunidade, e ela tem coisas favoráveis...

"Por acaso, é permitido cães?" - perguntei hesitante.

"Sim, animais de porte pequeno são aceitos."

"Bem, considere esse apartamento meu!" - disse decidida, enquanto Alice sorri.

"Estou feliz por isso, Kim, também acho que fez uma ótima escolha."

"Estou animada, quero me mudar logo!"

"Vamos ajeitar as coisas, e eu te ajudo com oque precisar, esta bem? sua avó e eu conversamos... você sabe que oque precisar pode contar comigo..."

"Sim, claro, muito obrigada por tudo, Alice. E eu estou bem." - Antes que ela pudesse continuar eu a interrompi com uma resposta apressada. Ela me olhou um pouco preocupada mas continuamos nossa conversa naturalmente.

Mais tarde pude então conversar com minha avó sobre minha decisão.

Eu sei que tudo vai ficar melhor agora.