Não era um gostar comum

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Eu entrei naquele hospital porque não era capaz de sentir dores, e com isso, eu me sentia triste
A dor era um aviso de perigo, algo de todo ser humano, então eu sempre acabava machucando feio por não ter esse sensor

Eu chamava atenção dos médicos por onde passava, mas da última vez que fui quando era criança, eu realmente me surpreendi
O doutor não foi tão gentil, ou não sei como poderia não ser. Bem, eu meio que não estava sentindo, mas ele mexia na ferida exposta no meu braço e parecia se divertir

"Então você é a garota com analgesia que tanto falam..." Ele afastou as duas partes da ferida com os dedos, no começo ainda sério, mas logo ele deu um grande sorriso "Isso vai ser divertido para nós dois!"

Eu via ele mexendo em mim, o que ele fez? Arrancou minha unha? Isso era preciso? Não acho que fosse preciso.

Ele olhava bem meu rosto e parecia gravar minhas feições com o olhar, mas a cada mexida, eu apenas fazia uma cara mais confusa ainda

No final de tudo ele colocou gesso e um curativo no meu braço e me devolveu para minha mãe, com a promessa de que poderíamos nos ver novamente

Eu olhei para cima e um sorriso surgiu em seu rosto
Eu não sabia bem dizer se era gentil ou diabólico, eu estava começando a entender... Então, eu era como um experimento, eu fui interessante para ele

Mas, nunca mais nos vimos, eu acabei me mudando com minha família para Veneza, onde seria bem difícil vê-lo novamente

Uma década e mais um pouco se passou, eu estava bem comigo e minha condição, eu já tinha me acostumado e entendido que geralmente qualquer coisa que entre em conflito comigo me machucava, então não custava fingir um pouco de dor.
Independente disso, eu gostava de passear nas vagas ruas do lugar, mas nunca pelo horário da noite

Mas a vida estava tão injusta, tão fria e cruel
Como nunca esteve? Provavelmente eu não tinha sentido antes...

Estamos em Veneza, mas nem tudo é lindo como nas fotos. Nem tudo é água, e, próxima à minha casa existe uma igreja.

Desviando do caminho, eu passei totalmente direto do lugar

Um hospital abandonado...

A curiosidade de uma criança me atraiu
Eu apenas olhei o lugar e pensei: "Que tipo de confusão eu posso arranjar aqui? Faz tanto tempo que não sinto uma aflição...!"

Como nos filmes de terror, eu adentrei o lugar

O cheiro era de ferrugem, ferro no ar e ferro na minha boca, um cheiro estranho  e vadio

Passei um tempo no primeiro andar antes de ouvir vozes no segundo

"Você gravou?" A voz mais animada aparecia "Sim, sim, sim, sim, sim! Você é um bom rapaz!"

Subi lá encima, em nenhum momento recuando. Se eu queria sentir algo, a hora era agora, nem que fosse medo! Ou se aquela curiosidade me matasse

"Com licença...?" Subi as escadas para me separar com a cena, de princípio não me liguei, mas então eu percebi "I-isso, é um corpo?"

Primeiramente eu manti o olhar baixo, e dei passos para trás, mas parei e pensei:

"Se eu morrer, o que estarei perdendo?"

O de um deles me agarrou, então eu pude finalmente olhar para cima em desespero, mas nossos olhos se encontraram

"D-doutor?" Perguntei e ele largou meu pulso, me fazendo tropeçar "Doutor Ciocolatta!" Olhei para ele contente "Lembra-se de mim? Sou eu!" Apontei meu rosto "A garotinha que não sentia dor! Sou eu, Lucy!"