capítulo três.

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tua boa companhia
tudo só pra estar aqui
pra sentar e conversar, falar besteira
ter alguém pra confiar a vida inteira.
Nessa Paz Eu Vou - Tiago Iorc

— Cara, você tem certeza?

— Dine, "certeza" nunca foi a minha palavra favorita. Ah, qual é? O que pode dar errado? — Harry diz calmamente, repousando o braço direito no vidro aberto do carro enquanto a mão esquerda permanecia no volante.

— Ele te odiar?

— Bom ponto. Mas ele não vai me odiar, eu sou encantador e charmoso demais para ser odiado.

— Garoto, você não cansa de ser narcisista, não? Eu sou a favor de você viver seu clichê de filme adolescente, mas não venha chorar depois — Dine o encara com uma expressão serena e divertida, mas fala sério.

Harry dirigia até a casa de Zayn e Niall para buscá-los, passariam o final de semana em Brighton. Era uma espécie de tradição dessa época do ano, viajar — um pouco bêbados, não que se orgulhassem — até a casa de praia de Harry, chegar ao entardecer, caminhar até o Brighton Pier e assistir ao pôr do Sol em meio a risadas e cervejas baratas. Era confortável, familiar e muito gostoso. Talvez fosse a coisa favorita dele.

A viagem foi costumeira. Dine no banco da frente, escolhendo as músicas e recebendo reclamações vindas de Zayn, que também implicava com Niall por abrir a janela aberta e deixar o vento bagunçar seu cabelo. Zayn estava de ressaca, o que o deixava mais estressado que o normal, mas também, muito mais divertido. Era engraçado vê-lo irritado com coisas bobas, mas depois de duas cervejas seu humor bêbado tomou conta.

Era um sábado de manhã e todos xingavam Harry por fazê-los levantar tão cedo. Sério, por que eles não podiam sair ao meio-dia como pessoas normais? Na verdade, a resposta é simples. Para Harry, quanto antes saísse de casa, menos ouviria seu pai dizendo o quanto deveria ficar e estudar, ao invés de sair para farrear.

Usou todas as suas forças para que tudo isso ficasse em Londres. Queria ao máximo aproveitar o seu lugar no mundo.

A praia quase vazia, brisa fria, maresia calmante e o som da risada de seus amigos tornava tudo mais especial. Assistir Dine e Niall cambalearem pelo píer, fracos pelas risadas exageradas, esquentava seu coração. Momentos como aquele bem ali, eram seu ponto de paz e silêncio no mundo caótico.

Cansados da viagem, voltaram cedo para a casa de Harry, que era grande e espaçosa. Não que ele falasse sobre, mas o garoto tinha muito dinheiro. Seus amigos aprenderam com o tempo o quanto Harry não gostava do assunto, afinal dinheiro era um dos principais motivos para o afastamento dos pais, mas ainda assim, volta e meia se espantavam com os luxos.

Niall e Zayn estavam acabados e sonolentos. Se recusaram a tomar banho e se jogaram na cama antes de que qualquer um tentasse impedir.

Dine e Harry, que decidiram ficar mais alguns minutos na varanda, observavam a noite cair com latas de cerveja na mão e enrolados em mantas quentes por conta do vento fresco que os atingia, em um silêncio confortável.

— Por que? — Dine indagou, olhando para as árvores e para nada ao mesmo tempo.

— Porquê o quê?

— Por que você não conta. Tipo, de você, pra eles, sabe? — explica, embolando as palavras por conta da bebida.

Harry nunca parou para pensar de verdade sobre aquilo. Ele não sentia a necessidade de contar para seus pais. Já fazia algum tempo desde que percebeu que existem relações que simplesmente não evoluem e parou de tentar maquiar a eles como a família perfeita. Deixou ser como tinha que ser, hostil e distante. Apesar de amá-los e ser grato, por ao menos tê-los, acabaram se tornando apenas uma constante em sua vida.

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⏰ Última atualização: Feb 11, 2022 ⏰

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