Conhecer.

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Estava a chover, muito. Não me lembrava da última vez que choveu assim e eu sem nada para fazer. A casa estava limpa, não estava a dar nada de interessante na televisão e nem música me apetecia ouvir, o que não era normal. Estava apenas no meu telemóvel, a ver as novidades nas redes sociais. Como é que as pessoas se importam tanto com o que os outros pensam? De que é que serve ter uma publicação de algo que mostre que a pessoa está triste, magoada e sozinha se não vai ajudar em nada? Isso não vai fazer com que, por milagre, apareça alguém na vida dessa pessoa e a torne mais alegre e inesquecível. Idiotas, completamente. Aborrecido.

Decidi entrar numa sala de conversas anónimas, daquelas em que conversamos com alguém aleatório e não sabemos como é a pessoa, a sua personalidade, a cor dos seus olhos, o seu cabelo, se é alto/a, simpático/a, arrogante ou sem graça. Mas uma coisa boa, se não gostarmos da conversa podemos simplesmente sair e conectamos com a próxima, assim simples. Não temos de dar explicações.

Interesses? Hum, esta é difícil. Música? Vamos ver o que encontramos, provavelmente estarei aqui a perder o meu tempo, mas pelo menos estou entretida e tempo é o que não me falta.

"Olá."

"Hey." Nem foi difícil afinal.

"Como te chamas?" É suposto eu dizer o meu nome verdadeiro a um desconhecido/a?

"Joana. E tu?" Qual é o pior que pode acontecer? Ele/a deve conhecer umas quantas Joanas.

"Miguel."

"Tens que idade?" Começa a parecer um bocado patético, talvez me deva ir embora.

"30 e tu?" Oh.

"23." Pensei que ele fosse mais novo do que eu.

" És de onde?" Tecnicamente sou de Portugal, mas estou fora do país? Idiota.

"Aveiro. E tu?" Lembrem-me lá porque é que eu vim aqui e estou a contar tudo a esta pessoa que não conheço de lado nenhum?

"Sintra." Oh, pelo menos uma coisa era certa, estávamos longe o suficiente.

"Então, que andas a fazer por aqui?" Pergunta estúpida, eu sei. Provavelmente está a fazer o mesmo que eu.

"Não tinha nada para fazer, decidi ver o que se passava aqui. E tu?" Então já veio aqui umas vezes.

"Bem, também não tinha nada para fazer e decidi vir aqui tentar ter uma conversa decente com um desconhecido. Parece estúpido, agora que penso nisso." Sou assim tão anti-social que não sei ter uma conversa interessante?

"Para já a conversa ainda está decente, mas muitos vêm aqui para fazer precisamente o contrário." Oh. Não, e não ia ficar aqui se essa for a tua ideia amigo.

"Se fores um desses, posso ir-me embora e deixo-te seguir com a tua pesquisa. Não me quero envolver em nada disso." Mais vale ser sincera e deixar o rapaz seguir caminho, certo?

"Estou a achar esta conversa interessante, pelo facto de quereres uma conversa decente." Isso quer dizer que não vai embora?

"Tenho a certeza de que vais encontrar alguém que queira ter algo indecente, contigo." O que é que eu estava para aqui a dizer?

"Que fazes da vida?" Ignorou totalmente o que disse, muito grata.

"Trabalho e tu?"

"Com 23 anos? Pensei que estudasses ainda." É, a vida não é assim tão fácil para todos.

"E tu?" Tentei de novo, visto que não me respondeu da primeira vez.

"Trabalho também. Fazes o quê?" É agora que ele descobre que nem vivo em Portugal? Mas não lhe menti.

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