Capítulo 1

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Eu me lembro do seu último toque

Eu me lembro de muitas coisas

Coisas que não quero lembrar

Elas me fazem sentir mais e mais sua falta

Eu me lembro do dia que você chegou e me raptou inteira.Não, não foi aos poucos. Foi de uma vez. Em um piscar de olhos eu me vi perdida, perdida em teus olhos cor de mel



Era manhã, não tinha nada o que fazer a não ser ler um bom livro, no meu quarto havia tantos, o cheiro pela manhã do café subindo os andares, a brisa lenta e suave a fazer as folhas se esvoaçarem. As manhãs, minha parte favorita do dia, mamãe me chamou e desci aos tropeços a escada, papai já estava sentado na mesa com seu jornal e seu café amargo que tanto amava, ele possuía uma barba rala e cabelos já meios grisalhos, curtos e sedosos, era um homem de aparência respeitosa. Ele nunca foi de ser muito previsível mas sabia exatamente prever os outros cada passo, gesto, som.Se um dia ele errasse, meu pai não seria meu pai. Sendo assim, antes que chegasse a cozinha meu pai já havia pedido mais calma de tanta correria e tropeços. Avistei minha mãe, o avental já meio sujo e seu sorriso cansado de tanto trabalho, terminava então de arrumar a mesa, não disse nada apenas me lançou um olhar carinhosamente triste, sentei-me e comi meu café, era férias, caso contrário, estaria às pressas, minha mãe não teria tempo de olhar e eu estaria a correr para pegar o ônibus escolar.

-Obrigada mãe- Disse baixinho tentando ser gentil

-O quê? - Minha mãe aparentava ter esse rosto cansado há muito tempo, seus cabelos pretos intensos e sua pele clara como contraste, sempre muito magra. Quando eu era pequena não era assim tão fria, tão perdida em pensamentos a ponto de não ouvir um obrigado

-Não é nada- Falei me apressando, eu amo as manhãs, mas de alguma forma a cozinha está perdendo as cores pra mim, adquirindo uma cor fria sendo lá fora quente e caloroso.

Terminado o café de meu pai, ele se levanta deixa o jornal sobre a mesa e a xícara ao lado, vai em direção a porta e pega seu casaco e sem nunca se despedir, abre a porta e sai.Olhei o jornal e algumas linhas traçadas, as palavras cruzadas sempre escrita com uma caligrafia às pressas, ainda assim bonita. Nada fora do comum, apenas mais um tom frio pro meu mundo de cores.Olho as louças sujas, minha mãe tão cabisbaixa, sua aparência tão cansada

-Mãe vai descansar

-Está tudo bem.

-Eu limpo, eu quero. Por favor?- Supliquei algumas vezes a mais até ela tirar o avental, pendurá-lo na porta e sair da cozinha, lavei com cuidado, olhei o quintal. Antes havia flores ali, mas decidimos tirá-las por alguma razão, ainda tem um balanço ali que ninguém sequer rela mais.Um espaço vazio na casa, que já tinha me rendido uma bela foto, uma monocromática.

Subi novamente ao quarto, olhei a casa vizinha que não tinha movimento há um tempo, mas nesta manhã tinha uma mulher, que abre a janela sem jeito e se vira a alguém ao fundo a qual não consigo enxergar, ela solta um sorriso nervoso. Ela, tão bonita, com seus cabelos de fios dourados, sua pele cuidada, seus olhos cor de mel, seus dedos finos e unhas pintadas, vestia um vestido simples vermelho. Tão cheia de cor, mas por quê? Por que seus olhos parecem tão tristes?

Saio da janela, pego minhas partituras e sem me importar começo a tocar, notas suaves que com o tempo adquirem uma tonalidade mais forte,com pesar. Paro, olho a foto de quando era criança em cima da escrivaninha ao lado do pequeno piano. Olho de novo a janela vizinha, agora já sem movimentos, apenas uma janela aberta. Me viro e continuo a tocar, e a tocar, e de novo e de novo.Mas nada se encaixava, me levantei brava, coloquei uma roupa decente que não fosse o pijama, uma blusa simples azul e um jeans, sem camiseta sem casaco como meu pai, está calor. Diferente do começo da manhã que havia a brisa fria.Coloquei meu All Stars e decidi sair. ́ ́Encontre seu ritmo nas pequenas coisas, encontre o seu lar onde seu coração se encaixar, veja as cores na palpitação, toque, apenas toque, os sentimentos, as dores, os desejos. '' Essa frase ecoava na minha cabeça, meu professor de artes não utilizava essa frase apenas ao tocar, pinte, escreva, nossa mente é mais brilhante quando une com o coração, sermos devotos a nossas almas é nossa verdadeira vocação. Eu apenas digo que ele é louco.

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