Os dois lados do fone de ouvido

3.

— Vamos logo, pessoal! Quanto mais cedo a gente sair daqui, menos fila a gente pega!

O coordenador guiava os alunos para dentro do ônibus de turismo, e boa parte deles já havia entrado.

Porém Wilhelm ainda estava para fora, já que seu despertador não tocou e agora ele estava atrasado. Até teve que dar uma daquelas corridinhas vergonhosas para conseguir alcançar o resto dos alunos e não acabar ficando para trás.

Desde o momento que havia colocado os pés na escola naquela manhã, ele estava procurando, com os olhos, por Simon - não o encontrou. Suas esperanças de que o cacheado fosse ao passeio estavam quase zeradas, a última gota seria usada quando subisse no ônibus.

Wilhelm foi o último. Quando acessou o corredor escuro, praticamente todos os assentos já estavam ocupados - com exceção do que ficava ao lado de seu primo, que provavelmente estava guardando o lugar para Wilhelm. Porém o loiro definitivamente não queria se sentar com ele, o que era mais um motivo para estar rezando mentalmente, na última esperança de encontrar os cachos de Simon no meio daquele monte de cabeças com fios lisos.

Começou a avançar pelo corredor lentamente, como se andar mais devagar até seu destino fosse dar tempo para Simon se materializar ali de repente.

Wilhelm não tinha seu número, e o loiro também não fora para a escola na quinta-feira. Simplificando: não houveram meios para comunicação, então ele não fazia a menor ideia se Simon estaria ali ou não. A última notícia que teve a respeito foi um "eu vou pensar", que se fosse dito pela sua mãe, poderia significar um "sim, porém estou fazendo cu doce".

Só que Simon não era sua mãe, e imaginá-lo sendo faria Wilhelm ter um revertério considerando os desejos que sentia pelo cacheado...

Meu Deus, melhor apagar essa imagem da mente.

Fechou os olhos, agitando sua cabeça para tentar afastar a visão de Simon usando as roupas de Kristina. Ter imaginação fértil era um castigo às vezes.

Já na metade do corredor, voltou à realidade, agora praticamente sem esperança alguma de que o encontraria.

Marchou em direção a onde August, seu primo, o aguardava. Estava mirando sua bunda para sentar na cadeira, quando decidiu dar uma última olhada ao redor, numa última mísera expectativa - e então encontrou: cachinhos castanho escuro em um dos últimos assentos do ônibus.

Wilhelm não pôde evitar um sorriso largo de se formar em seus lábios, hesitando instataneamente de se sentar e caminhando até seu objetivo, deixando para trás um August completamente perdido e confuso.

— Oi. — Ele soltou assim que ficou em pé ao lado do assento vazio que acompanhava Simon; que olhava distraído para a janela — Tem alguém sentado aqui?

Ele imediatamente se arrependeu da pergunta que fez, por 2 motivos:

- 1: Óbvia e claramente não tinha ninguém sentado ali;

- 2: Ele foi literalmente o último a subir no ônibus, então se ele não se sentasse ali, ninguém mais iria.

Simon o olhou de cima abaixo com os olhos levemente arregalados e com os lábios separados, como se tivesse acabado de ver um vulto. Mas então, em seguida seus olhos se estreitaram graças ao sorriso que dançou por seu rosto, acompanhado de uma breve risadinha.

— Na verdade, tem sim. Um amigo meu, chamado Rogério. — Simon respondeu com um sorriso travesso — Mas não deixe ele te intimidar só por ser invísivel. Certas coisas não valem a pena serem vistas.

Wilhelm riu e encolheu os ombros, certamente desconcertado. Podia sentir suas bochechas começarem a queimar. Simon riu também e então umedeceu os lábios, gesticulando um "vem" com a cabeça.