Os dois lados do fone de ouvido

4.

Talvez Wilhelm não fosse exatamente como Simon imaginava.

Mas isso não significava que ele era ruim ou chato, e sim apenas... diferente.

Já o aquário municipal; ele sim, era exatamente como Simon imaginava. Depois de todas as vezes que ficou vendo vídeos e fotos na internet, era como se já conhecesse o lugar há tempo.

Só que quando se idealizava ali, ele nunca sequer pensou em incluir Wilhelm na imagem. Ao seu lado. Jogando conversa fora enquanto contava a si curiosidades marinhas que jamais pensaria a respeito - como o fato de uma baleia adulta liberar 1.500 litros de esperma em uma única relação sexual.

De repente, Simon já não sentia tanta falta da praia.

Mas observar Wilhelm falar empolgado sobre um assunto que realmente se interessava (o mar, no caso) - e esse assunto ser algo completamente aleatório e não algo previsível como 'os melhores tipos de vinhos', 'os melhores e mais caros carros do mundo' ou o que fosse que ricos conversassem, o deixava secretamente impressionado e admirado.

Wilhelm estava perdido em seus próprios pensamentos, e Simon estava perdido em Wilhelm.

Porém isso se desmanchou minutos antes do término do passeio, onde eles fariam uma pausa para comer. Eram três da tarde quando o coordenador guiou os alunos até a lanchonete que ficava dentro do aquário, próxima à saída.

Haviam várias mesas espalhadas pelo salão e no canto havia a vitrine, mostrando doces, bolos e salgados. Havia também, ao lado, uma geladeira com refrigerantes e sucos.

Todos correram para o balcão e formaram uma fila, mas Wilhelm e Simon acabaram ficando de fora, pois o cacheado parecia pensativo e não deu mais nenhum passo desde que adentraram o ambiente.

— Você... vai comer alguma coisa? — Wilhelm perguntou, parado ao lado dele.

Simon estava com fome. Assim que o cheiro de café e salgado adentrou suas narinas, seu estômago rugiu necessitado. Aqueles salgados de fato pareciam apetitosos - e caros. Porém, Simon ficou tão empolgado para o passeio, que esqueceu de pegar dinheiro para comer, antes de sair de casa naquela manhã.

Na verdade, já que o colégio oferecia comida todos os dias na hora do intervalo e no almoço, Simon nem pensou na possibilidade de ter que levar ou comprar algo.

— Eu tô sem fome. — E ele mentiu pois, por algum motivo, não estava disposto a admitir que não tinha como comer.

Wilhelm franziu o cenho e analisou o cacheado de cima abaixo.

Eles se conheciam pouco, mas algo na maneira como a voz de Simon soou e em como seu corpo estava encolhido e levemente contorcido, dizia ao loiro que aquilo era mentira.

— Você tem certeza? — Wilhelm pigarreou e insistiu

Simon bufou. Ele já sabia onde aquilo ia chegar.

— Tenho. — Endireitou sua postura e cruzou os braços para parecer decidido, mas aquilo foi mais como uma reação automática do seu corpo à leve dor que começava a sentir em seu estômago.

Wilhelm piscou os olhos repetidamente em poucos segundos, como se tivesse acabado de acordar de um transe, pela mudança de comportamento do outro. De repente, Simon parecia tenso e irritado, o que não fez muito sentido para si. Ficou em silêncio por um momento, pensativo, até que jogou seus fios loiros para trás e os penteou com seus dedos, desviando o olhar do outro.

— Bem, ok. Mas eu acho que vou comprar um café. Você... — Voltou a encarar os olhos do mais baixo, que parecia perdido em pensamentos — pode ir comigo até lá?