,,,,,,,,,,,,

1.4K 148 82
                                    

Nas palavras simples de um homem simples, Mikey estava irritado.

Ou não, irritado era simples demais para descrever como ele se sentia. Talvez o lívido ainda não servisse para descrever como ele se sentia. Puto também não. Não haviam palavras no planeta que pareciam suficientes para descrever aquilo que Mikey sentia.

A forma como seu sangue estava borbulhando dolorosamente sob sua pele, queimando suas veias e aquecendo seus músculos numa preparação silenciosa para violência, como seu coração estava acelerado de forma anormal e praticamente audível, seus olhos frios apesar do calor infernal que percorria seu corpo. O modo como suas gengivas doíam com a necessidade primitiva de cravar seus dentes em alguma coisa, qualquer coisa, em alguém, mas não qualquer alguém. Como seus punhos estavam doloridos e estalando sob seu aperto, deixando meias luas sangrentas nos locais onde suas unhas afundavam em sua própria carne.

Mikey achava que nem mesmo assassino era suficiente para descrever a forma como ele se sentia. 

Irritado, puto, a praticamente um passo de cometer um assassinato.

Vazio.

Em retrospectiva, ele sabia que só podia culpar uma única pessoa pela forma como se sentia e essa pessoa era ele mesmo. Ele sabia, porque ele sabia que poderia se sentir assim, sabia o que viria a seguir, o show de merda, os gritos, o sangue, as vezes tiros, às vezes uma faca ou um pé de cabeça, talvez um taco de baseball, sempre alguns comprimidos coloridos e definitivamente alguns cadáveres.

No pescoço de Takemitchy, havia uma mordida, marcas de dedos, um chupão maldito, decorando a pele pálida, profanando o que antes era puro. Ele não parecia se importar com as adições a sua pele, conversando normalmente com os executivos de Touman tranquilamente, com se nem soubesse que alguém havia deixado marcas tão óbvias em seu corpo.

Mikey queria saber quem foi. Arranque os dentes e então alimente seu aquário de piranha com os dedos, depois corte a língua usando uma daquelas facas cerradas que tornaria tudo ainda mais dolorido. Por fim, cave os olhos com uma colher de chá por já terem visto seu precioso Takemitchy de uma forma que ele nunca havia visto 

Mas, Takemitchy não era realmente seu, era?

Ele não era, não importava o quanto Mikey quisesse, Takemitchy, ou talvez fosse apropriado chamá-lo apenas de Takemichi, não era propriedade de Sano Manjirou, Mikey. 

Era engraçado pensar nisso nesses termos. Sempre o levava de volta para as memórias onde seus amigos, sua família e até alguns inimigos vinham até ele e então gritavam com ele. Gritavam com ele por fazer Takemichi esperar, gritavam com ele por não aceitar o amor de Takemichi mesmo quando era óbvio que ele queria, precisava, disso. Eles gritaram com ele por segurar o coração de Takemichi em mãos e esmagá-lo como se não fosse nada além de lixo, gritavam com ele por nunca deixar aquele coração ir, mesmo que ele nunca o aceitasse.

Gritavam, gritavam e gritavam. E então choravam. Às vezes havia apenas o silêncio, a decepção muda, mas óbvia em olhos brilhantes. Ou, talvez, fossem socos. Socos que ele nunca revidava, porque ele sabia que os merecia. 

Entre Takemichi e Mikey, o monstro estava claro.

Mikey nunca achou que isso era uma declaração errada, embora também não fosse exatamente certa. Eles estavam errados por pensarem que ele era um monstro por não aceitar Takemichi, na verdade, ele era o herói nesse assunto. O monstro viria à tona apenas caso ele aceitasse Takemichi. Uma besta feia e distorcida, um demônio rastejante que sairia do lado mais escuro de sua alma, feito de ciúmes e possessividade, algo que ele nunca deixaria que se aproxima-se de Takemichi, porque Takemichi era luz e aquela besta estava faminta pela claridade nunca vista antes. 

; Doze e meio :Onde histórias criam vida. Descubra agora